Como o retorno das empresas petrolíferas estrangeiras impacta a Venezuela?

Flexibilização do embargo petrolífero imposto pelos Estados Unidos permite que a indústria do país retome parcerias

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Barbara Agelvis
Caracas | AFP

A flexibilização do embargo petrolífero imposto pelos Estados Unidos à Venezuela permite que a indústria do país caribenho, que está em crise, recupere antigos canais para vender seu petróleo e retome parcerias com empresas estrangeiras, embora seja um processo que, segundo especialistas, levará tempo.

Petroleiro ancorado na Baía de Pampatar há dois anos, na Ilha de Margarita, na Venezuela - Gustavo Granado - 19.jan.2024/AFP

Quais parceiros estão sendo reativados?

A Venezuela assinou no final do ano passado contratos com a francesa Maurel & Prom e a espanhola Repsol, cujas especificações são confidenciais, para a exploração de petróleo e gás. Esses acordos, segundo o especialista em petróleo Rafael Quiroz, permitirão "amortizar" a dívida com essas empresas.

A dívida total da estatal Petróleos de Venezuela (PDVSA) com seus parceiros e contratantes é estimada em cerca de US$ 15 bilhões.

Os passivos da PDVSA com a Maurel & Prom estão em torno de US$ 900 milhões e com a Repsol, US$ 340 milhões, de acordo com dados fornecidos por essas empresas.

Os novos contratos permitirão reinvestir em projetos conjuntos e gerar receitas por meio da arrecadação de impostos, afirma Francisco Monaldi, diretor do Programa Latino-Americano de Energia do Instituto Baker, na Universidade Rice, no Texas.

Os benefícios poderiam ser distribuídos "um terço [em dívida], um terço [em reinvestimento] e um terço [em impostos]", projetou Monaldi em declarações à AFP.

A americana Chevron já havia retomado as operações na Venezuela em junho passado, após receber a aprovação dos Estados Unidos. O país sul-americano também assinou um acordo em dezembro com a Shell para produzir e exportar gás em conjunto com Trinidad e Tobago.

Qual é o potencial de crescimento da produção?

A Venezuela, que produzia 3 milhões de barris diários (bd) quando Hugo Chávez chegou ao poder há 25 anos, viu sua produção cair para menos de meio milhão em janeiro de 2021. O número fechou em 800 mil bd em 2023, de acordo com a Opep.

A PDVSA aposta em um "aumento acelerado" em 2024, mas as previsões dos especialistas indicam que a flexibilização das sanções terá um impacto modesto.

Os contratos assinados poderiam levar a oferta venezuelana a 900 mil bd ou, em um cenário favorável, a um milhão, que o governo do presidente Nicolás Maduro promete ano após ano.

A Maurel & Prom projetou que poderia produzir entre 20 mil e 24 mil barris diários na Venezuela em 2024.

A Repsol, por sua vez, disse à AFP que espera "um aumento substancial", sem fornecer números.

Especialistas calculam que os acordos com a Repsol e a Chevron poderiam adicionar cerca de 100 mil bd à produção venezuelana.

"Tudo isso, obviamente, dependerá da continuidade da licença geral (concedida pelos Estados Unidos para a exploração de petróleo e gás na Venezuela, apesar das sanções) e, obviamente, de tudo continuar funcionando", acrescentou Monaldi.

E as receitas?

As receitas da PDVSA dobraram em um ano, passando de US$ 3 bilhões em 2022 para US$ 6,32 bilhões em 2023, segundo dados recentemente divulgados pelo governo. No entanto, esse número é significativamente inferior às estimativas independentes, em torno de US$ 10 bilhões.

Em 2024, "cerca de US$ 16 bilhões" entrariam na Venezuela, estimou Monaldi. "É um aumento muito importante. Portanto, os contratos não servirão apenas para pagar dívidas, mas também para aumentar a receita", acrescenta.

Economistas concordam, no entanto, que o aumento da renda petrolífera não se traduzirá inicialmente em uma melhoria imediata para o cidadão comum.

Os venezuelanos enfrentam uma inflação crônica, bem como uma constante desvalorização da moeda local.

O que acontece se a flexibilização for revertida?

Os Estados Unidos suspenderam o embargo até abril, após um acordo em outubro entre o governo de Maduro e a oposição sobre as eleições presidenciais deste ano.

Os especialistas consideram pouco provável que a flexibilização das sanções seja revertida, devido à crise energética decorrente da guerra na Ucrânia.

"Se a licença for mantida e esse processo for consolidado, outras empresas poderiam chegar", indica Monaldi, que adverte que seriam necessários US$ 100 bilhões em investimentos ao longo de sete anos para recuperar a infraestrutura deteriorada da indústria venezuelana e alcançar 2 milhões de bd.

Quiroz destaca que a PDVSA "não tem um centavo para investir".

Portanto, ela depende de parceiros estrangeiros e, segundo ele, "nenhuma empresa transnacional virá investir sozinha".

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