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'Não existe parcelamento sem juros', diz Campos Neto

Entrevista com o presidente do Banco Central foi transmitida no canal Globo News nesta quarta-feira

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Brasília

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que gostaria de entregar a inflação na meta e os juros no patamar mais baixo possível em 2024, quando encerra seu mandato no comando da autoridade monetária.

A declaração foi dada em entrevista à jornalista Miriam Leitão, da GloboNews. Um trecho da conversa, gravada no dia 21, foi publicado pelo canal na plataforma X (antigo Twitter). A íntegra do programa foi ao ar nesta quarta-feira (27), às 23h30.

"[2024] Vai ser meu último ano como presidente do Banco Central. Então, a gente tem uma perspectiva positiva. Tem muita coisa que a gente gostaria de consolidar ainda aqui no BC. É importante entregar a inflação na meta. É importante entregar os juros o mais baixo possível", afirmou Campos Neto.

Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em entrevista a jornalistas na sede da instituição, em Brasília - Gabriela Biló - 21.dez.2023/Folhapress

Apesar de a lei de autonomia autorizar uma recondução, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve indicar para o posto de presidente do BC alguém mais alinhado a seu governo. Campos Neto, por sua vez, diz que não aceitaria um segundo mandato e também que não cogita entrar para a política partidária no futuro.

Para o próximo ano, a meta de inflação definida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) é de 3%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Isso significa que o objetivo é considerado cumprido se oscilar entre 1,5% (piso) e 4,5% (teto).

Já a taxa básica de juros (Selic) fechou 2023 fixada em 11,75% ao ano, após nova redução de 0,5 ponto percentual. O Copom (Comitê de Política Monetária) do BC sinalizou em dezembro cortes da mesma intensidade nas "próximas reuniões", ou seja, pelo menos nos dois encontros à frente —em janeiro e março de 2024.

Os analistas consultados pelo BC passaram a ver a taxa básica de juros mais baixa em 2024, conforme boletim Focus divulgado na terça-feira (26).

O levantamento, que capta a percepção do mercado financeiro para indicadores econômicos, mostrou que a expectativa é de que a Selic chegue a 9%, depois de sete semanas calculando a taxa a 9,25% no fim do ciclo de cortes.

Na entrevista, Campos Neto também falou sobre as projeções mais favoráveis de crescimento da economia brasileira no ano que vem.

"Como o crescimento tem surpreendido para cima, você leva um crescimento um pouquinho melhor para o ano que vem. Então, os analistas estão aí perto de 2% para o crescimento para o ano que vem", afirmou.

De acordo com a Secretaria de Política Econômica (SPE), do Ministério da Fazenda, o carregamento estatístico para 2023 é de aproximadamente 3%. Em novembro, a SPE reduziu de 3,2% para 3% a projeção de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) para este ano.

O PIB do Brasil perdeu força no terceiro trimestre deste ano, mas ainda apresentou leve variação positiva de 0,1% em relação aos três meses anteriores. A estimativa do mercado financeiro para avanço da atividade econômica neste ano segue em 2,92% e, para 2024, subiu 0,01 ponto, a 1,52%.

Quando questionado sobre a agilidade para diminuir as taxas de juros, Campos Neto afirma que é preciso analisar qual é a capacidade que um país tem de crescer sem gerar inflação, de forma que seja sustentável. "Não podemos cair de um dia para o outro. Se o mercado entender que a queda não se sustenta, tudo tende a dobrar ainda mais.

Miriam Leitão aproveitou a oportunidade para perguntar sobre a queda do recurso da "presunção da boa fé" na fiscalização do mercado do ouro. "O crime é isso: você aperta de um lado e tentam burlar, mas temos melhorado a qualidade de regulamentação e supervisão, além da inclusão da nota fiscal eletrônica que vem junto para fiscalizar", diz o presidente do BC.

De novidades para 2024, Campos Neto promete incrementar o pagamento eletrônico instantâneo com novas funcionalidades do Pix.

"Tem uma vertente que é o agendamento do Pix. Avançamos mais, agora queremos fazer com que os pagamentos possam ser repetidos mensalmente sem precisar abrir o app e executar o mesmo processo sempre. Também estamos agilizando programar a agenda de pagamentos e criar o Pix em pagamento de crédito", conta.

"Parte da agenda no G20 é criar uma governança em bancos internacionais. A ferramenta Pix já é internacional, mas queremos criar um sistema de conexão ainda mais internacional e mais barato", explica.

A jornalista entrou no assunto mais falado: a existência do parcelamento sem juros –uma das dores mais comentadas entre os consumidores brasileiros.

Campos Neto foi taxativo: "Não há parcelamentos sem juros, o custo está sempre incorporado. O que podemos analisar é quem paga e como está distribuído, achar uma solução onde todos tenham conforto sem afetar o consumo. O que temos no plano é regulamentar o que já existe".

A questão ambiental também entrou no bate-papo. "Eu alertei o governo anterior sobre a importância de fazer essa comunicação. Hoje, o Brasil tem um cartão de visita importante que é a capacidade de produzir bens com energia renovável. Para projetos, temos vistos poucos investimentos, mas isso tende a acelerar. Melhorou muito a nossa narrativa", disse Campos Neto.

A conversa com o presidente do BC foi a última entrevista do ano no programa de Miriam Leitão. Sempre em tom otimista, Campos Neto afirmou que a autoridade monetária trabalhou e trabalhará para o país. "É importante passar a mensagem de que nós (BC e governo) trabalhamos juntos. O Banco Central é um órgão técnico, tem feito muita coisa pela sociedade e vai trabalhar pelo Brasil".

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