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carro elétrico

Estreia em carro elétrico termina em passeio de guincho em férias nos EUA

Abrir mão da combustão em viagens longas demanda melhora na infraestrutura de recarga

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São Paulo

A curiosidade e o espírito de aventura falaram mais alto que a prudência quando este jornalista foi retirar um típico sedã —a combustão— no pátio de locadora do aeroporto de Los Angeles para uma viagem de 12 dias pelo sudoeste dos EUA, região conhecida por sua vastidão desértica, entre setembro e outubro.

"Quer um elétrico?", ofereceu gentilmente a funcionária. "O Tesla ali da frente?", respondi, empolgado, mas com um frio na espinha. "Não, o Hyundai Ioniq 5 ao lado. E não se preocupe, tem estação de recarga em todo lugar, e a autonomia é de 400 quilômetros."

Guincho deixa carro elétrico Hyundai Ionic 5 em estação de recarga ultrarrápida em unidade do Walmart em Albuquerque, Novo México, EUA
Guincho deixa carro elétrico Hyundai Ionic 5 em estação de recarga ultrarrápida em unidade do Walmart em Albuquerque, Novo México, EUA - Jacques Constantino/Folhapress

Aceitei a oferta pelo hatch sul-coreano. Imediatamente, telefonei para Eduardo Sodré, o colega especialista em automóveis desta Folha. Ele aprovou meu debute em um elétrico e me ensinou que bastava apertar o botão e acelerar.

A única coisa em que pensava desde o momento que deixei a locadora era procurar estações de recarga. Eu viajaria longas distâncias —o primeiro destino era Phoenix, a 630 quilômetros— e sabia que teria de fazer várias paradas ao longo do dia.

A primeira custou menos de US$ 5 e preciosos 70 minutos. Logo descobri as estações ultrarrápidas —80% de carga em menos de 20 minutos—, velozes também em descarregar o bolso (US$ 0,50, ou R$ 2,5, o kWh, uns US$ 30, mais caro que gasolina).

Apps facilitavam a localização dos eletropostos, e o computador do carro também os indicava, além de calcular se a carga era suficiente para o destino informado. Apesar da preocupação constante, ganhei confiança na tecnologia e tocava as viagens sem sobressaltos, me divertindo com as respostas rápidas de aceleração e a sensação de preservar o planeta.

Foi na noite do terceiro dia, no meio do Novo México, que alertas escandalosos de emergência piscaram na enorme tela do carro: "Estacione imediatamente e procure ajuda, não há carga suficiente para chegar ao destino nem estações no caminho".

No meio do nada, traído pela tecnologia e principalmente pelas mudanças de relevo, que afetam a autonomia do veículo, mantive a calma, decidi não parar e seguir até onde desse. O plano seria tentar encostar em algum local seguro o mais perto possível de Albuquerque, onde tinha hotel pago e reservado.
Quando restavam 2% de bateria, a 50 quilômetros do destino, parei num posto —de gasolina. Chamei o guincho, que me rebocou até um Walmart, para minha última recarga.

No dia seguinte, troquei o Hyundai por um Kia. Também sul-coreano. Mas a gasolina.

Viagens longas, só a combustão. Até que a infraestrutura melhore, buscarei alternativas menos estressantes de reduzir minhas pegadas de carbono.

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