Saiba quais são os argumentos dos EUA contra o Google em julgamento antitruste

Governo acusa empresa de usar contratos bilionários para manter dominância; big tech diz que inovação explica sucesso

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David McCabe Cecilia Kang Steve Lohr
Washington | The New York Times

Desde 12 de setembro, o Departamento de Justiça e um grupo de procuradores-gerais estaduais questionaram mais de 30 testemunhas na tentativa de provar que o Google violou as leis antitruste, em um julgamento de monopólio histórico que pode afetar o poder da indústria de tecnologia.

O governo dos Estados Unidos está encerrando seu lado no caso, preparando o terreno para a big tech apresentar sua defesa a partir desta semana.

No processo, a big tech adotou como principal tática afirmar que a inovação —e não contratos restritivos, apoiados por bilhões de dólares em pagamentos a parceiros do setor— explica seu sucesso como o gigante de busca na internet. Sua vantagem competitiva, diz a empresa, são pessoas brilhantes, trabalhando incansavelmente para melhorar seus produtos

Dois principais pontos surgiram nas acusações do governo: o que o Google fez para manter ilegalmente seus monopólios de busca e publicidade e como essas práticas prejudicaram consumidores e anunciantes. Apresentamos a seguir os principais argumentos.

Logo do Google na sede da empresa em Mountain View, na Califórnia
Logo do Google na sede da empresa em Mountain View, na Califórnia - Noah Berger - 27.jun.2022/AFP

Como o Google manteve sua dominância na busca online

Empresa pagou bilhões de dólares à Apple para eliminar a concorrência

No primeiro dia do julgamento, o Departamento de Justiça afirmou que o Google havia pago à Apple e outras plataformas de tecnologia mais de US$ 10 bilhões por ano para se tornar o mecanismo de busca padrão no iPhone e em outros dispositivos.

Foi talvez a evidência mais importante para apoiar o argumento central do governo —de que o Google violou a lei usando contratos multibilionários para ser o mecanismo de busca padrão em toda a internet, a fim de manter seu monopólio. O valor impressionante dos acordos não havia sido revelado até então e ajudou o Departamento de Justiça a estabelecer o tom para o julgamento.

O valor de US$ 10 bilhões foi muito relevante desde então. O Departamento de Justiça chamou várias testemunhas que afirmaram que os acordos para tornar o Google o buscador padrão tornaram a competição impossível.

Satya Nadella, CEO da Microsoft, disse que tentou persuadir a Apple a mudar sua busca padrão para o Bing quase todos os anos —e falhou. O DuckDuckGo disse que era quase impossível para os consumidores descobrirem seu mecanismo de busca concorrente por causa dos acordos do Google.

O Departamento de Justiça também exibiu documentos internos do Google nos quais os funcionários refletiam sobre o poder desses padrões para manter os concorrentes afastados. A empresa argumentou que qualquer pessoa pode facilmente alterar o buscador padrão no Safari, da Apple, ou em outros navegadores.

Tamanho do Google torna impossível para outros competirem

O Departamento de Justiça também abordou a ideia de que a enorme escala do Google distorce o cenário competitivo, mantendo até mesmo concorrentes bem-sucedidos fora do negócio de mecanismos de busca —o que apenas fortalece o Google.

"Esse ciclo de feedback, essa roda, vem girando há mais de 12 anos", disse Kenneth Dintzer, advogado líder do Departamento de Justiça, em sua declaração de abertura. "E sempre gira a favor do Google."

Nadella, que foi uma das principais testemunhas do governo, chamou a internet de "Google web" e disse que até mesmo sua empresa, a Microsoft, havia falhado em fazer a diferença na dominância da busca do Google.

Em um momento marcante, o juiz Amit Mehta, que preside o caso, perguntou a Sridhar Ramaswamy, ex-executivo do Google que posteriormente fundou um mecanismo de busca concorrente chamado Neeva, por que o Google fazia pagamentos à Apple e outros.

"Os pagamentos tornam o ecossistema excepcionalmente resistente a mudanças", respondeu Ramaswamy.

Como a dominância da busca do Google prejudica as pessoas

O Google impede os consumidores de ter acesso a escolhas.

Os advogados do governo disseram que a dominância do Google na busca resultou em um produto de qualidade inferior entregue aos consumidores.

Em um exemplo, o governo disse que se o Google tivesse que competir mais com outros mecanismos de busca, os consumidores poderiam ter acesso a serviços que respeitassem mais sua privacidade pessoal. Hoje, o Google monitora os usuários para direcioná-los com anúncios que impulsionam seus lucros, disseram os advogados do governo.

Para enfatizar seu ponto de vista, o governo chamou Gabriel Weinberg, CEO do DuckDuckGo, para depor. O DuckDuckGo afirma coletar menos informações dos usuários do que o Google.

Weinberg disse que sua empresa teve dificuldades para levar seu motor de busca na frente aos usuários por causa do controle do Google sobre a configuração padrão de buscadores.

O DuckDuckGo havia buscado acordos com empresas como Apple e Mozilla, fabricante do Firefox, para ser o mecanismo de busca padrão nos modos privados dos navegadores, disse. Mas as empresas tinham contratos com o Google que eram "o elemento-chave que nos impedia de fechar um acordo com eles", disse.

O Google argumentou que está constantemente melhorando seu mecanismo de busca, adicionando recursos para melhorar a experiência dos consumidores.

O Google usa sua dominância na busca para exercer poder sobre publicidade online

O poder do Google na busca permitiu que ele obtivesse influência sobre o mercado de anúncios que são exibidos ao lado dos links que aparecem em resposta à consulta do usuário, disse o governo.

Joshua Lowcock, que era um executivo de uma empresa de compra de anúncios quando depôs, disse do banco das testemunhas que sua empresa havia calculado, durante um período vários anos, a participação do Google nas buscas em mais de 88% e a do Bing em pouco mais de 6%.

Essa dominância tornava os anúncios da busca do Google atrativos para os clientes da empresa e limitava a utilidade dos anúncios do Bing, segundo ele.

Isso permite ao Google aumentar os preços dos anúncios

Durante o depoimento, o Departamento de Justiça questionou os funcionários do Google sobre a possibilidade de inflar os preços dos anúncios de busca, uma vez que os profissionais de marketing têm opções limitadas se quiserem gastar seu dinheiro em outro lugar.

Jeff Hurst, ex-diretor de operações da Expedia, citou a experiência do Vrbo, seu site de aluguel por temporada, como evidência do poder do Google de aumentar os preços sem oferecer mais valor aos anunciantes.

Em 2015, o Vrbo gastou US$ 21 milhões em anúncios de busca do Google, gerando cerca de 500 milhões de visitas online ao Vrbo, disse Hurst no depoimento. Em 2019, o Vrbo estava pagando aproximadamente US$ 290 milhões ao Google por publicidade de busca para um volume de tráfego semelhante ao de quatro anos antes.

"Gastamos muito mais com o Google sem nenhum benefício adicional", disse Hurst.

Um advogado do Google observou que tanto a Expedia quanto o Vrbo cresceram e prosperaram desde 2015, e a Expedia mudou sua estratégia para focar mais na geração de tráfego diretamente dos aplicativos móveis de seus principais negócios, Expedia, Vrbo e Hotels.com.

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