Italiana Enel dobrou lucro e reduziu funcionários em 35% desde que assumiu distribuição em SP

Efetivo caiu de 23,8 mil para 15,3 mil; especialistas, no entanto, dizem que ainda não é possível atribuir demora a essa redução de trabalhadores

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Brasília e Rio de Janeiro

A italiana Enel assumiu a concessão da distribuição de eletricidade na região metropolitana de São Paulo em 2018. Desde 2019, primeiro ano completo de operações, dobrou o lucro e reduziu em 35% o número de colaboradores.

Especialistas ouvidos pela Folha, porém, dizem que ainda não é possível relacionar o corte no efetivo da empresa aos transtornos causados após a tempestade que atingiu São Paulo na sexta-feira (3), já que se tratou de um evento extraordinário.

No Brasil, a Enel lidera o ranking das maiores distribuidoras de energia, com concessões em São Paulo, no Rio de Janeiro e no Ceará.

Funcionários da Enel fizeram nesta segunda-feira (6) reparos da fiação na esquina da rua Rouxinol com Gaivota em Moema, na zona sul de SP
Funcionários da Enel fizeram nesta segunda-feira (6) reparos da fiação na esquina da rua Rouxinol com Gaivota em Moema, na zona sul de SP - Rubens Cavallari/Folhapress

A liderança foi obtida justamente ao comprar em 2018 a concessão da Eletropaulo, que havia sido privatizada em 1999, em leilão vencido pela americana AES. Com a aquisição, de R$ 5,5 bilhões em valores de 2018, a italiana acrescentou mais de sete milhões de consumidores à sua carteira.

Desde então, vem conseguindo melhorar o resultado financeiro. O lucro em São Paulo passou de R$ 777 milhões ao fim de 2019 para R$ 1,4 bilhão ao término de 2022. A margem Ebitda, que indica a rentabilidade operacional, saiu de 16,1% para 22,2% no mesmo período.

Nesse processo, a companhia promoveu um grande enxugamento em seu quadro de pessoal, que caiu de 23,8 mil para 15,3 mil colaboradores próprios e terceirizados entre 2019 e 2022.

A Enel diz, porém, que os cortes se concentraram em áreas administrativas e não tiveram grande impacto no efetivo operacional, que foi para as ruas cuidar dos impactos da tempestade. "A companhia possui atualmente uma resposta de recuperação da rede mais efetiva do que em anos anteriores", disse, em nota.

A empresa compara a situação atual com tempestade de 2019, quando restabeleceu 650 mil clientes em 24 horas. Agora, foram 960 mil no mesmo período. "A distribuidora reforçou ao máximo o efetivo de colaboradores trabalhando 24 horas por dia nas ruas para agilizar os atendimentos."

A empresa vem sendo criticada pela demora para restabelecer o fornecimento de energia, mas especialistas dizem que a intensidade das chuvas e dos problemas causados pela queda de árvores foi extraordinária, principalmente em uma área complexa como a capital paulista.

Por outro lado, há questionamentos sobre a coordenação entre as equipes da empresa e da prefeitura para acesso aos locais atingidos e sobre a necessidade de modernização das redes, que poderia melhorar a flexibilidade operacional da Enel.

"A regulação dá muito incentivo para expandir as redes, mas a qualidade do sistema não é contemplada", diz Donato da Silva Filho, diretor da consultoria Volt Robotics, que ficou sem luz em casa entre sexta e a hora do almoço de domingo (5).

"Tinha luz no quarteirão vizinho, mas a rede não tinha chaves para isolar uma área que está danificada e conectar uma instalação em outra que ainda está funcionando. Isso é um problema de infraestrutura", afirma.

A líder no segmento de distribuição de eletricidade do país ocupa posições ruins no ranking de qualidade do atendimento elaborado anualmente pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica).

Em 2022, a Enel São Paulo ficou na 19ª colocação entre as 29 distribuidoras de energia com mais de 400 mil consumidores no país. A Enel Rio de Janeiro e a Enel Ceará dividiram a 23ª colocação com a Cemig.

A distribuidora paulista, porém, tem mostrado evolução nos indicadores de frequência e duração de interrupções desde 2019. Em nota, a empresa destacou que investiu R$ 6,7 bilhões entre 2018 e 2022, maior marca da história da empresa.

A média de mais de R$ 1,3 bilhão por ano é superior aos cerca de R$ 800 mil investidos anualmente nos cinco anos antes da compra da distribuidora, diz a companhia.

Foi justamente a questão da qualidade do atendimento que lhe rendeu questionamentos em Goiás. A Enel adquiriu antiga Celg-D em 2017. As reclamações de clientes eram frequentes.

A empresa argumentou que precisaria de mais tempo para recuperar ativos e a qualidade na prestação dos serviços após anos de sucateamento. As críticas à sua atuação, no entanto, incomodaram o governo do estado.

O governador Ronaldo Caiado (União Brasil) chegou dizer publicamente que agiria para tirar a concessão. Em setembro do ano passado, a Enel deixou a operação após vender os ativos para Equatorial Energia, por cerca de R$ 1,6 bilhão.

Para além do Brasil, a Enel é hoje uma das maiores empresas de energia do mundo, com cerca de 65 mil funcionários diretos e indiretos.

Com sede em Roma, foi fundada a partir da fusão de mais de 1.000 produtores de energia com o nome de Entidade Nacional Italiana para a Eletricidade, que deu origem a sigla.

Hoje atua em 26 países da Europa, Ásia, África e América do Norte e do Sul.

O foco inicial era distribuição e geração de hidroeletricidade, mas depois passou a atuar também no segmento de gás. Foi umas das primeiras empresas a focar em energia limpa.

Tornou-se, em 2004, a primeira empresa privada no setor das energias renováveis a ser listada no Índice Dow Jones de Sustentabilidade.

Investidores institucionais, como fundos e seguradoras, tem 56,7% do capital global do grupo, com destaque para americanos (43%) e europeus (27,3%). O governo italiano, no entanto, por meio do Ministério da Economia e Finanças, tem 23,6% de participação.

No ano passado, o grupo divulgou um faturamento global de 1,68 bilhão de euros, retração de 46% em relação ao ano anterior.

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