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'Nervoso, mas não aterrorizado': mercado de petróleo ignora conflito em Israel

Investidores descartam comparações com o choque energético dos anos 1970

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Tom Wilson Myles McCormick
Londres e Houston (EUA) | Financial Times

Em outubro de 1973, uma coalizão de estados árabes atacou Israel. Os maiores produtores de petróleo da região responderam com um embargo contra os EUA que quadruplicou os preços do petróleo bruto e remodelou os mercados de energia.

Cinquenta anos depois, Israel está em guerra novamente após um ataque sem precedentes do Hamas, mas o impacto no mercado de petróleo tem sido limitado.

Os preços do petróleo Brent, referência global, subiram 4% nesta segunda-feira (9), o primeiro dia completo de negociação após o início do conflito, antes de recuar ligeiramente para US$ 87,65 nesta terça-feira (10). O valor é muito abaixo dos US$ 97 por barril alcançados no final de setembro.

Explosão em Gaza
Bombardeio em Gaza; mercado de petróleo sofre pouco impacto nos primeiros dias da guerra - 9.out.2023 - Mohammed Abed/AFP

"Eu olho para isso e digo: o mercado está nervoso, mas não está aterrorizado", disse Dan Pickering, chefe da Pickering Energy Partners, consultoria com sede em Houston, nos Estados Unidos. "No momento, está sendo visto como uma crise gerenciável, não uma crise dos anos 1970."

Israel não produz volumes significativos de petróleo, portanto, não há ameaça imediata de que os combates levem a interrupções no fornecimento.

O aumento dos preços nesta segunda (9) refletiu uma reavaliação dos riscos na região, e não preocupações com o fornecimento, disse Henning Gloystein, diretor de energia, clima e recursos da consultoria Eurasia Group.

"O Oriente Médio, nos últimos anos, tem desescalado em termos geopolíticos e isso foi refletido no preço do petróleo", disse, apontando para acordos diplomáticos e comerciais entre países como Israel e os Emirados Árabes Unidos. "Agora, esses eventos do fim de semana realmente trouxeram o Oriente Médio de volta à mente dos investidores".

A guerra do Yom Kippur em 1973 também teve impacto mínimo na infraestrutura do petróleo. No entanto, a Arábia Saudita e seus aliados usaram o apoio militar dos EUA a Israel como pretexto para enfraquecer a influência de Washington no mercado de petróleo, reduzindo a produção e sufocando as exportações.

Desta vez, os países árabes não estão atacando Israel em conjunto e os investidores não esperam que a Arábia Saudita ou outros produtores utilizem as exportações de petróleo como arma em apoio ao Hamas.

As perspectivas para a demanda de petróleo também são muito diferentes. Na década de 1970, o consumo de petróleo bruto estava aumentando e os produtores tinham capacidade adicional limitada. Hoje, embora a demanda esteja em um nível recorde de 103 milhões de barris por dia, o crescimento desacelerou, em parte devido aos esforços para a transição energética.

Após subir rumo a US$ 100 por barril no final de setembro, o petróleo Brent caiu mais de 10% na semana passada, sinalizando que os investidores sentiram que as perspectivas econômicas não justificavam preços tão altos.

O aumento dos últimos meses, em vez de ser impulsionado pela demanda, foi sustentado por cortes na produção pela Arábia Saudita, Rússia e outros membros da aliança Opep+. Esses cortes significam que a capacidade ociosa aumentou para o nível mais alto em anos, fornecendo uma proteção contra interrupções.

A Arábia Saudita sozinha poderia aumentar a produção global em quase 3%, aproximadamente 3 milhões de barris por dia, no caso de haver cortes de fornecimento em outros lugares do mundo.

Mas como o país responderia se o conflito em Israel afetasse o fornecimento de petróleo é incerto. Antes dos ataques do Hamas, os EUA e a Arábia Saudita estavam se aproximando de um amplo acordo diplomático que abrangia assistência nuclear civil e novas garantias de segurança para Riad em troca da normalização das relações com Israel e aumento dos fluxos de petróleo.

Esse tipo de "redefinição diplomática abrangente" agora está em um "lugar precário" após os eventos do fim de semana, disse Helima Croft, chefe de pesquisa de commodities da RBC Capital Markets e ex-analista da CIA.

O fornecimento de petróleo do Oriente Médio pode ser afetado se houver evidências de envolvimento direto do Irã nos ataques ou se o país se envolver ativamente na crise.

Nesse cenário, Washington pode buscar endurecer as sanções ao petróleo iraniano, que os EUA amenizaram no último ano para aliviar a pressão nos mercados de petróleo enquanto aumentavam as restrições às exportações russas em resposta à guerra na Ucrânia.

O Irã exportou 1,5 milhão de barris por dia de petróleo bruto para a China em agosto, a maior quantidade em uma década, segundo dados de rastreamento de navios fornecidos pela Kpler. Mas, dado que a maioria dessas cargas teria sido transportada em navios iranianos ou de frota escura (sem rastreio) e facilitada por bancos iranianos e chineses, a capacidade dos EUA de controlar esses embarques está diminuindo.

"A única maneira para os americanos realmente fazerem isso é parar os navios e isso vai ser complicado", disse Gloystein, da Eurasia Group. "Isso provavelmente envolveria uma escalada do conflito no Oriente Médio pelos EUA e achamos que eles vão tentar evitar isso, a menos que haja uma escalada realmente séria entre Irã e Israel."

Uma área que já foi afetada é a produção de gás natural de Israel, depois que o Ministério de Energia fechou as operações na plataforma Tamar, operada pela Chevron, no Mar Mediterrâneo, por motivos de segurança, nesta segunda.

Israel começou a produzir gás natural a partir de campos offshore em 2004. A plataforma Tamar é a mais próxima de três projetos de gás offshore de Gaza. A produção nos campos de Leviathan e Karish, mais ao norte, está em andamento.

Embora a maior parte do gás de Israel seja consumida internamente, cerca de um terço é exportado por gasoduto para a Jordânia e o Egito.

Qualquer interrupção desses suprimentos poderia ter um efeito cascata nos mercados globais de gás, aumentando a demanda por cargas de gás natural liquefeito para a Jordânia e reduzindo o gás disponível para exportação como GNL do Egito, disse Tom Marzec-Manser, chefe de análise de gás da ICIS.

Os preços de referência do gás europeu subiram acentuadamente, negociando 25% acima do preço de fechamento da última sexta-feira nesta terça-feira (10). "Embora não haja um impacto imediato no fornecimento para a Europa, definitivamente há uma conexão", disse.

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