Descrição de chapéu Folha ESG mudança climática

Petrolífera Exxon compra Pioneer por US$ 59,5 bi e reforça aposta em combustível fóssil

Exxon explora e produz petróleo em 26 blocos no Brasil; empresa vira líder no maior campo do óleo e gás nos EUA

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Rio de Janeiro e São Paulo | Reuters

A petrolífera ExxonMobil anunciou nesta quarta-feira (11) a compra da rival Pioneer Natural Resources, em um acordo avaliado em US$ 59,5 bilhões (R$ 299,8 bilhões) e visto como mais um reforço na aposta da empresa pelo petróleo, mesmo diante dos apelos pela descarbonização da economia.

É a maior aquisição da Exxon desde a compra da Mobil Oil em 1998, por US$ 81 bilhões, e torna a empresa líder na maior bacia petrolífera dos Estados Unidos, o que lhe garante ao menos uma década de produção de baixo custo.

A Exxon é uma das maiores concessionárias de exploração e produção de petróleo no Brasil, com participação em 26 blocos exploratórios e um projeto de produção em desenvolvimento, mas não tem tido resultados favoráveis nos últimos anos.

Máquinas são usadas para perfurar solo na bacia do Permiano, área importante para produção de petróleo e gás nos Estados Unidos
Máquinas são usadas para perfurar solo na bacia do Permiano, área importante para produção de petróleo e gás nos Estados Unidos - Paul Ratje - abr.2023 / AFP

Especialistas do setor de petróleo no país não veem, porém, relação entre a operação e as atividades da empresa no Brasil, embora entendam que o valor envolvido na compra da Pioneer possa reduzir o apetite pela empresa por investimentos de maior risco nos próximos anos.

Por outro lado, o meganegócio lança ainda mais luz para a expansão do setor de óleo e gás justamente no momento em que aumentam as preocupações globais com mudanças climáticas e cresce o apelo pela transição energética.

A Exxon sempre foi refratária a investimentos em energias renováveis, lembra o pesquisador do Ineep (Instituto de Estudos Estratégicos em Petróleo, Gás e Biocombustíveis) Mahatma dos Santos, e a compra da Pioneer só reforça essa estratégia.

Com a operação, destaca o pesquisador do Ineep, a Exxon garante o suprimento de médio prazo não só a seus próprios negócios petroquímicos, mas também ao mercado americano, que busca cada vez mais independência energética.

Especialistas destacam, porém, que todo o setor tem recuado em relação à sua migração às renováveis, principalmente após a guerra na Ucrânia, e hoje defende que o crescimento da demanda deve sustentar o mercado de petróleo relevante pelos próximos 50 anos.

"As energias renováveis não conseguem nem sequer servir de complemento para atender o crescimento de demanda de energia no mundo, quanto mais substituir", diz Werner Roger, sócio-fundador da Trígono Capital, que tem a sustentabilidade como um dos três vértices dos seus princípios de investimentos.

Giovani Loss, sócio das áreas de Infraestrutura e Energia e Transição Energética, do Mattos Filho Advogados, cita como exemplo o caso da Shell, que mudou seus planos e voltou atrás na redução da produção global de óleo e gás iniciada em 2021.

Um segundo movimento observado por Loss é o de empresas que optam por reforçar seu portfólio de óleo e gás, mas buscam alternativas para reduzir o impacto ambiental com a descarbonização das atividades ou o mercado de crédito de carbono, estratégia atribuída também à Exxon.

Por isso, especialistas defendem que os investimentos em petróleo e combustíveis verdes devem andar paralelamente por um bom tempo. "O mundo já teve diversas transições energéticas, e nunca o novo anulou por completo e momentaneamente o anterior", diz Milton Steagall, CEO da Brasil BioFuels.

Loss diz acreditar que o movimento da Exxon não é isolado e espera novas operações de consolidação das grandes petroleiras pelo mundo. "Desde os anos 2000 há uma instabilidade maior na precificação do petróleo, por vários motivos. E agora, com as guerras, isso fica ainda mais evidente", explica.

"Com isso, as petroleiras menores e independentes acabam se enfraquecendo, porque não conseguem se sustentar nos períodos de baixa, e enquanto isso as maiores empresas do setor vão se consolidando", completa.

O especialista lembra que as grandes companhias do setor não dependem de crédito, ao contrário do que ocorre com as petroleiras independentes. E, em um ambiente de diminuição da concessão de crédito para combustíveis fósseis, essas empresas também acabam prejudicadas por essa razão.

Com as expectativas de manutenção dos preços internacionais do barril de petróleo em nível elevado, já que não há perspectivas de resolução nas guerras do leste, a expectativa é que haja outros grandes negócios no setor, com a consolidação das petroleiras maiores.

A Exxon saiu nos últimos dois anos de um período marcado por perdas profundas e dívidas elevadas, cortando custos, vendendo dezenas de ativos e se beneficiando dos altos preços da energia, estimulados pela invasão da Rússia na Ucrânia.

A compra da Pioneer e a liderança na bacia do Permiano, a maior produtora dos Estados Unidos, dão à petroleira flexibilidade para enfrentar a maior volatilidade dos preços do petróleo, já que é um tipo de projeto barato e mais rápido para entrar em operação do que as águas profundas do Brasil, por exemplo.

"As capacidades combinadas de nossas duas empresas proporcionarão uma criação de valor de longo prazo muito superior ao que cada uma delas é capaz de fazer de forma isolada", disse o CEO da Exxon, Darren Woods, em comunicado.

A Exxon obteve lucro recorde de US$ 56 bilhões em 2022, dois anos após as perdas chegarem a US$ 22 bilhões durante a pandemia da Covid-19. A petrolífera guardou parte dos enormes lucros da alta do preço do petróleo, reservando cerca de US$ 30 bilhões em dinheiro para se antecipar a acordos.

"A combinação da ExxonMobil e da Pioneer cria uma empresa de energia diversificada com a maior presença em poços de alto retorno na bacia do Permiano", disse o CEO da Pioneer, Scott Sheffield. A Pioneer tem 9% da produção dessa região e a Exxon, 6%.

A Pioneer foi uma das empresas de petróleo mais bem-sucedidas a emergir da revolução do xisto, que transformou os EUA de um grande importador de petróleo no maior produtor mundial em pouco mais de uma década.

Com informações da Reuters

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