Boticário, Wickbold e Tirolez rejeitam plano de recuperação da Americanas; veja lista

Mais de uma centena de fornecedores que tinham R$ 1 bilhão a receber votaram contra proposta, mas agora sua dívida terá desconto de até 80%

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Elas formam um grupo de 156 empresas, entre elas grandes nomes do mercado alimentício, de calçados, papel e celulose, farmacêutico, cosméticos, serviços financeiros, de energia e de refrigeração. Mas também estão presentes empresas de médio porte, com marcas de forte apelo regional.

São as companhias que votaram contra o plano de recuperação judicial da Americanas durante assembleia realizada na última terça (19). Entre elas, BRF, Suzano, Sanofi, L'Oréal, Boticário, Grendene, Neoenergia, Tirolez e Wickbold. Ao todo, as empresas que disseram "não" ao plano tinham mais de R$ 1 bilhão a receber, mas foram voto vencido. Agora, verão a sua dívida receber um desconto de até 80%, com o saldo podendo ser pago só em 2044.

Na opinião de especialistas ouvidos pela Folha, as empresas têm bons motivos para rejeitar o plano, que acabou sendo aprovado pela maioria dos credores, que concordaram com a exigência da Americanas de não processar a companhia na Justiça.

"Eu considero essa cláusula ilegal", diz o advogado especializado em recuperação judicial Filipe Denki, da Lara Martins Advogados. "O direito de defesa é constitucional, ninguém pode impedi-lo."

Fachada de loja em branco em que se lê em vermelho Lojas Americanas
Fachada de loja da Americanas na rua Direita, região central de São Paulo. - Bruno Santos/Folhapress

André Pimentel, sócio da consultoria Performa Partners, concorda e ainda destaca as condições de pagamento. "Se os credores são fornecedores da Americanas, foram duplamente prejudicados, porque a empresa sempre apresentou uma postura mais agressiva no varejo em termos de preço, espremia ao máximo os fabricantes e importadores", diz. Ou seja, sobre o valor original que os fornecedores tinham a receber, já estava embutido um desconto maior que o da média do varejo, diz.

Em nota, a Americanas afirmou que "o processo de construção do plano criou novas bases para a reorganização operacional e financeira, com a renovação do relacionamento e da confiança destes fornecedores na companhia e em seu soerguimento, o que gera ganho para todos". De acordo com a varejista, o plano de recuperação judicial "é factível e foi bem aceito entre partes".

Segundo documentos disponibilizados pelo administrador judicial, entre 1.860 votantes, 100 se abstiveram, 156 votaram contra e 1.604 disseram sim ao plano de recuperação judicial.

Confira abaixo a lista de 20 grandes empresas que votaram "não" ao plano de recuperação judicial da Americanas, selecionadas no grupo de 156 empresas que expressaram este voto:

20 dos credores quirografários que não aceitaram o plano de recuperação judicial da Americanas

Ao todo, 156 empresas votaram contra a proposta, que acabou aceita por ampla maioria

  • Banco Original

    Dívida: R$ 327 mil

  • Belliz (marca Ricca)

    Dívida: R$ 4,1 milhões

  • Grupo Boticário

    Dívida: R$ 822 mil

  • BRF

    Dívida: R$ 1,25 milhão

  • Camil

    Dívida: R$ 406 mil

  • Engie

    Dívida: R$ 702 mil

  • Flormel

    Dívida: R$ 455 mil

  • Gelopar

    Dívida: R$ 1,04 milhão

  • Grendene

    Dívida: R$ 10,5 milhões

  • Haribo

    Dívida: R$ 2,9 milhões

  • L'Oréal

    Dívida: R$ 41,2 milhões

  • Metalfrio

    Dívida: R$ 1,35 milhão

  • Neoenergia Distribuição

    Dívida: R$ 1,25 milhão

  • Otis Elevadores

    Dívida: R$ 679 mil

  • Sanofi

    Dívida: R$ 460 mil

  • Suzano

    Dívida: R$ 2,3 milhões

  • Tirolez

    Dívida: R$ 396 mil

  • Vale D'ouro Biscoitos

    Dívida: R$ 850 mil

  • Vortx Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários

    Dívida: R$ 528 milhões

  • Wickbold

    Dívida: R$ 2,1 milhões

A Folha procurou 11 dos 20 credores que integram esta lista. Apenas Boticário e Neoenergia responderam por nota. L'Oréal, Grendene, Wickbold, BRF e Vortx não quiseram se pronunciar. Tirolez, Metalfrio, Vale D'ouro e Gelopar não responderam até a publicação desta reportagem.

"O Grupo Boticário informa que está tratando o tema no âmbito judicial e que, após análise da proposta ofertada, a companhia optou por não aderir ao plano de pagamento que constava no plano de recuperação judicial", informou a fabricante de perfumes e cosméticos, que detém marcas como Eudora, Quem Disse, Berenice? e Vult.

"A Neoenergia informa que sua manifestação na assembleia de recuperação judicial da Americanas ocorreu em razão de divergência de valores dos créditos habilitados para uma de suas distribuidoras, bem como pela extensão do prazo para pagamento", disse a empresa.

Os maiores credores da companhia, os bancos Bradesco, Santander, Itaú, BTG, Safra e Banco do Brasil, que sozinhos têm cerca de R$ 20 bilhões a receber, disseram sim ao plano, que prevê que a maior parte das dívidas da instituição financeira sejam convertidas em ações da Americanas.

Já os demais credores podem decidir se querem participar de um leilão reverso da sua dívida - ganha quem oferecer o maior desconto, de pelo menos 70%. Neste caso, o pagamento será realizado só em 2039, com juros calculados pela TR. Quem não quiser participar do leilão, recebe só em 2044, com um desconto de 80% sobre a sua dívida, também com correção pela TR.

Há a possibilidade ainda de os credores quitarem sua dívida por R$ 12 mil, à vista.

Os credores de tecnologia –essenciais para que a empresa mantenha operações no marketplace e mesmo nas lojas físicas– serão pagos em parcela única, mas precisam se comprometer a fornecer os mesmos prazos de 2022 ou ainda melhores para a Americanas.

Os fornecedores colaboradores, por sua vez, que abastecem a varejista com produtos, que tiverem se submetido ao leilão reverso, podem receber R$ 1 milhão se com isso derem quitação à sua dívida.

Quem for credor fornecedor, mas nem colaborador, nem de tecnologia, terá um deságio de 50% em sua dívida, com o saldo dividido em 48 vezes, ou quatro anos.

(Colaborou Júlia Moura, de São Paulo)

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.