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Quanto vale o grupo de jornais The Telegraph?

Grupo de jornais ingleses deve ser colocado à venda ainda neste mês

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Daniel Thomas
Londres | Financial Times

Quando o The Telegraph for formalmente colocado à venda este mês, os interessados em adquirir um dos grupos de mídia mais influentes do Reino Unido terão acesso a informações detalhadas sobre as suas contas. O grupo é responsável pelos jornais The Daily Telegraph e The Sunday Telegraph e a revista The Spectator.

Os potenciais compradores aguardam ansiosamente a abertura de uma sala de dados quando, quatro meses depois de assumir o controle do grupo jornalístico juntamente com a revista Spectator, o Lloyds Banking Group der início ao processo de venda.

Exemplares do The Sunday Telegraph, um dos títulos do grupo Telegraph, que pode ser vendido no Reino Unido
Exemplares do The Sunday Telegraph, um dos títulos do grupo Telegraph, que pode ser vendido no Reino Unido - Hannah McKay - 02.out.2022 / Reuters

Embora o valor do Telegraph vá além da sua capacidade de obter lucro, as partes interessadas utilizarão os seus registros financeiros –que pessoas próximas do banco descreveram como "complicados" após décadas de propriedade da família Barclay– como base para as suas ofertas.

Comparações com títulos rivais e vendas recentes serão a primeira parada para encontrar o ponto de partida do leilão.

O acordo mais recente envolvendo um jornal do Reino Unido ocorreu no último trimestre, com a aquisição da deficitária City AM, que tem uma circulação impressa de 250 mil exemplares por semana, pela THG de Matthew Moulding, por aproximadamente 1,5 milhões de libras (R$ 9,3 milhões).

Mas os analistas acreditam que uma comparação mais apropriada para ter a base de preço em relação às vendas poderia ser o Financial Times, que foi vendido por 844 milhões de libras (cerca de R$ 5,25 bilhões na cotação atual) em 2015, quando a sua circulação era de 737 mil. As vendas chegavam a 334 milhões de libras (R$ 2,08 billhões atualmente) e o lucro operacional ajustado era de 24 milhões de libras (R$ 150 milhões).

A editora japonesa Nikkei pagou quase duas vezes e meia as vendas do Financial Times e 35 vezes o seu rendimento ajustado – e cerca de duas vezes mais do que Jeff Bezos teria gasto na compra do The Washington Post em 2013.

O The New York Times – considerado um negócio superior ao Telegraph dada a força e sofisticação das suas operações digitais e ativos de mídia como o The Athletic – é avaliado em cerca de 2,8 vezes as vendas, segundo analistas da Panmure Gordon.

A Reach, o concorrente britânico mais próximo e dono do Mirror e de uma série de veículos regionais, é avaliada em cerca de 0,4 vezes as vendas, mas não estabeleceu o tipo de modelo de assinatura digital que sustenta o Telegraph.

Estes são alguns dos parâmetros para o Telegraph, de acordo com Johnathan Barrett, da Panmure Gordon, que sugere que um preço sensato seria cerca de duas vezes as receitas declaradas em 254 milhões de libras (R$ 1,6 bilhão) no seu último balanço.

Isto significa que os jornais Telegraph poderiam arrecadar mais de 500 milhões de libras (R$ 3,1 bilhões) – um número apoiado pela aplicação de múltiplos realistas aos seus ganhos de 2022 antes de juros, impostos, depreciação e amortização de 46 milhões de libras.

Considerando o valor nominal, um preço de venda superior a 500 milhões de libras significaria um múltiplo de cerca de 11 vezes ou mais, próximo ao valor de algumas empresas de mídias da Europa.

O grupo de pesquisa de mídia Enders Analysis sugeriu que, em um intervalo de 8 a 10 vezes o Ebitda projetado para 2023 de 60 milhões de libras (R$ 373,6 milhões), o grupo poderia alcançar entre 480 milhões de libras e 600 milhões de libras. No entanto, afirmou que não só "o volume de licitantes qualificados, mas também a sua natureza, determinará o valor".

Sendo os números do Ebitda do Telegraph Media Group "itens pré-excepcionais", de acordo com o seu balanço financeiro, alguns analistas e licitantes questionam a robustez das suas contas em comparação com as das empresas públicas.

Mesmo assim, Ian Whittaker, um analista de mídia independente, disse que "não há nada nas finanças de 2022 que possa sugerir um grande desvio" de uma faixa de preço de 450 milhões de libras a 600 milhões de libras.

"A TMG está bem. (Ter) 51% das receitas provenientes de assinaturas são muito boas, reduzindo a dependência da publicidade", acrescentou. "TMG é uma marca confiável com uma base de clientes mais velha, porém mais rica."

