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Sanções dos EUA podem ampliar ganhos da Huawei

Restrições ao acesso chinês a chips de inteligência artificial levam Baidu e outras a apelar à gigante de tecnologia

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Taipé

Há dois meses, após chocar o setor de tecnologia com o novo smartphone 5G da Huawei, a executiva Meng Wanzhou anunciou que a empresa ofereceria "uma segunda opção" às empresas chinesas e do mundo para "treinar grandes modelos usando informação". Não especificou o quê.

Agora está claro que são seus chips ou semicondutores para inteligência artificial, como opção àqueles da americana Nvidia, proibida desde o último dia 16 pelos EUA de vendê-los à China. Três grupos chineses de IA e nuvem, Baidu, Qihoo 360 e Tencent, já se movimentam, ainda que com relutância.

Os dois primeiros encomendaram várias centenas do chip Ascend 910B à Huawei, aparentemente como teste, enquanto a Tencent está à procura de "fontes nacionais para chips de treinamento", como falou seu presidente, Martin Lau, ao apresentar os resultados do trimestre.

Pessoas em uma fila de horas para comprar o smartphone Mate 60 Pro, com chip 5G, em loja da Huawei em Xangai, em 25 de setembro de 2023 - AFP

"Aqueles que se mantiveram presos à tecnologia americana, como a Tencent, são os que saem mais machucados", avalia TP Huang, analista chinês de tecnologia baseado nos EUA, sobre as novas sanções para acesso aos semicondutores da Nvidia.

A Huawei, que enfrentava resistência das outras gigantes do país, é agora sua única saída. "O problema é que nenhuma dessas empresas confia na Huawei", afirma Huang. "Estão preocupadas de usar a tecnologia Ascend e depois a Huawei tomar o material de IA que elas desenvolverem."

Até as restrições, a Nvidia detinha 90% das vendas de chips de IA na China. Tencent e outras estocaram seus semicondutores, desde as primeiras sanções, mas admitem precisar pensar adiante.

Além das chinesas, a própria Nvidia sai machucada. Logo após o anúncio pelo governo americano, a consultoria SemiAnalysis divulgou que a empresa desenvolveria novos chips específicos para o mercado chinês, contornando as regras dos EUA, como já havia feito antes.

As ações da Nvidia dispararam, os chips já tinham até novos nomes, como HGX H20, e as entregas começariam na última semana. Mas na sexta (24) as ações voltaram a cair, com a revelação de que a Nvidia atrasaria a entrega em meses.

Em seu relatório do trimestre, a empresa avisou que as vendas na China vão diminuir "significativamente", embora nem saiba quanto. "Os controles de exportação terão efeito negativo, e não temos boa... visibilidade sobre a magnitude, mesmo no longo prazo", admitiu a diretora financeira, Colette Kress.

O mercado chinês se abre agora amplamente, não só em inteligência artificial, para os chips desenvolvidos pela Huawei. Entre outras empresas que podem apelar à gigante de tecnologia está a ByteDance, holding do TikTok e de seu original na China, Douyin.

As novas sanções afetam setores tão diversos como comércio eletrônico, games e serviços de nuvem civis, critica o analista Paul Triolo, da consultoria ASG, de Washington, lembrando medida recente de Pequim que tirou de Alibaba e Tencent as nuvens ligadas ao governo.

Do chamado BBAT, acrônimo do mercado financeiro para ByteDance, Baidu, Alibaba e Tencent, o mais afetado é o Alibaba, de Jack Ma. Também em seu relatório do trimestre, o gigante de comércio eletrônico e pagamentos avisou que, diante das restrições dos chips, estava adiando separar o serviço de nuvem em nova empresa.

Seu CEO, Eddie Wu, evitou citar a Huawei e disse esperar ver na China, "certamente, vários chips diferentes, vários fornecedores, atendendo à demanda por potência de computação de IA". Não conseguiu conter o impacto da notícia, e as ações tiveram a maior queda em um ano.

Jack Ma precisou então reafirmar sua confiança no Alibaba, informando via South China Morning Post, jornal também do grupo, que não iria vender ações, como havia anunciado antes. Também circulou comunicado interno, negando boatos que falavam em demissão de 25 mil funcionários.

Os chips da Nvidia são feitos pela taiwanesa TSMC. Os da Huawei, pela chinesa SMIC, que também divulgou resultados do trimestre. Diante dos números, TP Huang avalia que, a longo prazo, "é natural as fabs [como são chamadas as fábricas de semicondutores] de Taiwan perderem negócios".

O terceiro trimestre da SMIC já mostra, segundo ele, "grandes mudanças na cadeia", reflexo das pressões geopolíticas que deixaram o mercado chinês com baixa oferta de semicondutores, a ser coberto por empresas nacionais, e o G7 com excesso, afetando o desempenho da própria TSMC.

Dan Nystedt, consultor do setor de tecnologia em Taiwan, anota que a Huawei se preparou por anos para esse momento e tem agora uma série de produtos, inclusive o Ascend 910B, que seria um concorrente mais ou menos próximo do A100 da Nvidia, para inteligência artificial.

Mas ele avalia que as sanções americanas ainda não estão a pleno vapor, mesmo em relação a Huawei e SMIC. "A maior parte das restrições às exportações [de chips e equipamentos] nem começa antes do final de 2023. O segundo semestre de 2024 será muito diferente."

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