Aumento da mistura de biodiesel danifica ônibus e amplia custos, diz concessionária de SP

Governo federal decidiu nesta terça (19) antecipar elevação de percentual obrigatório do biocombustível

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Rio de Janeiro

Teste realizado pela Sambaíba Transportes Urbanos, concessionária do transporte público em São Paulo, concluiu que o uso de 15% de biodiesel no diesel de petróleo danifica ônibus e amplia o custo do serviço prestado.

A mistura de 15% foi antecipada pelo governo de 2026 para 2025, em reunião realizada nesta terça-feira (19) pelo CNPE (Conselho Nacional de Política Energética). Em 2024, o diesel vendido pelos postos terá 14% de biodiesel.

O estudo foi apresentado à ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis) em agosto e é citado pela CNT (Confederação Nacional dos Transportes) para questionar o maior uso de biodiesel, defendido pelo governo como uma medida que reduz emissões de gases do efeito estufa.

Usina de Biodiesel no município de Lucas do Rio Verde, no Mato Grosso. - Folhapress

Para a CNT, a política nacional do biodiesel está "totalmente desalinhada com relação às boas práticas do restante do mundo quanto ao enfrentamento do consumo de combustível fóssil e da emissão de poluentes".

Os produtores defendem que um percentual maior de biodiesel reduz importações de diesel com o uso de excedentes de óleo de soja que hoje não têm mercado. O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, já levantou a possibilidade de que a mistura alcance 25%.

No estudo que apresentou à ANP, a Sambaíba diz que usou a mistura de 15% por sete meses. "Encontramos um cenário desfavorável do ponto de vista técnico, causando aumento de custo operacional, além de diversas ocorrências que prejudicaram o desempenho técnico da nossa frota."

A empresa diz que precisou reduzir de 30.000 quilômetros para 4.500 quilômetros o intervalo de substituição de filtros de sua frota. No sistema de recebimento de combustível da garagem, o intervalo de substituição de filtros caiu de 50 dias para 12 dias.

O tanque da garagem precisaria ser limpo duas vezes por ano, em vez da limpeza anual praticada normalmente. O aumento de custo com esses itens, diz a companhia, foi de 417,7%. A frota testada, composta por ônibus Mercedes Benz, foi impactada por perda de potência e falhas no sistema de partida.

A Sambaíba afirmou à Folha que os testes tiveram o objetivo de testar alternativa para a redução na emissão de poluentes. Foram realizados entre o verão e o outono e "provavelmente no inverno seria pior por conta da gordura produzida pelo biodiesel ser de maior densidade".

O aumento para 14%, continua, gera risco de problemas nas estradas com caminhões e ônibus rodoviários, que trafegam em velocidades mais elevadas. "Todo o teste foi realizado em área urbana com veículos que não ultrapassaram 50 quilômetros por hora e curtas distâncias."

Em abril, associações ligadas a transportadoras, distribuidoras de combustíveis e montadoras divulgaram nota conjunta pedindo revisão do programa de biodiesel diante dos problemas em motores e tanques. Às vésperas da reunião do CNPE, a CNT decidiu voltar a se manifestar.

A confederação defende que a mistura média de biodiesel na Europa é de 7%. Percentuais superiores são admitidos apenas para o uso do combustível produzido em biorrefinarias com uma tecnologia conhecida como HVO, "mais evoluído e que não causa problemas mecânicos".

Ao anunciar a antecipação do cronograma de aumento da mistura, o ministro de Minas e Energia disse que a decisão foi uma vitória dos biocombustíveis e ajudará o Brasil a cumprir suas metas de descarbonização, além de fomentar mais um segmento do agronegócio.

Em defesa do aumento da mistura, A FPBio (Frente Parlamentar do Biodiesel) argumenta que é crescente o número de produtores que estão investindo em veículos abastecidos com B100, ou seja, exclusivamente com biodiesel, o que refutaria a demanda por mais testes antes do aumento da mistura.

Um dos maiores produtores de grãos do país, a Amaggi, da família do ex-ministro da Agricultura Blairo Maggi, encomendou uma frota de 100 veículos para B100. Os veículos estão sendo produzidos por encomenda pela fábrica da Scania no Brasil.

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