Sem acordo com Europa, Alckmin defende mais integração dentro do Mercosul

Para chanceler uruguaio, também presente na Cúpula do bloco, presidência do Brasil não trouxe resultados produtivos

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Rio de Janeiro

O vice-presidente e ministro da Indústria, Geraldo Alckmin (PSB), afirmou em discurso na Cúpula do Mercosul que, em um momento da "fragmentação das relações internacionais", a integração se dá "no dia a dia com avanços pontuais".

Com o impasse na definição de um texto para um possível acordo futuro entre Mercosul e União Europeia, Alckmin defendeu o aumento do comércio entre os países do Mercosul. O vice-presidente afirmou que o bloco tem potencial para se tornar uma potência na área energética e na agenda do comércio sustentável

"No Mercosul, [a densidade do comércio intrabloco é de] apenas 10%. O comércio intrabloco tem crescido, mas precisamos mudar esse quadro. O Mercosul é importante para o Brasil, nosso quarto maior parceiro comercial. Além disso, cerca de 80% da pauta comercial é de produtos manufaturados e semimanufaturados. Nossos parceiros do bloco são essenciais no projeto de neoindustrialização".

O vice-presidente e ministro Geraldo Alckmin durante reunião da Cúpula do Mercosul nesta quarta (6) - João Risi/Presidência da República

De acordo com Alckmin, a região é uma potência na área energética. "Podemos dar um salto na exploração, transporte e agregação de valor dos nossos recursos naturais. É fundamental avançar na agenda do comércio com sustentabilidade."

As declarações foram feitas nesta quarta-feira (5), durante a reunião do Conselho do Mercado Comum do bloco, na qual Alckmin participa como representante brasileiro junto com os ministros das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e do Planejamento, Simone Tebet (MDB).

A proposta de mais integração dentro do bloco sul-americano contrasta com as dificuldades de negociação com os europeus. No último sábado (2), o presidente da França, Emmanuel Macron, contrário ao pacto, afirmou que os termos estão "antiquados".

"Entendemos que no momento de aparente fragmentação das relações internacionais, o caminho da integração continua a ser relevante e pode dar resultados concretos. A integração não se faz apenas com grandes gestos e grandes acordos. Faz-se também no dia a dia com avanços pontuais que destravam barreiras e criam oportunidades", discursou Alckmin.

A fala do vice-presidente, sobre uma eventual fragilização das relações entre os países, também encontram eco nas dúvidas do bloco de como se posicionará o novo governo argentino a respeito do Mercosul.

O presidente eleito, Javier Milei, que toma posse neste domingo (10), fez críticas ao bloco durante a campanha argentina. E a delegação do país chegou esvaziada à cúpula, sem a presença do ministro da Economia, Sergio Massa, derrotado na eleição, e do chanceler Santiago Cafiero. Os dois eram previstos para a reunião de hoje, mas desmarcaram sua participação.

Alckimin, no entanto, mostrou-se otimista no discurso sobre as negociações do acordo Mercosul-União Europeia. Ele afirmou que houve "avanços importantes" nas conversas entre os líderes dos blocos.

"Destaco os compromissos de ambos os lados em prol de um entendimento equilibrado no futuro próximo e a partir das bases sólidas que construímos nos últimos meses de engajamento intenso", disse.

Durante a cúpula, que termina nesta quinta-feira (7), haveria uma reunião presencial entre os membros do Mercosul para discutir sobre o acordo com o bloco europeu. No entanto, com o esfriamento das negociações, o encontro foi desmarcado e será feito virtualmente. Representantes dos países sul-americanos preferem aguardar qual será a posição do governo Milei. A futura chanceler argentina, Diana Mondino, afirmou que pretende fechar o acordo "algum dia".

Mesmo sem o anúncio de um texto de acordo entre os dois blocos, o vice-presidente prometeu resultados concretos durante a Cúpula do Mercosul, que acontece no Rio de Janeiro. Como exemplo, ele citou a assinatura do acordo do bloco sul-americano com a Singapura, o primeiro em 12 anos com um país fora do bloco.

