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Calor pode gerar nova migração do café, diz presidente da Três Corações

Especialista afirma que aplicar práticas da agricultura regenerativa pode aumentar resistência a danos, como possível redução de área de cultivo e aumento de custos

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Belo Horizonte

O calor, que já provocou impactos pontuais na inflação e é uma preocupação de toda a cafeicultura, poderá fazer com que a atividade novamente migre no país no futuro. A avaliação é do empresário Pedro Lima, presidente do grupo Três Corações, maior indústria de café do país.

Se, no passado, a produção cafeeira era muito forte no interior paulista, notadamente em regiões como a de Ribeirão Preto (a 313 km de São Paulo), e no Paraná, hoje ela se concentra principalmente em Minas Gerais, mas poderá buscar novas áreas dentro ou fora do estado devido aos impactos climáticos. Cultivar em regiões mais altas ou até mesmo usar outra variedade estão entre as possibilidades.

O empresário Pedro Lima, presidente do grupo Três Corações, em participação na SIC (Semana Internacional do Café), em Belo Horizonte
O empresário Pedro Lima, presidente do grupo Três Corações, em participação na SIC (Semana Internacional do Café), em Belo Horizonte - Gustavo Baxter/NITRO/Divulgação

Especialistas em clima apontam que este ano deve ser o ano mais quente em 125 mil anos, como resultado das emissões de gases causadores do efeito estufa combinadas com o El Niño.

"O que vejo na cultura do café é que, no caso do Brasil, ela pode migrar. No começo do século 19, Paraná produzia muito café, São Paulo produzia muito café. Quando começou a chegar geada e ficar mais difícil, o pessoal migrou para regiões de temperaturas mais quentes. [Com] Esse aquecimento, o pessoal pode se movimentar um pouco", afirmou Lima à Folha.

Ele cita como um exemplo oposto de impacto do aquecimento global a situação do trigo na Rússia –o país está elevando a produção. "Muitas áreas que eram cobertas com neve estão começando a ser usadas [para o trigo]."

Lima afirmou, porém, não acreditar que os impactos do clima façam com que o país perca seu protagonismo na produção mundial de café.

O Brasil é o maior produtor mundial de café, devendo colher 54,36 milhões de sacas neste ano, segundo dados da Conab (Companha Nacional de Abastecimento). Desse total, 50,7%, ou 27,5 milhões de sacas, estão em Minas Gerais.

A produção mundial foi estimada pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) em 174,3 milhões de sacas, o que significa que o Brasil responderá por 31,2% da oferta global.

O tema foi debatido durante a SIC (Semana Internacional do Café), que ocorreu entre os dias 8 e 10 no Expominas, em Belo Horizonte, num painel sobre a resiliência dos produtores à mudança climática.

Nele, o cafeicultor Pedro Ronca, diretor da Plataforma Global do Café no país, disse que "todos estão sentindo na pele" a questão climática.

"A gente está sentindo no campo a questão das altas temperaturas, a loucura que foi esse setembro, ainda no fim do inverno, [com] temperaturas recordes no campo. Lá na minha roça, sou produtor em Guaxupé [sul de Minas], Juruaia, deu 38ºC, com 1.100 m de altitude, em setembro, fim do inverno, uma loucura total", disse.

Visitantes percorrem estandes da SIC (Semana Internacional do Café), em Belo Horizonte
Visitantes percorrem estandes da SIC (Semana Internacional do Café), em Belo Horizonte - Marcus Desimoni/NITRO/Divulgação

Ele afirmou ainda que a redução da área de cultivo é um risco, assim como o produtor ver cair a produtividade e a renda, com aumento dos custos de produção.

"Se a gente aplicar práticas da agricultura regenerativa pode aumentar a resistência do produtor para diminuir o impacto dessa situação que a gente está tendo."

Uma outra possibilidade é que o Brasil se volte mais à produção de café da variedade canéfora (robusta e conilon), que em geral são mais fortes, amargos e resistentes ao calor que o arábica, predominante na produção nacional.

Hoje, segundo a Embrapa, o café arábica representa 68,12% da produção nacional, e os canéforas, 31,88%.

Caio Alonso Fontes, diretor da Espresso&CO e um dos realizadores da SIC, disse que o clima é um problema crônico, que terá de ser enfrentado por todos. "Caberá aos pesquisadores e melhoristas solucionar esse baita problema. É um caminho sem volta", afirmou.

Um outro painel do evento discutiu exclusivamente o clima e seus impactos na agricultura. A SIC recebeu mais de 20 mil visitantes de 30 países e movimentou R$ 55 milhões em negócios na capital mineira.

O jornalista viajou a convite da SIC (Semana Internacional do Café)

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