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Fórum Econômico Mundial

Davos vê relevância recuar sem figuras de peso, mas acerta diagnóstico de problemas globais

Lista de líderes globais no palco diminui quando mundo parece viver outro momento

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Davos (Suíça)

A 54ª edição do encontro anual do Fórum Econômico Mundial terminou nesta sexta-feira (19) em tom melancólico, com muitas perguntas, poucas respostas, problemas familiares e uma dúvida existencial sobre a própria relevância. No caso do Brasil, a ausência de representantes do governo na ala econômica para responder às dúvidas dos investidores globais foi sentida.

O encontro idealizado por Klaus Schwab em um balneário alpino em 1971 reúne líderes mundiais em diferentes áreas para buscar nas convergências soluções para o ano que se inicia. Em tempos de múltiplas rupturas, rápido avanço tecnológico e ascensão dos nacionalismos, essas respostas ganharam cara de quimera.

Encontro realizado no Fórum Econômico Mundial, em Davos
Encontro realizado no Fórum Econômico Mundial, em Davos, teve participação de presidente do BCE, Christine Lagarde - Denis Balibouse/Reuters

Os riscos do momento foram bem mapeados no evento, mais do que de costume: a multiplicação de desastres climáticos pelo mundo, guerras em Gaza e na Ucrânia, os atritos militares no Mar Vermelho que ameaçam o comércio internacional, o possível retorno de Donald Trump à Casa Branca, as consequências desconhecidos da rápida evolução da inteligência artificial. Mas suas soluções não aparecem em vista.

Somam-se a eles os problemas de sempre: inflação, juros altos, crises fiscais, pressão sobre o comércio, mudanças nos padrões de consumo, além do envelhecimento da população e suas consequências sobre os sistemas sanitário e previdenciário.

Um participante comentou que é frustrante debater em Davos a necessidade de mudanças e possibilidades de melhoria ano após ano e não ver nada mudar. No painel de encerramento do fórum, o presidente de Singapura, Tharman Shanmugaratnam, apontou que muitas dessas questões não têm solução realista que não passe por acordos globais (algo em baixa no momento).

A Folha ouviu executivos, diplomatas e representantes da sociedade civil ao longo dos últimos cinco dias para colher suas impressões sobre o evento e, sobretudo, quanto aos problemas. Os participantes, na maior parte dos casos, pediram para ter seus nomes e cargos omitidos para falar com mais liberdade.

Um deles apontou a demasiada expansão do número de participantes, das poucas centenas para quase 3.000, como um inibidor para os ultravips —se vem tanta gente, a definição de elite precisa ser recalibrada.

Embora o fórum tenha registrado seu recorde de participantes neste ano, o número de chefes de Estado e de governo que passaram pelos corredores do Congress Centre minguou. O de maior estatura foi o francês Emmanuel Macron, que não está em seu melhor momento em termos domésticos. O que causou mais repercussão foi o argentino Javier Milei, com sua toada libertária que culminou em críticas ao próprio evento.

E o que mais atraiu público foi o premiê chinês, Li Qiang, embora sua plateia tenha sido comparável à do painel sobre inteligência artificial que colocou no palco Sam Altman, o diretor-presidente da OpenAI, a criadora do ChatGPT.

A IA, junto com o possível retorno de Donald Trump, foram os temas mais debatidos nos corredores.

O primeiro tópico constava do programa oficial, ao lado da transição energética, algo que se tornou consensual como meta mas não como plano ou estratégia. Basta dizer que um dos países com presença mais constante no fórum era a Arábia Saudita, cuja riqueza se apoia no petróleo. Enquanto isso, a urgência da crise climática era ressaltada como inevitável em diversos painéis, inclusive por presidentes de petroleiras.

A oportunidade que o fórum oferece a políticos e a executivos de fazer contatos, selar negócios e aproximar interesses, entretanto, parece intacta.

No caso dos empresários brasileiros, vários se mostraram satisfeitos, com a ressalva de que fez falta a participação do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Há interesse no país, ainda que ele tenha decaído entre os interesses estratégicos das empresas, e a confiança de que o compromisso do governo com o equilíbrio fiscal é real parece sedimentada.

Segurança monitora uma das saídas do Fórum Econômico Mundial, em Davos
Segurança monitora uma das saídas do Fórum Econômico Mundial, em Davos - Denis Balibouse/Reuters

Como o país aproveitará a oportunidade que se abre com a ascensão da economia verde e o interesse em energia mais limpa, porém, continua a ser uma incógnita, dada a insistência da delegação do governo brasileiro em Davos em condicionar os feitos do país a uma contrapartida das economias mais ricas e a seu direito de usar por mais tempo os combustíveis fósseis.

A reconstrução da confiança entre os países que serviu de tema ao evento ainda parece inconcreta. Mas o cenário econômico global já é mais promissor do que nos anos recentes, em que pesem os riscos que permearam os debates.

A bússola que o evento representa pode estar avariada, mas ainda aponta os problemas de maior peso. Cada vez menos figuras responsáveis por decisões políticas e econômicas, entretanto, parecem de fato querer se guiar por ela.

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