Tecnologia e instituições sem agências transformaram sistema bancário, diz Roberto Setubal

Presidente do conselho do Itaú reconhece que banco demorou a entender impactos tecnológicos na operação

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São Paulo

Ex-CEO do Itaú e atualmente presidente do conselho de administração do banco, Roberto Setubal afirmou nesta sexta-feira (27) que a tecnologia e os bancos sem agências tiveram papel de destaque na transformação do sistema financeiro brasileiro.

Segundo Setubal, smartphones e o processamento em nuvem trouxeram evoluções que derrubaram duas grandes vantagens competitivas dos grandes bancos.

A primeira delas, segundo o executivo do Itaú, é a perda de força dos postos de atendimento, que constituíam uma estrutura consistente e acabavam servindo como barreira para entrada de concorrentes. A segunda é a mudança na concessão de crédito, com cruzamento cada vez mais intensivo de dados.

Roberto Setubal, presidente do conselho de administração do Itaú Unibanco
Roberto Setubal, presidente do conselho de administração do Itaú Unibanco - Evandro Macedo/Lide

"Há vários bancos hoje que não têm nenhuma agência e estão com um volume de negócios muito significativo e presença em mercado bastante destacada", afirmou Setubal, durante o seminário Governança Corporativa, organizado pelo Grupo de Lideranças Empresariais, Lide, em São Paulo.

O executivo citou um exemplo dessa transformação: "Obviamente, o Nubank é o mais importante deles e ele não tem nenhuma agência".

Além disso, Setubal destacou que, antes, as instituições financeiras precisavam conhecer com profundidade o perfil dos seus clientes por meio de um contato interpessoal para então conceder crédito, e por isso tinham dados de pessoas físicas que os concorrentes não possuíam.

Hoje, contudo, o processamento de um volume alto de dados da população e difundidos dentro do sistema financeiro derrubou essa segunda grande vantagem dos maiores bancos do país.

"É uma mudança gigantesca", disse o executivo do Itaú. "Esse é um processo que a gente demorou um pouco para entender o que estava acontecendo, por que estava acontecendo, qual era a origem disso. Demorou um pouco para entender que a tecnologia tinha esse impacto".

Setubal, então, lembrou a reação inicial do banco a todas as mudanças tecnológicas que estavam surgindo. Segundo o executivo, o Itaú demorou cerca de 50 anos para construir uma estrutura enorme de sistema, e modificar isso se impôs como algo complexo.

"Tem uma arrogância, uma tendência de se dizer: 'isso aqui não vai dar certo. Isso aqui é uma loucura'. É uma tendência inevitável, porque aquilo é contra tudo o que ele construiu, que acreditou e ele teve sucesso naquele modelo. Então, a tendência inicial é desprezar um pouco e acreditar que aquilo não vai voar".

Após essa resistência do início, hoje o Itaú entende que a tecnologia alterou o modelo de negócio no setor financeiro e modificou o cenário competitivo. "Quem não souber se adaptar, acaba ficando para trás", afirmou. "Torna-se imperativo ter a mesma tecnologia [da concorrência]".

Setubal contou que o banco hoje faz cerca de 3 mil a 4 mil atualizações em seus sistemas por mês.

Nesta nova realidade do banco e do sistema financeiro no Brasil, como presidente do conselho de administração, Setubal disse que seu papel é o de trazer perguntas que provoquem os executivos a pensar diferente. "Em um banco como o Itaú é difícil mudar a cabeça das pessoas", relatou.

Ex-CEO do Itaú, Setubal disse que, logo que assumiu o conselho do banco, tinha que resistir à vontade de interferir na operação, algo que, segundo ele, não compete ao conselho de administração da empresa. "Tentação era enorme de colocar a mão lá dentro", lembra.

EXPECTATIVA DE PIB FRACO FICOU PARA TRÁS

Após o evento, Setubal falou com jornalistas sobre a atividade econômica no Brasil e no mundo.

"Havia uma grande preocupação de recessão, principalmente nos Estados Unidos, e de uma certa forma no mundo. E mesmo no Brasil [havia projeção] de uma queda grande para este ano no PIB [Produto Interno Bruto] e no ano que vem de PIB fraco. E acho que essas expectativas ficaram para trás", afirmou.

Segundo o executivo do Itaú, a economia do país e os dados no exterior estão melhores do que se imaginava no início do ano. "Acho que recessão nos EUA está praticamente fora da mesa. E no Brasil já tem perspectiva de PIB para este ano e para o ano que vem muito melhores do que havia um tempo atrás".

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