Não precisa amar a Faria Lima, mas deixa ela trabalhar para o Brasil, diz Abilio Diniz

Empresário diz que país está num bom momento, mas cobra condições para melhoria de investimento privado

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São Paulo

Para o empresário Abilio Diniz, o Brasil está num bom momento: o desemprego e a inflação estão caindo, e os juros estão começando a arrefecer. Ele afirma, porém, que falta "ambição" para o país crescer mais e que o investimento privado deve aumentar para isso acontecer.

"Não se faz crescimento sem investimento. Nós vemos o governo lutando por mais verba, para não ter corte [de verba]. Mas e a quantidade de dinheiro que tem no setor privado? Não precisa amar a Faria Lima ou gostar do mercado, mas deixa eles trabalharem para o Brasil", disse o empresário em evento do Itaú BBA nesta quinta-feira (9).

"Vamos dar segurança jurídica e política, deixar investirem e fazer esse país crescer. Por que temos que nos contentar com [crescimento] de 2,5%, 3%? Qual é a nossa ambição? Nossa ambição está muito baixa, é muito importante que tenhamos consciência disso", disse Diniz.

O empresário Abílio Diniz, na sede da Península Participações, em São Paulo
O empresário Abilio Diniz, na sede da Península Participações, em São Paulo - Bruno Santos - 01.set.2022/Folhapress

Questionado sobre o varejo, o empresário afirmou que, apesar de o cenário parecer negativo, o setor não está em crise no Brasil.

"O consumo das famílias já voltou a crescer, e há projeções da Abras [Associação Brasileira de Supermercados] de crescimento para o setor. É claro que o mercado não está amando as varejistas, e há motivos para isso, mas o varejo está estável e ligeiramente crescente."

Ele afirma, porém, que o setor de bens duráveis e demandantes de crédito, como eletrodomésticos e eletrônicos, ainda enfrenta desafios, em especial por conta dos juros altos (hoje, a Selic está em 12,25% ao ano), que, na visão de Diniz, devem permanecer por mais tempo que o esperado.

Apesar da perspectiva de cortes para a Selic, não haverá espaço para reduções mais profundas nas taxas brasileiras. Como pano de fundo, estão os juros americanos, que ainda devem permanecer em alto patamar e limitam o cenário de cortes no Brasil.

"Dizem 'os juros estão baixando, vai melhorar muito'. Para quem? Para nós, investidores, sim. Mas não vai cair muito. Para as pessoas que vão comprar bens de consumo, que diferença faz a Selic em 12,25% ou 9,5%? Ainda continua muito alta", diz o empresário.

Na última semana, o boletim Focus, do Banco Central, que reúne projeções econômicas, mostrou que a previsão de economistas sobre a taxa de juros para os próximos anos subiu. Agora, os analistas esperam que a Selic fique em 9,25% no fim do próximo ano, ante 9% no levantamento anterior. A previsão para 2023 foi mantida.

Além de Abilio Diniz, participaram do painel os empresários Rubens Ometto, presidente do conselho de administração do Grupo Cosan, e Eugênio Mattar, da Localiza.

Sobre a situação econômica do Brasil, Ometto se diz otimista, afirmando que o Brasil "tem tudo para continuar crescendo". Ele aponta, porém, que a gestão das contas públicas do país ainda preocupa.

"Acho que começa com o controle do déficit fiscal, onde não se vê muita clareza. O arcabouço fiscal condiciona o aumento do gasto à arrecadação, o que faz com que a receita e o órgão fiscalizador saiam como loucos para arrecadar, mas nem sempre respeitando as regras. Isso não deixa a segurança jurídica tranquila, o que é fundamental para empresários", disse Ometto.

Já Mattar classificou a dinâmica brasileira como uma "estabilidade instável", mas também afirmou estar otimista sobre a economia.

"O Brasil está crescendo na capacidade dele? Diria que não, há muito tempo. Mas já estivemos muito piores. O Brasil tem muita oportunidade. É só saber fazer melhor e mais bem feito."

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