"Teremos a assinatura do acordo de livre comércio com Singapura, que envolve não apenas mercadorias, mas favorece investimentos, fluxos de tecnologia, serviços, movimento de pessoas e segurança jurídica. Porta de entrada para a Ásia e para a Asean (Associação de Nações do Sudeste Asiático). Este será o primeiro acordo de livre comércio do Mercosul em mais de 10 anos e o primeiro com o país asiático", afirmou.

Chanceler uruguaio diz que presidência do Brasil não trouxe resultados produtivos

O chanceler do Uruguai, Omar Paganini, fez críticas à condução do Brasil na presidência pro tempore do Mercosul. O ministro das Relações Exteriores uruguaio participou da reunião do Conselho do Comércio Comum do bloco, nesta quarta-feira (6), no Rio de Janeiro.

Em um discurso que chamou de "realista, mas pessimista", Paganini afirmou que os resultados durante o mandato não foram "tão produtivos".

Entre as críticas de Paganini, ele ressaltou a falta de avanços a uma "verdadeira" união aduaneira e as negociações mais recentes do Brasil para o acordo entre o Mercosul e a União Europeia. Além disso, o representante uruguaio também instou o bloco a avançar nas conversas com a China.

"O Brasil fez um esforço muito importante para levar adiante uma agenda produtiva do Mercosul em seu duplo aspecto: interno e externo", disse Paganini. "Porém, tendo uma análise mais detalhada, os resultados concretos, infelizmente, não foram vistos como tão produtivos".

"Apesar de celebramos alguns avanços importantes, como a recente aprovação do novo regime de origem do Mercosul ou o acordo de facilitação do comércio, não vimos resultados concretos em temas centrais como o avanço rumo a uma verdadeira união aduaneira. Uma situação que, devemos ser sinceros, permanece distante".

Segundo Paganini, o bloco sul-americano ainda precisa avançar contra as restrições entre os países do Mercosul, que "limitam a mobilidade de bens e serviço entre os países".

O chanceler uruguaio manteve o tom do presidente do país, Luis Lacalle Pou, que critica o que chama de caráter protecionista do Mercosul. Com uma gestão liberal mais à direita, o chefe do Executivo do Uruguaio costuma dizer que o bloco está fechado às economias de fora do Mercosul.

Paganini assumiu a chancelaria uruguaia há menos de um mês. Antes, ele era ministro da Indústria e Energia. Antes da reunião, o representante uruguaio se encontrou com o ministro das Relações Exteriores brasileiro, Mauro Vieira.

Em seu discurso durante a reunião, Paganini disse estar preocupado com o acordo entre o Mercosul e a União Europeia. Ele afirmou que, apesar de acreditar que o pacto entre os dois blocos será fechado, a "janela de oportunidade" para isso está se encurtando.

"Nossa expectativa de fecharmos [o acordo] continua intacta, apesar de reconhecermos que a ‘janela de oportunidade’ está se limitando no tempo. Confiamos na ação coordenada, urgente e pragmática de todas as partes para concluir esta negociação histórica", afirmou.

O uruguaio também criticou a condução dos europeus para fechar o acordo. Ele chamou de politizada a posição da França de querer colocar condicionantes ambientais para os negócios entre os blocos. Mas ponderou que o acordo representaria um "bem maior" e pediu urgência para o fim das negociações.

"Conhecemos as dificuldades apresentadas por alguns membros da União Europeia, onde o tema ambiental foi politizado de uma perspectiva extremamente assimétrica", disse o chanceler. "No entanto, em busca de um bem maior que a abertura de mercados, a atração de investimentos e uma maior integração, incentivamos aproveitar esta janela de oportunidade e concluir as negociações o mais rápido possível".

Por fim, Paganini também instou o Mercosul a se aproximar da China e do que chamou de economias mais dinâmicas. Ele afirmou que o Uruguai quer se aproximar do gigante asiático e que acredita que isso será benéfico para o bloco sul-americano.

"Já afirmamos, e o nosso presidente [Lacalle Pou] já reiterou, que queremos todo o Mercosul com a China. Mas se o Uruguai puder avançar primeiro, acreditamos que isso também beneficia os demais países", disse Paganini, que também pediu mais proximidade do Mercosul com a Coreia do Sul, Canadá e Japão.

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