Grupo diz ter 1 milhão de assinantes

No entanto, os investidores e os seus consultores examinarão de perto os números de assinatura do Telegraph.

O grupo alardeou recentemente que ultrapassou 1 milhão de assinantes, com base nos 975 mil reportados para o final de junho de 2023. Mas estes números foram inflados no ano passado pela aquisição da Chelsea Magazine Company, que inclui marcas como Classic Boat.

Fachada do Lloyds Banking Group, em Londres
Fachada do Lloyds Banking Group, em Londres - Reuters

Nos resultados do primeiro semestre, o grupo disse que mais de 207 mil assinantes foram adicionados através da aquisição de revistas da CMC ou através das seções de vinhos e quebra-cabeças do Telegraph, que podem ser acessadas como produtos independentes.

Ele também disse que o número total inclui 118.215 assinaturas digitais bônus, que os clientes podem oferecer a amigos ou familiares sem nenhum custo, e 62.330 assinaturas digitais em uma avaliação gratuita.

Deve haver algumas respostas para perguntas sobre o valor de longo prazo dos assinantes do Telegraph assim que a venda começar este mês. No entanto, as propostas pelo jornal também refletirão outros fatores não abordados nas planilhas.

Em primeiro lugar, os proponentes terão de incorporar o crescimento futuro esperado do jornal, com vários esperando uma combinação do aumento das assinaturas digitais com uma expansão em países como os EUA, onde os títulos de direita encontraram grandes audiências.

Esses objetivos, juntamente com uma avaliação sóbria das finanças, ditarão o nível de interesse de grupos como o rival britânico DMGT, a editora alemã Axel Springer, os consórcios liderados por Paul Marshall e William Lewis, o bilionário tcheco Daniel Kretínsky e o grupo de jornais National World.

Existem outros interessados para os quais as finanças básicas do grupo serão menos importantes, incluindo a família Barclay, que ofereceu mais de 600 milhões de libras para recuperar o controle do Telegraph.

Isto pareceria atraente com base nos múltiplos atuais, mas pessoas próximas ao Lloyds dizem que não é diretamente comparável a lances em leilões, pois inclui dinheiro que pagaria parte da dívida de mais de 1 bilhão de libras (R$ 6,23 bilhões) que a família deve ao banco.

Espera-se também que a revista Spectator alcance um preço elevado, em parte devido ao seu alcance político, e não aos resultados financeiros. O título gerou receita de 20,8 milhões de libras em 2022, um aumento de 2,5% em relação ao ano anterior, e um Ebitda de 4,8 milhões de libras. Mas uma pessoa próxima ao processo disse que a revista poderia arrecadar cerca de 70 milhões de libras a 80 milhões de libras, o que seria um múltiplo alto.

Grupo de Murdoch e investidores árabes na disputa

Há a expectativa que o News UK de Rupert Murdoch tente adquirir a Spectator, já que demonstrou interesse em comprar a revista anteriormente, de acordo com Claire Enders da Enders Analysis.

Este tipo de interesse reflete um segundo grupo de investidores para quem os resultados financeiros são secundários em relação à oportunidade de possuir um jornal influente e uma voz importante para o Reino Unido conservador.

Para esses compradores, disse Barrett, "todo o conceito de avaliações sai pela janela. Logicamente você não vai querer pagar mais do que 10 a 12 vezes o Ebitda, mas algumas pessoas verão isso como um troféu."

Rupert Murdoch sorri ao deixar sua casa em Londres
Criado por Rupert Murdoch, o News UK é esperado para ser um dos interessados na aquisição do Telegraph - Stefan Wermuth - 04.mar.2016 / Reuters

Os potenciais licitantes do grupo estão negociando com investidores do Qatar, Emirados Árabes e Arábia Saudita para apoiarem suas ofertas.

Várias pessoas próximas dos proponentes esperam que haja um limite para a quantidade de dinheiro do Oriente Médio que será considerada aceitável em qualquer acordo - em parte devido à opinião de que o governo do Reino Unido não irá querer um importante jornal nacional seja controlado majoritariamente por bilionários da região árabe.

Estas pessoas sugeriram que 20% a 25% seria tolerado pelo governo britânico, mas admitiram que isto poderia impor um limite máximo ao preço do leilão.

O Lloyds, por sua vez, quer um processo que seja o mais rápido e indolor possível, com qualquer oferta que possa desencadear sérias preocupações de concorrência ou arriscar um bloqueio de Downing Street com menor probabilidade de vitória.

"Certeza e capacidade de entrega são fundamentais para cada licitação", disse uma pessoa próxima ao processo. "Não é apenas preço."

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