América Latina precisa aproveitar oportunidade tripla para enriquecer, diz Goldfajn

Presidente do BID planeja aumentar empréstimos em US$ 20 bilhões para impulsionar região

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Michael Stott
Financial Times

O presidente do maior banco de desenvolvimento da América Latina pediu aos líderes que transformem a economia da região, aproveitando as oportunidades de exportação de energia verde, alimentos e minerais críticos.

Ilan Goldfajn, presidente do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), planeja aumentar os empréstimos em US$ 20 bilhões (cerca de R$ 103,4 bilhões) na próxima década. Ele acredita que isso ajudaria a região a aproveitar a transição para energia limpa e a aproximação da produção do mercado dos EUA, além de responder às demandas das populações para melhorar saúde, educação e infraestrutura digital.

"Este é um ponto de inflexão", disse Goldfajn ao Financial Times em uma entrevista durante uma visita a Londres. "Isso não é apenas uma narrativa, na verdade há uma oportunidade a ser aproveitada... participaremos de tudo o que pudermos fazer em termos de energias renováveis, energia limpa, minerais limpos e coisas assim."

Ilan Goldfajn, presidente do BID, gesticula durante evento em Bruxelas, na Bélgica
Ilan Goldfajn planeja aumentar empréstimos do BID para impulsionar América Latina - Yves Herman - 17.jul.2023 / Reuters

Com dois terços das reservas mundiais de lítio e 38% de seu cobre, a América Latina poderia desempenhar um papel importante no fornecimento dos materiais brutos necessários para a transição para veículos elétricos e energia renovável, acredita Goldfajn.

Atualmente, a China domina o mercado, levantando preocupações entre as nações ocidentais sobre a segurança energética.

A América Latina também ocupa uma posição de destaque nas exportações globais de alimentos, o que a torna potencialmente parte da solução para alguns dos desafios mais urgentes do mundo, disse o presidente do BID. As exportações de grãos foram duramente afetadas pela invasão da Ucrânia pela Rússia.

No entanto, Goldfajn também alertou que os governos da região precisam investir para melhorar a educação, aprimorar a produtividade e garantir um ambiente de investimento estável para lucrar plenamente.

O presidente do BID explicou as medidas que a região deve tomar para aproveitar o seu poder solar e eólico abundante e barato para exportar hidrogênio verde. "Você precisa se organizar, planejar, trazer os recursos, ter o Estado de Direito e regulação", avaliou. O Chile tem sido pioneiro nessa área, com o novo governo de esquerda do Brasil também entusiasmado.

Ex-presidente do Banco Central do Brasil, que também trabalhou no Credit Suisse e dirigiu a divisão do hemisfério ocidental do FMI, Goldfajn afirmou que priorizará resultados em vez de quantias emprestadas.

Falando sobre um projeto hipotético de digitalização de US$ 500 milhões, ele disse: "Você aprova e libera o dinheiro e todos ficam felizes quando você liberou tudo. Mas agora, queremos olhar para: 'Diga-me quanto e depois como você vai medir, como vamos acompanhar?' Essa será nossa medida de eficácia."

Negociações com outros bancos

Goldfajn também defendeu uma maior coordenação com outros bancos multilaterais de desenvolvimento.

O BID assinou uma parceria de quatro anos com o Banco Mundial no final de agosto para colaborar no combate ao desmatamento na Amazônia, ajudar o Caribe a lidar com desastres climáticos e melhorar o acesso à internet para pessoas mais pobres na América Latina.

"O acordo com o Banco Mundial é um avanço", disse Goldfajn. "É o primeiro acordo em que não apenas assinamos uma carta de intenção dizendo 'vamos ser amigos'. Na verdade, temos grupos de trabalho e só assinamos quando eles vieram com planos de ação."

O BID estava discutindo pactos de cooperação semelhantes com o banco de desenvolvimento da América Latina e com o FMI, mas só assinaria acordos quando houvesse um consenso para os resultados, acrescentou.

Polo industrial em Antofagasta, no Chile, tem mina de lítio
Presidente do BID destaca investimentos feitos no Chile na busca por lítio, usado em semicondutores e na fabricação de chips - Ivan Alvarado/Reuters

Goldfajn chegou ao BID em meio a turbulências depois que seu antecessor, o norte-americano Mauricio Claver-Carone, indicado por Trump, foi demitido em setembro do ano passado. Uma investigação externa descobriu que o ex-lobista havia mantido um relacionamento íntimo não divulgado com um subordinado a quem deu dois grandes aumentos salariais. Claver-Carone negou as acusações.

Goldfajn foi eleito presidente em novembro passado com o apoio dos EUA e agiu rapidamente este ano para unir a equipe por trás de uma nova visão para o banco sediado em Washington.

Projeto para vencer triplo desafio

Sua equipe está trabalhando em uma proposta formal para os 48 países integrantes para um aumento de capital para a parte de empréstimos do setor privado do BID. Isso provavelmente será na faixa de US$ 3 bilhões a US$ 5 bilhões, embora Goldfajn não tenha confirmado um valor específico.

Essa proposta será feita na próxima reunião anual do banco em março de 2024, juntamente com uma nova estratégia de sete anos para o BID. A meta é ajudar a América Latina e o Caribe a adotar energia limpa e enfrentar o que Goldfajn chama de triplo desafio da região: governos com pouco dinheiro, populações pressionando por melhores serviços públicos e baixo crescimento da região.

Novas ferramentas financeiras podem ajudar, o que pode incluir empréstimos para nações caribenhas que permitem a suspensão de pagamentos em caso de desastre climático, ou empréstimos verdes pioneiros, como um título soberano do Uruguai de US$ 1,5 bilhão no ano passado. O BID forneceu assistência técnica no projeto, cuja taxa de juros diminui se as metas de redução das emissões de gases de efeito estufa forem alcançadas.

"Todos os países da região têm problemas com as mudanças climáticas", disse Goldfajn. "Portanto, há uma oportunidade aqui para a região aproveitar, ser aqueles que investem em energia limpa, mudam a matriz [energética], exportam parte dela".

Como exemplo, ele cita um empréstimo de US$ 400 milhões do BID feito em junho para ajudar o Chile a usar sua eletricidade renovável barata e abundante para construir uma indústria de exportação de hidrogênio verde. "O hidrogênio verde está em alta porque há muita demanda vinda da Europa", disse Goldfajn. "E esta é uma região que pode produzi-lo de forma mais limpa... Precisamos aproveitar a oportunidade".

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