Bolsa cai com inflação acima do esperado nos EUA; dólar recua

Preços ao consumidor americano enfraquecem expectativa de corte de juros em março

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São Paulo

A Bolsa brasileira caiu 0,14% nesta quinta-feira (11), aos 130.648 pontos, após divulgações de novos dados de inflação nos Estados Unidos, que vieram mais fortes que o esperado pelo mercado.

O CPI (índice de preços ao consumidor, na sigla inglês) americano, indicador mais esperado pelo mercado nesta semana, fechou 2023 em 3,4%, levemente acima dos 3,2% projetados pelo mercado. Na variação mensal, o índice ficou em 0,3%, ante previsão de 0,2%.

Além disso, o núcleo do indicador ficou em 0,3% na variação mensal, em linha com o esperado por analistas, e desacelerou a 3,9% no acumulado do ano, ante 4,0% em novembro.

O economista-chefe do C6 Bank, Felipe Salles, diz que os novos números mostram uma leitura negativa, especialmente num contexto de mercado de trabalho ainda resiliente, como apontaram dados divulgados na última semana.

"Os dados mostraram que a inflação de serviços americana está começando a se estabilizar num patamar elevado e estão consistentes com uma inflação que não deve convergir para a meta [de 2%] tão cedo", diz o economista.

Notas de dólares enroladas
Mercado aguarda anúncio de novas medidas econômicas do governo - Dado Ruvic/Reuters

A avaliação negativa também é apontada pelo economista-chefe da Nomad, Danilo Igliori. Ele afirma que os novos números de inflação devem reduzir o otimismo do mercado sobre afrouxamento dos juros americanos.

"Apesar do Fomc [comitê de política monetária] não colocar muito peso em um indicador mensal, o número acima das projeções —e ainda longe da meta— deverá ser interpretado como um sinal de que as chances dos cortes de juros no primeiro trimestre diminuíram. A realidade é que iniciamos o ano com as possibilidades em aberto" afirma Igliori.

No fim de 2023, investidores passaram a antecipar para março as projeções de início de cortes de juros nos Estados Unidos, após dados mais fracos sobre a economia americana em novembro.

Nas últimas semanas, no entanto, a aposta perdeu força, especialmente após posicionamentos mais conservadores de membros do Fed (Federal Reserve, o banco central americano). O dado de hoje enfraquece ainda mais a tese.

"Os cortes devem vir mais para meados do ano, e projetamos que comecem no terceiro trimestre. Se os dados surpreenderem, pode haver uma antecipação. Mas na ata da última reunião, não pareceu o Fed já está preparando o terreno para um corte de juros. Trouxeram atenção para cautela, para incerteza. Para um corte em março, tem que haver surpresas de inflação e emprego, e não é o que a gente tem visto nos últimos dados", diz Salles, do C6 Bank.

Ganhos do setor de petróleo, no entanto, atenuaram as perdas do Ibovespa.

No câmbio, o dólar recuou 0,32% e terminou o dia cotado a R$ 4,875.

Os números de inflação acima do esperado fizeram os rendimentos dos títulos do Tesouro americano, os chamados "treasuries", renovarem algumas máximas no exterior e deram certa sustentação ao dólar ante as demais divisas. Por trás do movimento estava a leitura de que, com a inflação acima do esperado, o Fed terá menos espaço para iniciar seu ciclo de cortes de juros já em março.

Este entendimento fez o dólar à vista renovar a máxima no Brasil até então, de R$ 4,8940 (alta de 0,04%), às 11h07, mas o impulso era claramente limitado.

"O que aconteceu aqui foi o desmonte de posições defensivas [no dólar] quando [a cotação] bateu nos R$ 4,89, por uma leitura de que, mesmo que o dado [de inflação] tenha vindo um pouco acima do esperado, ele ainda não muda a intenção do Fed de cortar juros", comentou o diretor da Correparti Corretora, Jefferson Rugik.

Inflação do Brasil acelera, mas fecha abaixo de teto da meta em 2023

No Brasil, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou nesta manhã que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), indicador oficial de inflação do país, fechou 2023 em 4,62%, dentro do teto da meta do Banco Central.

Foi a primeira vez em três anos que a inflação terminou o acumulado anual dentro da meta da autoridade monetária, o que livrou o presidente do BC, Roberto Campos Neto, da obrigação de escrever uma nova carta aberta ao ministro da Fazenda.

Apesar disso, o indicador também surpreendeu para cima. Analistas consultados pela agência Bloomberg esperavam variação de 4,55%.

"Em linhas gerais, a surpresa resultou de uma inflação mais elevada de alimentos e de serviços. Por outro lado, mantemos a nossa visão de que ela segue em uma dinâmica benigna", afirma João Savignon, chefe de pesquisa econômica da Kínitro Capital.

Ele afirma que riscos para alta na inflação, como o El Niño, que eleva riscos de estragos no campo e ameaça reduzir a oferta de alimentos, seguem no radar, mas que um arrefecimento nos preços é possível.

Já analistas do Itaú BBA destacam que as maiores pressões nos preços vieram de bens industriais e de alimentação no domicílio, o que reforça o impacto que o El Niño deve ter no primeiro trimestre do ano. A equipe afirma, no entanto, que o movimento deve ser devolvido posteriormente ao longo do ano.

"Para 2024, projetamos continuidade do processo de desinflação em curso, com o IPCA em 3,6% no fim do ano", dizem os analistas.

Petroleiras e Eletrobras evitam perdas do Ibovespa

Apesar do pessimismo com os dados de inflação dos Estados Unidos, as perdas do dia foram limitadas por empresas do setor de petróleo, que registrou alta de 1% no exterior.

A PetroRio registrou a maior alta do dia, de 2,86%, e também ficou entre as mais negociadas da sessão. A Petrobras, uma das companhias de maior peso do Ibovespa, avançou 0,84%.

Além disso, a Eletrobras subiu 1,36% e também ficou entre os papéis mais negociados, após a empresa ter aprovado a incorporação de Furnas ao seu capital.

Com Reuters

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