Descrição de chapéu internet

Anatel mantém veto a usina de dessalinização próxima a cabos de internet no CE

Para empresas de telefonia, projeto põe em risco conexão do país com mundo

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Rio de Janeiro

A Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) emitiu novo parecer contrário à instalação de uma usina de dessalinização de água na praia do Futuro, em Fortaleza, reforçando pleito do setor de telecomunicações contra o projeto.

O novo parecer considera alterações no projeto feitas pela Cagece (Companhia de Água e Esgoto do Ceará) após a primeira negativa. Ainda assim, diz a Anatel, as obras "podem provocar perturbações do leito marinho com reflexos na área atualmente ocupada por cabos de telecomunicações".

Banhistas na praia do Futuro em Fortaleza - Haroldo Saboia 15.dez.17/Folhapress

Com investimentos previstos em R$ 526 milhões, a usina começou a ser projetada em 2017 mas se tornou alvo do setor de telecomunicações neste ano. Em entrevista à coluna Painel S.A em novembro, o vice-presidente institucional da Claro, Fábio Andrade, disse que a obra criava risco de pane na internet.

"Não faz o menor sentido seguir com esse projeto nesse terreno, porque vai colocar em risco o futuro desse hub [de telecomunicações]", diz Luiz Henrique Barbosa da Silva, presidente executivo da TelComp, que representa empresas de telefonia de menor porte. "É uma estrutura crítica que não pode conviver com 'talvez'. O risco tem que ser mínimo".

A Cagece alega que o projeto é fundamental para a segurança hídrica em Fortaleza. "Precisamos diversificar a matriz hídrica no estado. Não adianta mais ficar esperando só por chuva em açudes e barragens", disse à Folha em setembro o presidente da empresa, Neuri Freitas.

Ele acusa as empresas de querer "privatizar" a praia, que é considerada estratégica pelo setor de telecomunicações, por concentrar a infraestrutura de transmissão internacional de dados do país. São hoje 17 cabos submarinos, operados por oito empresas ou consórcios, além de data centers em terra.

A reportagem procurou a Cagece após o parecer da Anatel, mas não obteve resposta até o fechamento deste texto.

No parecer, a Anatel argumentou que os cabos submarinos estão ancorados há décadas na praia e "são infraestrutura essencial ao funcionamento das telecomunicações e da internet no Brasil e também para o fluxo de informações entre os continentes sul-americano, africano, europeu e norte americano".

"Não há no projeto atual qualquer estudo, previsão, planejamento e detalhamento das medidas que serão adotadas para garantir que os dutos terrestres da usina (adutoras de grande calibre e cortes, perfurações nas avenidas da cidade) não provocarão interferências nos cabos terrestres de telecomunicações."

A primeira tentativa de aprovar a obra parou na SPU (Secretaria do Patrimônio da União), que negou em janeiro autorização para o uso da área de marinha após pareceres contrários da Anatel e do GSI (Gabinete de Segurança Institucional).

Na área escolhida para a obra, diz a Anatel, "estão ancoradas, há décadas, as infraestruturas de cabos submarinos intercontinentais brasileiros que ligam América do Sul, Central do Norte, Europa e a África". "Tais cabos são essenciais às telecomunicações brasileiras e sul-americanas", completa.

A Cagece alterou o projeto, afastando as estruturas de captação e descarte da usina de dessalinização para uma distância de 500 metros dos cabos, como recomendado por organizações internacionais, elevando em cerca de R$ 35 milhões o custo da obra.

A TelComp, porém, alega ainda risco aos cabos terrestres que ligam a praia aos data centers e, principalmente, à classificação de segurança desses empreendimentos, que passarão a operar próximos a uma unidade industrial.

A Cagece defende que a praia do Futuro foi escolhida por reunir as melhores condições de maré para captação de água e dispersão do sal e por estar próxima aos reservatórios que abastecem a capital, o que reduz a tarifa paga pelo consumidor.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.