Microsoft já compra mais combustível de aviação sustentável que companhias aéreas

Big tech fechou acordos para a compra de créditos de mais de 166 milhões de litros de SAF

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Ben Elgin
Bloomberg

Algumas das maiores consumidoras de viagens aéreas corporativas do mundo estão investindo em combustível de aviação mais limpo, utilizando um novo sistema de crédito que permite às empresas reivindicar os benefícios ambientais.

A Microsoft fez um dos maiores compromissos. A gigante da tecnologia há muito tempo se comprometeu a se tornar carbono negativa até o final desta década, o que significa que planeja remover mais poluição da atmosfera do que emite.

Para combater as emissões de gases de efeito estufa de suas viagens, a Microsoft fechou dois acordos recentes: em agosto, concordou em trabalhar com a IAG SA, da British Airways, e a Phillips 66 para cofinanciar a compra de quase 19 milhões de litros de combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês), feito a partir de fontes como óleo de cozinha usado e resíduos de alimentos.

Um Boeing 777 cargueiro, da Lufthansa, que opera com SAF, no aeroporto de Frankfurt - Ralph Orlowski - 27.nov.20/Reuters

A big tech fechou um acordo subsequente com a produtora de combustíveis limpos World Energy para comprar créditos para quase 166 milhões de litros de SAF ao longo da próxima década.

Globalmente, o SAF hoje representa cerca de 0,1% de todo o combustível de aviação. Os 16,6 milhões de litros esperados por ano do acordo com a World Energy poderiam colocar a Microsoft à frente da maioria das principais companhias aéreas dos EUA.

Isso equivale ao uso combinado de SAF no ano passado pela American Airlines, Delta Air Lines e Alaska Air Group. A líder dos EUA, United Airlines, consumiu 11 milhões de litros de SAF em 2022 e tem como meta 37,8 milhões de litros neste ano.

"Esperamos que nossa adoção precoce crie um mercado mais robusto no qual veremos uma maior adoção em geral [do SAF]", disse Katie Ross, diretora da estratégia de redução de carbono da Microsoft.

O Google também se juntou a um programa liderado pela American Express Global Business Travel e pela unidade de aviação da Shell. Neste mês, a gigante europeia de entregas DHL Group concordou em comprar créditos para cerca de 681 milhões de litros de SAF ao longo de sete anos.

Agora, mais de 20 empresas, incluindo Morgan Stanley e McKinsey, estão perto de finalizar transações que totalizam 378 milhões de litros de combustível de aviação mais limpo ao longo de cinco anos, por meio de um grupo chamado Sustainable Aviation Buyers Alliance (Saba).

Nesses casos, as empresas não estão adquirindo o combustível de aviação líquido em si. Em vez disso, estão comprando certificados que permitem que elas recebam crédito pela emissão da queima de carbono mais baixo em outro lugar.

Esses certificados, ou créditos, também têm como objetivo incentivar a produção de SAF, fornecendo uma fonte de receita adicional às produtoras e expandindo o número de compradores.

"Essas empresas estão ajudando a impulsionar esse mercado e fazê-lo avançar, mostrando que há demanda do consumidor final", disse Andrew Chen, um dos principais membros do Rocky Mountain Institute, uma organização ambiental sem fins lucrativos que ajuda a administrar a Saba.

Os esforços têm como objetivo resolver um problema que há muito tempo preocupa os ambientalistas. A aviação contribui com cerca de 2,5% das emissões de CO2 causadas pelo homem e causou 4% do aquecimento, incluindo o impacto de fatores como os chamados contrails.

A parcela de poluição por dióxido de carbono do setor poderia aumentar para mais de 20% até 2050 com o crescimento esperado das viagens aéreas e a descarbonização de outras partes da economia por meio de carros elétricos e energia renovável.

O combustível de aviação sustentável custa mais que o dobro para ser produzido em comparação com o combustível de aviação convencional. Ele é produzido apenas em algumas instalações ao redor do mundo.

A maioria das companhias aéreas comerciais se comprometeu a aumentar drasticamente o uso de SAF para 10% até 2030, mas o progresso tem sido lento.

