Descrição de chapéu Folha ESG G20

Fazenda e BID trabalham em fundo para proteger investidor estrangeiro em projetos socioambientais

Ferramenta, inédita no mundo, pode cobrir até US$ 3,4 bilhões

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Washington

O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Ministério da Fazenda estão trabalhando na criação de um fundo cujo objetivo é proteger investidores estrangeiros que aportam recursos em projetos socioambientais de oscilações cambiais.

A ferramenta, a primeira do tipo no mundo, está em desenvolvimento, e a previsão é que, inicialmente, consiga cobrir ao menos US$ 3,4 bilhões em aportes, de acordo com o BID.

O presidente Lula e o chefe do BID, Ilan Goldfajn - EPA

"Uma das coisas que ouvimos de investidores é que sim, eles quem investir mais, mas se houver uma desvalorização e uma depreciação, isso é um problema, é uma incerteza", afirma o presidente do banco, Ilan Goldfajn, em conversa com jornalistas nesta quinta (14), na qual detalhou o anúncio feito na COP28.

"Nós estamos engajados com o Ministério da Fazenda para achar uma solução, um fundo, em que isso possa ser protegido [hedge, no jargão do mercado]. Esse é um produto muito importante porque, se funcionar, é algo para o mundo todo", completou.

"Muitos investidores estrangeiros não entram em projetos porque eles enfrentam incertezas relacionadas a oscilações cambiais", diz Ilan.

Durante a COP, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que a plataforma deve ser lançada no próximo ano.

Como mostrou a Folha, o mercado financeiro internacional vê com bons olhos a agenda verde do Ministério da Fazenda, mas acredita que o Brasil pode ser mais ambicioso. Há, ainda, uma preocupação que vai além da dúvida sobre a efetivação dos objetivos propostos: a eleição de 2026.

Por serem investimentos de maturação longa e com enfoque no impacto ambiental e social, o temor é que, a depender de quem ocupar o Planalto a partir de 2027, ocorra uma reviravolta nas diretrizes atuais —medo fundamentado pela gestão Jair Bolsonaro (PL).

O BID tem participado de diversas iniciativas para criar novas ferramentas financeiras com enfoque em sustentabilidade. O banco esteve envolvido, por exemplo, no desenvolvimento dos títulos verdes lançados pelo Brasil no mês passado, e que permitiram ao país levantar US$ 2 bilhões em recursos.

Essas ferramentas buscam contornar problemas comuns à região —restrições fiscais e instabilidade econômica, principalmente— que afastam investidores estrangeiros, em um momento em que a América Latina e o Caribe oferecem diversas oportunidades para projetos voltados à sustentabilidade, como energia limpa.

Perspectivas para o mercado de finanças verdes

Projeções da S&P Global

  • De US$ 900 bi a US$ 1 tri

    é a estimativa do volume total de emissões verdes, sociais, sustentáveis e SLBs em 2023

  • 14% a 16%

    é a estimativa de crescimento em relação a 2022

  • 18%

    das emissões no 1º semestre deste ano foram soberanas

  • US$ 310 bi

    foi o total emitido em títulos verdes no primeiro semestre, ou 59% do total

  • dos quais US$ 80 bi

    foram emitidos por entes soberanos

Além do Brasil, o BID também esteve envolvido na operação de dívida-por-natureza do Equador, que permitiu ao país trocar um endividamento mais caro por um mais barato, comprometendo-se a usar parte dos recursos obtidos na preservação das llhas Galápagos.

Considerando todas as operações do grupo BID, que inclui o BID público (voltado para Estados), o BID Invest (para o setor privado) e o BID Labs (para inovação), a projeção é que 2023 some um total US$ 23,6 bilhões em apoio a financiamento na América Latina e no Caribe.

A maior parte (US$ 13,5 bilhões) foi direcionada a Estados, e US$ 10,1 bilhões para o setor privado.

Um dos programas destacados pelo BID é o Amazônia para Sempre, que engloba oito países da região. Lançado em junho, a iniciativa busca combater o desmatamento e fomentar a bioeconomia, entre outros objetivos. Para 2024, a projeção é de mais de US$ 1 bilhão em projetos somente na Amazônia brasileira.

Durante a COP28, o BID anunciou a meta de triplicar seu financiamento voltado ao clima nos próximos dez anos, alcançando US$ 150 bilhões.

O financiamento para a agenda verde via instituições multilaterais, como o BID, Banco Mundial e o FMI (Fundo Monetário Internacional), vem ganhando espaço nos fóruns internacionais. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já falou que esse direcionamento vai ser uma das prioridades da presidência brasileira do G20, iniciada neste mês.

A ideia é que os organismos sejam capitalizados e disponibilizem linhas específicas para países em desenvolvimento bancarem seus projetos de transição energética e combate à crise climática, reduzindo a assimetria com os países desenvolvidos, que têm espaço fiscal para financiarem suas iniciativas.

Segundo Ilan, o BID vai trabalhar em conjunto com a presidência brasileira do G20 tanto na agenda do grupo quanto para funcionar como uma ponte entre os bancos multilaterais e os regionais

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