Descrição de chapéu Financial Times mercado de trabalho

Será que o segredo para a felicidade dos funcionários é não trabalhar?

Empresas que lançaram dias de bem-estar durante lockdowns continuaram oferecendo o benefício

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Emma Jacobs
Financial Times

No primeiro lockdown, os funcionários da LID, uma editora de livros de negócios, receberam uma solução simples para combater o estresse —um dia de folga extra.

Nos "dias de bem-estar" designados, os funcionários foram convidados a se afastar de seus notebooks e "passar algum tempo fazendo algo que melhore seu bem-estar pessoal", diz o diretor de operações Martin Liu.

O benefício foi tão bem recebido que foi estendido além dos lockdowns. Agora, no início de cada ano, são anunciados seis dias de bem-estar, geralmente durante os meses em que não há feriado nacional, para dar aos funcionários uma pausa da intensidade do trabalho, diz Liu. "Normalmente estamos muito ocupados."

Empresas que lançaram dias de bem-estar durante os lockdowns continuaram oferecendo o benefício para os funcionários - Drobot Dean/Adobe Stock

A LID não estabeleceu regras sobre o que os funcionários devem fazer nesses dias, mas incentiva-os a realizar atividades que ofereçam benefícios físicos e mentais.

Os funcionários fizeram esportes, prepararam refeições saudáveis, aprenderam ideias de autodesenvolvimento, como mindfulness e meditação, organizaram finanças pessoais ou se encontraram com familiares e amigos. Um deles fez uma viagem a Avebury, em Wiltshire, para visitar os círculos de pedra pré-históricos.

A editora de negócios sediada em Londres é uma das várias empresas a introduzir dias de bem-estar, sugerindo que o segredo para a felicidade no local de trabalho pode ser, na verdade, não trabalhar.

A Adobe, empresa de software, oferece seis dias por ano, enquanto a empresa de artigos de luxo Burberry tem meio expediente às sextas-feiras no verão e antes do Natal. O aplicativo de namoro Bumble dá às equipes uma semana de férias em toda a empresa duas vezes por ano, além de sua política de licença remunerada ilimitada. A Virgin Money oferece cinco dias discricionários.

Esses benefícios são reconhecimento da crescente preocupação com o bem-estar. Um relatório deste ano da American Psychological Association constatou que 77% dos trabalhadores experimentaram estresse relacionado ao trabalho no mês anterior, enquanto 57% apresentaram sinais de esgotamento no trabalho, como exaustão emocional.

Na Virgin Money, os gerentes acreditam que cabe aos indivíduos decidir quando tirar uma folga. Para incentivar os dias de folga, a empresa de serviços financeiros sugere que os funcionários mencionem os dias de bem-estar em respostas automáticas de e-mail ou postem nas redes sociais.

Alguns têm usado o LinkedIn para compartilhar atividades que vão desde uma festa no jardim real com os cadetes da aeronáutica até se recuperar de uma caminhada beneficente ou fazer um curso de três dias de fabricação de pizzas.

Outras empresas, como a LID, definem dias para todos os funcionários, para que as equipes não se distraiam com colegas enviando emails ou mensagens no Slack.

A pausa coletiva significa que os funcionários não "se sentem sobrecarregados por perder reuniões importantes, entregas ou prazos iminentes", diz Rosemary Arriada-Keiper, vice-presidente de benefícios da Adobe. As ferramentas internas de conferência e colaboração da empresa mostram uma redução de 99% em reuniões e chamadas nos dias globais de bem-estar, em comparação com um dia de trabalho normal.

A expectativa compartilhada de um dia oficial "nos motiva a focar em algo que realmente melhorará nosso bem-estar", diz Liu, da LID.

A empresa havia pensado em organizar atividades para fazer em equipe, como um piquenique ou um curso de bem-estar, mas parecia excessivamente planejado. No final das contas, diz Liu, parecia mais eficaz permitir que cada pessoa tivesse a liberdade de fazer o que achasse que seria benéfico para ela.

Ele geralmente busca três atividades, incluindo ler sobre saúde mental, exercícios físicos e se conectar com alguém que não tenha visto ou falado há algum tempo. Embora ele admita que às vezes trabalhe um pouco.

Jennifer Moss, autora de "The Burnout Epidemic: The Rise of Chronic Stress and How We Can Fix It" [A epidemia de esgotamento: o aumento do estresse crônico e como podemos corrigi-lo], diz que esses dias, sejam fixos ou discricionários, não são uma solução rápida. E, se mal projetados, podem ser apenas uma forma de "lavagem de bem-estar" —uma estratégia de relações públicas que não soluciona o problema.

Para aproveitar ao máximo os dias de bem-estar, os empregadores devem apoiar e modelar abertamente seu uso, por exemplo, fazendo com que os líderes compartilhem como passaram seu tempo em canais internos. Os funcionários devem tirar os dias de folga antes de "chegarem ao limite" e não conseguirem se apresentar mental e fisicamente. "Precisamos que as pessoas tirem dias de saúde mental de forma proativa, não reativa", acrescenta Moss. "É difícil se inevitavelmente você se sente estigmatizado por tirar um."

Uma pesquisa no Journal of Advanced Nursing descobriu que as pessoas que tiravam "dias de saúde mental" tinham mais probabilidade de relatar problemas no trabalho, além de problemas de saúde mental.

Os autores concluíram que os dias de bem-estar estavam lidando apenas com os sintomas do excesso de trabalho e que outras intervenções mais precoces poderiam ter sido mais eficazes na prevenção de problemas.

Moss diz: "Se não estamos lidando com as causas raízes do esgotamento e dos fatores de estresses crônicos no trabalho, os dias de saúde mental se tornam uma solução paliativa. Se você tem uma cultura de excesso de trabalho, você vai trabalhar mesmo em um dia de saúde mental ou nunca vai tirar um."

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