Os novos certificados foram projetados para impulsionar o mercado, cobrindo o custo adicional do combustível mais limpo, ao mesmo tempo em que oferecem aos compradores uma maneira de potencialmente reduzir suas próprias emissões de gases de efeito estufa.

Eles dividem o combustível de aviação mais limpo em dois produtos: o líquido em si, que pode ser vendido de maneiras tradicionais, e o certificado de SAF, que representa os benefícios ambientais associados ao combustível mais limpo.

Outros instrumentos financeiros voltados para as mudanças climáticas têm enfrentado problemas de credibilidade. O mercado de bilhões de dólares para compensações de carbono produziu produtos de baixa qualidade que reduziram a demanda.

O segundo maior projeto do mercado agora enfrenta um perigo crescente de colapso. Enquanto isso, os créditos de energia renovável, estruturados de maneira semelhante aos certificados de SAF, às vezes levaram a contabilidade de carbono falsa.

Ainda é cedo para dizer se os novos programas de créditos de SAF evitarão essas armadilhas, mas há razões iniciais para ser otimista. Para começar, o preço dos certificados de SAF é alto —de US$ 250 a US$ 800 para cada tonelada métrica de dióxido de carbono evitada. Esse é um preço enorme em comparação com as compensações de carbono e os créditos de energia renovável —cujo custo, inferior a US$ 10 por tonelada, ajudou a permitir abusos.

Os defensores do SAF também afirmam que esse mercado é fundamentalmente diferente porque há uma escassez, ao contrário do que aconteceu com os créditos de eletricidade renovável.

"Há muito mais valor nesse tipo de investimento", disse Chen, do Rocky Mountain Institute. Ainda assim, não está claro se empresas suficientes entrarão no mercado para ter um impacto na produção. Construir uma planta de combustível de aviação limpo pode custar cerca de US$ 500 milhões.

"Estamos observando a formação do mercado", disse Bruce Fleming, diretor executivo da Montana Renewables, um dos dois produtores comerciais de SAF nos EUA. "Isso vai levar um tempo".

Um mercado em expansão para certificados de SAF poderia ajudar a impulsionar uma recuperação mais forte nas viagens corporativas, que ainda não se recuperaram completamente desde a pandemia de Covid-19. Algumas empresas reduziram drasticamente os voos de negócios por conta das preocupações climáticas.

No entanto, grupos ambientais apontam que qualquer aumento nas viagens corporativas seria trágico para o clima. A organização europeia sem fins lucrativos Transport & Environment pediu às empresas que reduzam pela metade suas emissões de viagens aéreas até 2025. "O SAF não deve ser uma desculpa para voar mais", disse a oficial de política da T&E, Camille Mutrelle. "Temos que ser muito claros sobre isso".

Embora as regras para o mercado ainda estejam sendo formuladas, os certificados devem se aplicar apenas ao SAF que ainda não está sendo usado para cumprir mandatos legais, como as regras da União Europeia que exigem que as companhias aéreas usem 2% de combustíveis sustentáveis até 2025.

Uma vez emitidos, os certificados podem ser rastreados por um dos seis registros nascentes encarregados de garantir que o mesmo SAF não seja usado por compradores múltiplos.

A venda dos certificados separadamente abre o mercado de SAF para novos compradores além das companhias aéreas típicas. Também permite que as empresas participem se não houver caminhões-tanque cheios de SAF por perto.

"Mover moléculas de baixo carbono por todo lugar em prol da descarbonização simplesmente não faz sentido", disse Gene Gebolys, diretor executivo da World Energy, que também está produzindo o SAF que será reivindicado pela DHL.

Ainda assim, não está claro como as empresas poderão receber crédito por sua compra de certificados de SAF.

O GHG Protocol, o padrão de contabilidade de carbono mais amplamente utilizado no mundo, atualmente não permite que as empresas relatem emissões de viagens mais baixas ao usá-los. E está avaliando evidências para decidir se uma mudança é justificada.

Permitir que as empresas usem certificados de SAF para reduzir suas emissões será fundamental para o crescimento desse mercado, de acordo com Brian Ripsin, gerente de sustentabilidade da Shell Aviation. "Essa é a próxima grande barreira que precisamos superar para obter uma adoção em grande escala".

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