Descrição de chapéu Folha ESG mudança climática

FMI e Banco Mundial defendem impostos e limitar investimentos para reduzir emissão de carbono

Chefe de políticas orçamentárias diz que medida pode atrair financiamento do setor privado

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Marrakech (Marrocos) | AFP

O FMI (Fundo Monetário Internacional) e o Banco Mundial defenderam nesta quarta-feira (11) medidas para reduzir a emissão de carbono no mundo. A cobrança de impostos e a limitação de investimentos em combustíveis fósseis foram algumas das sugestões feitas por dirigentes na reunião que ocorre em Marrakech, no Marrocos.

O chefe de políticas orçamentárias do FMI (Fundo Monetário Internacional), Vítor Gaspar, defendeu a cobrança de um imposto sobre o carbono, principalmente no caso das empresas que mais emitem, como parte essencial de uma política ambiental eficaz.

Em sua avaliação, a medida precisa ser combinada com regras para evitar que a dívida pública dispare. "A tributação do carbono é, de longe, o instrumento mais eficaz e é um elemento muito importante de um conjunto de políticas que podem ser sustentáveis (para as finanças públicas)", disse o português nesta quarta-feira (11).

"Se as emissões de carbono forem tributadas de forma adequada, a capacidade de obter financiamento do setor privado aumenta significativamente", avaliou Gaspar.

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FMI e Banco Mundial defendem medidas para reduzir emissão de carbono - AFP

O FMI defendeu no relatório sobre política orçamentária (Monitor Fiscal), publicado nesta quarta-feira, que os países precisam ter outros recursos e incentivar o aumento do investimento privado. Caso contrário, a dívida pública, já particularmente elevada em praticamente todo o mundo, poderá aumentar até 45% ou 50% do PIB (Produto Interno Bruto) até 2050.

Se for implementada uma política ambiental que inclua um imposto sobre o carbono, as consequências nas finanças públicas a longo prazo serão significativamente reduzidas, com uma dívida que aumentaria somente até 12%, ou 15%, do PIB no mesmo período. "O que é claramente mais sustentável", avaliou Gaspar.

Mas, para ser plenamente eficaz, o imposto sobre o carbono "deve ser acompanhado de outros instrumentos", como subsídios específicos para ajudar as empresas na transição energética e apoiar as famílias mais vulneráveis, que seriam confrontadas com o aumento dos preços, especialmente da energia.

"Se continuarmos com as políticas atuais, não alcançaremos os objetivos do Acordo de Paris", analisou o chefe de politicas orçamentárias do FMI.

O imposto sobre o carbono está ganhando popularidade: foi implementado em cerca de 50 países, e outros 20 consideram fazê-lo, segundo o relatório.

Ainda assim, o principal desafio é realizar a transição energética e lidar com o aumento do consumo de energia que ocorrerá nos países em desenvolvimento.

Para essas nações, menos responsáveis pelo aumento das emissões de gases de efeito estufa, o mais importante é garantir que seus cidadãos tenham acesso à eletricidade e erradicar a pobreza e as crises alimentares.

"A estratégia climática deve ser compatível não só com o acesso às tecnologias verdes e com a transição energética, mas também com um aumento maciço da produção de energia", afirmou Gaspar.

Outro "desafio" dos governos, segundo Gaspar, são os aumentos das taxas de juros ditados pelos bancos centrais das principais economias para combater a inflação, que aumentam o custo de seus empréstimos nos mercados. A situação compromete a a capacidades de investimento de quem solicitou o financiamento.

Limitação de investimento em combustíveis fósseis

Além do FMI, o Banco Mundial também mostrou preocupação com o momento atual. O presidente da instituição, Ajay Banga, defendeu limitar os investimentos em energias fósseis, dizendo querer "reduzi-los", em um momento que o Banco Mundial visa se expandir para ajudar no combate à mudança climática.

"No ano passado, investimos US$ 170 milhões (R$ 864 milhões na cotação atual) diretamente em energia fóssil, dos US$ 120 bilhões (R$ 610 bilhões) comprometidos pelo banco", disse Banga, ressaltando que o valor foi basicamente em gás natural.

"O mundo desenvolvido usa gás natural todos os dias, e o que estamos tentando fazer é reduzir os investimentos em energia fóssil", explicou.

Banga substituiu David Malpass no cargo em junho. O antecessor foi acusado de ser cético em relação à mudança climática e de não ter empreendido iniciativas suficientes para combater o aquecimento global. O banco é frequentemente criticado por ativistas ambientais por seu apoio contínuo às energias fósseis.

Ajay Banga pediu que haja uma conversa sobre o papel do gás, menos poluente do que o petróleo e o carvão, na transição energética. "Achamos que isso desempenha um papel, mas muito pequeno. O mais importante é como podemos continuar a agir a favor das energias renováveis", avaliou.

O presidente do Banco Mundial defendeu que a instituição seja ainda "maior" para poder responder a desafios como a mudança climática, as pandemias e a pobreza. "Poderíamos alcançar cerca de US$ 150 bilhões (R$ 756 bilhões) em capacidade de financiamento adicional nesta década", declarou.

Segundo cálculos da AIE (Agência Internacional de Energia), serão necessários mais de US$ 2 trilhões (R$ 10,08 trilhões) por ano até 2030 para se cumprir a meta de neutralidade nas emissões de carbono até 2050. No entanto, para esse período, planejou-se destinar apenas US$ 400 bilhões anuais (R$ 2,01 trilhões), de acordo com o FMI.

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