Gigante do petróleo suspende transporte marítimo pelo mar Vermelho após ataques no Iêmen

Além da BP, companhias de transporte de contêineres interromperam o transporte marítimo

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São Paulo

Empresas de vários setores anunciaram a interrupção do transporte de suas cargas pelo mar Vermelho em virtude do aumento de ataques de rebeldes houthis na região do Iêmen.

Nesta segunda-feira (18), a petrolífera BP, uma das gigantes do setor, comunicou a suspensão dos embarques de navios que passam pelo local devido à "situação de segurança deteriorada" gerada pelos ataques.

"A segurança de nossos funcionários e daqueles que trabalham em nosso nome é a prioridade da BP", divulgou a empresa britânica, que também afirmou que essa suspensão temporária será avaliada constantemente "com base nas circunstâncias que evoluem na região".

Militares do Iêmen exibem armas ao patrulhar mar Vermelho para evitar ataques de rebeldes houthis na região
Militares do Iêmen exibem armas ao patrulhar Mar Vermelho para evitar ataques de rebeldes houthis na região - Khaled Ziad - 12.dez.2023 / AFP

Desde sexta-feira (15), outras empresas anunciaram a suspensão das viagens. A dinamarquesa AP Moller-Maersk (segunda maior frota de transporte de contêineres do mundo), a alemã Hapag-Lloyd (quinta maior), a francesa CMA CGM e a ítalo-suíça MSC interromperam o transporte marítimo que passa pela região.

O mar Vermelho é uma "autoestrada marítima" que conecta o Mediterrâneo ao Oceano Índico e, portanto, a Europa à Ásia. Por essa rota, cerca de 20 mil navios circulam a cada ano e um dos seus pontos mais conhecidos é o Canal de Suez.

Nas últimas semanas, os rebeldes iemenitas, afiliados ao regime iraniano, aumentaram os ataques perto do Estreito de Bab Al Mandab, que separa a Península Arábica da África, e fica na rota do mar Vermelho. De acordo com a organização Washington Institute, o trajeto demora cerca de 19 dias.

Com a interrupção do tráfego pelo mar Vermelho, as embarcações têm a opção de usar a rota pelo Cabo da Boa Esperança para fazer o transporte da Ásia para a Europa. Porém, o percurso pode levar 31 dias. Com a demora, há atrasos na entrega, risco de deterioração do produto e aumento no gasto com a tripulação e com o combustível, o que gera elevação no custo do transporte marítimo.

Mapa da S&P Global mostra as duas rotas usadas para transporte marítimo da Ásia para a Europa. O primeiro passa pelo Iêmen e pelo Canal de Suez e leva 19 dias. O segundo faz o contorno pelo Cabo da Boa Esperança e demora 31 dias. - Reprodução

Mas qual é a razão dos ataques no Iêmen?

Os ataques no Iêmen têm ligação com o conflito entre Israel e o grupo terrorista Hamas. Os houthis advertiram que atacarão navios que tenham vínculos com Israel e que naveguem próximo ao litoral do Iêmen.

Os houthis são xiitas que lutam contra o governo sunita, ramo majoritário do muçulmanismo, desde 2014 no Iêmen. São bancados pelo Irã, centro do xiismo no mundo. Assim como o Hamas palestino e o Hezbollah libanês, agem de maneira coordenada.

Com a guerra decorrente do ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro e a pesada retaliação de Tel Aviv em Gaza, os houthis abriram uma frente secundária do conflito no mar Vermelho. Inicialmente, buscaram atingir Eilat, o porto principal do sul israelense, mas as defesas aéreas na região são bastante sofisticadas.

Além disso, há navios de guerra americanos e de outros países na região, que passaram a abater mísseis de cruzeiro e drones lançados contra Israel, que fica a 1.500 km das bases houthis. Assim, o foco foi passando para ações contra navios mercantes, vulneráveis sem escolta.

Nenhum foi afundado, mas vários já sofreram danos. Um deles, o cargueiro Galaxy Leader, foi abordado por um comando houthi transportado por helicóptero e sequestrado, sendo levado para um porto no Iêmen.

Vários mísseis e drones foram derrubados por navios de guerra americanos e franceses que patrulham a área.

Segundo a Câmara Naviera Internacional (ICS, da sigla em inglês), sediada em Londres, 12% do comércio mundial passa pelo mar Vermelho.

As preocupações com as dificuldades de abastecimento através da rota comercial do mar Vermelho, juntamente com a fraqueza do dólar, fizeram os preços do petróleo subirem na segunda-feira. Os papéis da Maersk valorizaram 1,9%, enquanto a Hapag-Lloyd registrou alta de 7,9%.

O petróleo Brent, referência internacional, subiu 1,9% para US$ 77,98 o barril, após o anúncio da BP. O equivalente americano, West Texas Intermediate, avançou 1,9% para US$ 72,82 o barril. O preço do gás de referência do Reino Unido subiu mais de 8%, enquanto seu equivalente europeu subiu mais de 7%, devido a preocupações com o transporte de gás natural liquefeito.

O preço do petróleo Brent poderia subir "pelo menos" US$ 10 a US$ 15 se todos os embarques do Oriente Médio para a Europa evitassem o mar Vermelho e viajassem ao redor da África, enquanto os preços para o TTF, principal referência comercial de gás da Europa, poderiam subir de 25% a 30%, disse Henning Gloystein, diretor da consultoria Eurasia Group.

"A BP é a primeira grande empresa global a [pausar os embarques]", disse Gloystein. "[Será] crucial ver agora quão forte é a resposta das forças navais dos EUA e da Europa", analisou.

Com informações de Igor Gielow, AFP e Financial Times

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