Por que as pessoas dão cada vez menos tchauzinho no Zoom?

Aceno ganhou espaço em reuniões virtuais durante a pandemia, mas os que se despedem foram de 75%, em 2021, para 55% neste ano segundo levantamento

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Matthew Boyle
Bloomberg

Isso acontece no final da maioria das reuniões virtuais —alguém dá um tchauzinho e os colegas fazem o mesmo. O motivo pelo qual ainda fazemos isso, quase quatro anos depois que o home office se tornou comum, é um dos mistérios do ambiente de trabalho moderno.

Para alguns especialistas em comportamento humano e comunicação, o chamado "tchauzinho do Zoom" surgiu devido à nossa necessidade de recriar as conexões sociais que a pandemia rompeu. Para outros, é uma maneira simples de sinalizar que a reunião acabou antes de sair digitalmente.

Alguns acenam apenas por educação, outros gostam disso. Seja qual for o motivo, é um ritual de trabalho remoto tão comum quanto usar calças de moletom com uma camisa adequada ao ambiente de negócios —estilo conhecido como "Zoom mullets".

'Tchauzinho do Zoom' ganhou espaço em reuniões virtuais - Adobe Stock

"Sou uma grande fã do tchauzinho", disse Erica Keswin, estrategista do ambiente de trabalho e escritora. "As pessoas gostam de saber quando algo começa e termina. Esses começos e fins são o que chamo de 'propriedade ritualística principal', e os rituais nos dão uma sensação de pertencimento e conexão."

Ela não está sozinha. Uma pesquisa neste mês da rede Fishbowl descobriu que 55% dos trabalhadores dão tchauzinho. Isso é menos do que os 57% que disseram ter feito isso no ano passado em uma pesquisa da Zoom, e os 75% de 2021.

A queda gradual, que acompanha o recuo da pandemia e o retorno de milhões de trabalhadores aos escritórios, não surpreende Susan Wagner Cook, professora associada do Departamento de Ciências Psicológicas e Cerebrais da Universidade de Iowa e diretora do Laboratório de Comunicação, Cognição e Aprendizagem da faculdade.

"À medida que a necessidade das pessoas por conexão diminui, elas têm menos probabilidade de acenar", disse Cook, que passou anos estudando por que e como os seres humanos usam gestos com as mãos —desde o aceno amigável até o dedo médio hostil— para se comunicar e se conectar.

Cook e outros especialistas, contudo, não preveem que o aceno desapareça completamente. Uma grande razão é algo chamado "ressonância motora" —quando uma pessoa acena, é quase automático acenar de volta.

Vários estudos de psicologia social mostram que somos mais propensos a ser empáticos e cooperativos com pessoas com as quais sincronizamos movimentos, e empatia e trabalho em equipe foram coisas com as quais muitas empresas tiveram dificuldade em incutir durante os dias de isolamento social da Covid-19.

"Em uma chamada de vídeo, as últimas impressões são tão importantes quanto as primeiras impressões, e dar tchauzinho envia um sinal de que os outros podem se sentir seguros em nossa presença", disse Darren Murph, um consultor de trabalho híbrido que agora cuida das comunicações estratégicas da montadora Ford.

A dinâmica das reuniões virtuais em relação às presenciais também desempenha um papel no tchauzinho, de acordo com Jesper Aagaard, professor associado de psicologia e ciências comportamentais da Universidade de Aarhus, na Dinamarca.

Após uma reunião presencial, há um chamado período intersticial em que as pessoas ficam e conversam enquanto saem juntas. Mas as chamadas de vídeo terminam abruptamente, então precisamos nos despedir de uma vez. "Isso, por sua vez, confere um caráter exagerado e caricato ao tchauzinho do Zoom", disse Aagaard.

É a estranheza do aceno que incomoda algumas pessoas, mas ao não acenar, os trabalhadores correm o risco de serem vistos como rudes. "Me incomoda quando eu aceno e as pessoas não acenam de volta", diz Molly Beck, fundadora e CEO da fabricante de software de comunicação empresarial WorkPerfectly. "Eu compararia isso a quando você segura a porta para alguém e eles não agradecem."

Em outras palavras, disse Cook, o custo cultural de ser percebido como mal educado "supera esse sentimento momentâneo de 'eu estou sendo estranho?'"

Alguns trabalhadores são mais restritivos com os tchauzinhos. Cali Williams Yost, estrategista de trabalho híbrido, diz que acena quando faz uma chamada no Zoom com novos contatos, quase como um gesto de "prazer em conhecê-lo". Mas se for o mesmo grupo toda semana, "raramente alguém acena, inclusive eu".

Para outros, é o tipo de aceno que importa. "Recomendo o tchauzinho rápido, como se outro carro estivesse deixando você passar primeiro em um cruzamento movimentado, não o lento, como se você estivesse em um desfile", disse Beck. E enquanto ela acena com uma mão, Beck desliga a videochamada com a outra.

"É um pouco constrangedor, exageradamente brega e não serve para nada além de reconhecer outras pessoas na chamada", escreveu o jornalista Justin Pot em um texto de 2021 sobre acenos do Zoom no site da Zapier, fabricante de software de negócios cujos funcionários frequentemente usam o aceno do Zoom. "Mas é por isso que é ótimo. Ninguém deveria se sentir mal por fazê-lo."

Nem todos concordam, mas os trabalhadores provavelmente não dirão adeus ao tchauzinho do Zoom tão cedo.

"Os humanos se adaptam às mídias, e alguns dos hábitos que evoluíram para lidar com a estranheza das videoconferências persistiram", disse Jeremy Bailenson, diretor fundador do Virtual Human Interaction Lab da Universidade Stanford, que estudou outro fenômeno do trabalho remoto —a fadiga do Zoom, o cansaço sofrido pelas videoconferências o dia todo. "O tchauzinho longo pode ficar por um tempo."

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