Governo cancela reunião sobre aumento de salário para PF, e policiais falam em indignação

Representantes de servidores dizem que há 'letargia' da União e falam em paralisação em novembro

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Brasília

Entidades de classe que representam os policiais federais criticaram o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em nota divulgada nesta quarta-feira (18) após cancelamento de uma reunião para tratar de reajuste salarial.

O documento assinado por representantes de delegados, peritos, agentes e servidores administrativos da Polícia Federal fala em "indignação com a postura morosa" e "letargia" do governo federal na discussão sobre a reestruturação salarial para os policiais.

Segundo os policiais, caso não haja uma resposta do governo, pode haver uma paralisação em novembro.

A manifestação dos policiais ocorreu após o secretário de Relações do Trabalho do Ministério da Gestão, José Lopez Feijó, cancelar uma reunião prevista para terça (17) sob a justificativa de que o "governo federal ainda não encontrou a solução orçamentária para implementação da reestruturação."

Sede da Polícia Federal, no prédio Multibrasil Corporate, localizado no Setor Comercial Norte, zona central de Brasília
Sede da Polícia Federal, no prédio Multibrasil Corporate, localizado no Setor Comercial Norte, zona central de Brasília - Marcos Oliveira/Agência Senado

Após o cancelamento do encontro, as entidades também decidiram manter um cronograma de mobilização que prevê um ato na frente de todas as unidades da PF no próximo dia 26 de outubro.

Caso não haja uma resposta do governo, há a previsão de uma mobilização em frente ao Ministério da Justiça, em Brasília e paralisação das atividades em 16 de novembro.

"A decisão conjunta se justifica pela letargia do governo federal. Cabe ressaltar que as negociações de reestruturação já estão em andamento há meses no Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI), conforme ofício encaminhado pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública em 15 de junho. Mesmo com toda essa tramitação, o governo federal reincide em postergar uma resposta efetiva à questão", diz trecho da nota.

Ainda no documento, as entidades citam o fato de o governo Lula apontar a segurança pública como prioridade, mas sem, na prática, melhorar as condições dos policiais.

O documento aborda as FICCOs (Força Integrada de Combate ao Crime Organizado), que têm sido usadas pelo ministro Flávio Dino (Justiça e Segurança Pública) como resposta do governo para combater o aumento da criminalidade em estados como Rio de Janeiro e Bahia.

Dino anunciou recentemente a criação de FICCOs em todos os estados do país.

"O governo federal tem dito que a segurança pública é prioridade, entretanto na prática temos carência de equipamentos de proteção, de efetivo para integrar as FICCO, forças integradas fundamentais no combate à violência. Além disso, servidores que colocam a sua integridade física em risco diariamente precisam estar motivados e valorizados", diz a nota.

O presidente da ADPF (Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal), Luciano Leiro, disse à Folha que o cenário não se modifica mesmo com as mudanças de governo. Segundo ele, a desvalorização da carreira com a falta de reajuste diminui a atratividade da carreira e afasta bons profissionais.

"Não vamos ficar parados vendo a PF servir de marketing e não tendo o reconhecimento devido. Os policiais federais e os servidores administrativos da PF merecem respeito", afirmou.

Willy Hauffe, presidente da APCF (Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais), vai na mesma linha e diz que o governo atual, como os anteriores, continua a descumprir o compromisso de reestruturação salarial.

"Nós estamos em estado de mobilização para tornar pública a nossa indignação com essa desvalorização que as carreiras da Polícia Federal vêm sofrendo, além do tratamento diferenciado dado a outras carreiras e não estendido à PF. Novamente, a valorização da segurança pública parece ficar apenas em promessas de campanha, o que não será aceito passivamente", disse ele.

O governo tem enfrentado movimentos também de outras categorias. O sindicato dos funcionários do Banco Central, por exemplo, anunciou há menos de um mês uma nova fase de mobilização para executar uma operação-padrão gerada "pela falta de compromisso do governo em negociar". De acordo com os servidores, o movimento causa atrasos na implementação das próximas etapas do Pix e retrocesso no Drex (o real digital).

Os servidores do BC afirmam que o Ministério da Gestão se negou a propor uma data para apresentar uma contraproposta na mesa de negociação com o sindicato. Os servidores exigem a criação de uma retribuição por produtividade, ensino superior para o cargo de técnico do BC e a alteração do nome do cargo de analista para auditor.

Diferentes categorias também começaram em junho a campanha salarial de 2024. A avaliação das entidades que representam os servidores é que o Judiciário, o Legislativo, além de Ministério Público da União (MPU) e Defensoria Pública da União (DPU), já têm reajustes garantidos em lei de 6% em 2024 e 6% em 2025. Mas que o Executivo federal ainda não tem nem sinalizações do governo.

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