Descrição de chapéu desigualdade de gênero

Governo tenta atrair mulheres para títulos públicos com oferta de seguro para investidoras

Parceria com Banco do Brasil incentiva formação de poupança de longo prazo para educação dos filhos e dependentes

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Brasília

O Tesouro Nacional quer atrair um número maior de mulheres para a base de investidores em títulos públicos, na qual a presença masculina predomina independentemente do produto negociado.

O órgão vai lançar nesta quarta-feira (17) uma parceria com o Banco do Brasil para fomentar a adesão do público feminino ao Tesouro Educa+, modalidade voltada à formação de uma poupança de longo prazo para bancar a educação universitária de filhos, netos ou sobrinhos.

Ao realizar a primeira aplicação, de pelo menos R$ 35, a investidora terá direito a uma apólice do BB Seguro Vida Mais Mulher, válida por um ano.

O secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, em seu gabinete no Ministério da Fazenda - Gabriela Biló - 04.jan.2023/Folhapress

A proteção garante aos beneficiários uma indenização de R$ 15 mil em caso de morte ou invalidez permanente da responsável financeira, além de um pagamento de cesta básica de R$ 250 por mês em caso de óbito. Há previsão também de assistência jurídica e psicológica em casos de violência doméstica.

Após o primeiro investimento no título, não há exigência de um aporte fixo mensal: a pessoa pode destinar novos recursos conforme sua realidade financeira.

A parceria com o BB, chamada de Educa+ Mulher, prevê contemplar até 100 mil mulheres no programa. Caso haja demanda maior pelo benefício, a concessão dependerá de negociações com o governo.

Além disso, após um ano, eventual renovação da apólice dependerá da opção da segurada —ou de renovação da parceria.

O governo avalia que a iniciativa pode atrair um número maior de mulheres para investir no Tesouro Direto, plataforma voltada a fomentar os investimentos de pessoas físicas.

Embora sejam 51,5% da população, elas são minoria nessas aplicações, respondendo por 37% dos investidores cadastrados e 31% do total investido.

O secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, diz à Folha que esse quadro também é observado em outras aplicações financeiras oferecidas pela iniciativa privada e retrata a baixa inclusão e educação financeira entre as mulheres.

"Isso tem raízes em questões mais estruturais. É bem estudada e conhecida a dificuldade que as mulheres têm, proporcionalmente aos homens, de terem planejamento e independência financeira e o quanto isso acaba as colocando em situações de vulnerabilidade", afirma.

Um relatório recente da SPE (Secretaria de Política Econômica), do Ministério da Fazenda, mostrou que quanto maior a faixa de renda entre os declarantes do IRPF (Imposto de Renda da Pessoa Física), menor é a participação das mulheres. O documento considera dados de 2022 (ano-calendário de 2021).

Enquanto elas representam mais de 40% da renda total declarada em todas as faixas até 15 salários mínimos (até R$ 16.500, considerando o piso vigente em 2021), a participação das mulheres cai para 13,1% no grupo que recebe por mês mais de 320 salários mínimos (R$ 352 mil) —que tem justamente nos ganhos financeiros boa parte de sua fonte de renda.

A discrepância entre os gêneros é ainda maior na declaração de patrimônio (bens líquidos), em que as mulheres tiveram participação de 29% no total declarado.

Na visão do governo, a parceria pode fomentar o primeiro investimento das mulheres, principalmente mães solo, que precisam lidar com desafios adicionais por serem as únicas responsáveis pelos filhos.

"A criança pode ser o veículo adequado para essa reflexão [sobre educação financeira], torna-se mais fácil por meio do título voltado para o ciclo universitário. E aí a gente vai juntar essa questão de gênero, que é uma das grandes aflições das mães, ou das mães solo: a preocupação com o que acontece com o filho na ausência dela. O seguro de vida vem para mitigar essa insegurança", diz Ceron.

O secretário afirma que não se trata de sugerir que a educação dos filhos é responsabilidade exclusiva das mulheres, mas sim de oferecer um incentivo para que elas acessem investimentos hoje predominantemente concentrados nas mãos de homens.

Desde o lançamento, no início de agosto de 2023, o Tesouro Educa+ já atraiu 41,9 mil investidores, dos quais somente 36% são mulheres. O saldo médio dos investimentos acumulados por elas é de R$ 3.561, abaixo dos R$ 4.311 do saldo médio entre o público masculino.

"É um benefício importante, e traz uma discussão mais profunda sobre incentivar as mulheres a participarem do programa, de pouparem alguma parte da sua renda. [Traz também] A reflexão sobre o que a falta da independência financeira das mulheres gera de situações de vulnerabilidade. Muitas mulheres acabam se submetendo a situações de vulnerabilidade em função da dependência de renda, ou da insegurança de não poder contar com um planejamento financeiro mais robusto", diz o secretário.

A expectativa é que o ingresso de novas participantes na base de investidores do Tesouro Direto possa abrir a porteira para que elas também façam outras aplicações no futuro.

A presidente do BB, Tarciana Medeiros, afirma que a parceria busca colocar as mulheres em evidência e situação de protagonismo, "planejando o futuro educacional" de seus filhos ou dependentes.

Um simulador disponível no site do Tesouro permite calcular o aporte mensal necessário para alcançar o objetivo de financiar, no futuro, a educação superior dos dependentes. De forma geral, quanto antes se começa a aplicação, menor é o esforço exigido para alcançar a renda pretendida.

Segundo o secretário do Tesouro, a iniciativa do Educa+ Mulher é a primeira de uma série de lançamentos que o órgão deve fazer em 2024 com o objetivo de unir o fomento aos investimentos e questões sociais.

O governo avalia maneiras de viabilizar, por exemplo, a aplicação de recursos no Tesouro Direto sob o compromisso de financiar ações de preservação ambiental —à semelhança da emissão dos títulos verdes no mercado internacional, inaugurada em 2023.

O Tesouro também avalia que a ação com o BB pode ser uma forma de instigar novas parcerias, inclusive com o setor privado, com o foco de promover educação financeira não só no nicho de financiamento da educação dos filhos, mas da própria aposentadoria (alvo de uma modalidade específica, o Tesouro RendA+).

Segundo ele, há possibilidade de oferecer aos consumidores a opção de direcionar as parcelas das compras já devolvidas por lojas ou instituições financeiras por meio do chamado "cashback" para o Educa+. Outra hipótese é que programas de milhagem ofereçam a alternativa de converter o saldo em investimento nos títulos.

"Ao invés de dar o cashback ou o programa de milhagem para trocar por passagem, você ter a opção de colocar automaticamente como uma conversão para o Educa+. Ou aqueles programas de arredondamento. Toda vez que passar o cartão de débito, arredonda os centavos e vai direcionando isso para a poupança do filho, que é o conceito da poupança invisível, você nem percebe que está poupando", afirma Ceron.


OS NÚMEROS DOS NOVOS TÍTULOS DO TESOURO

Renda+ (poupança para aposentadoria)

72.384 investidores

R$ 1,6 bilhão de estoque investido

35% de investidoras mulheres

Saldo médio dos homens: R$ 25.030

Saldo médio das mulheres: R$ 18.024

Educa+ (poupança para educação dos filhos)

41.956 investidores

R$ 169,7 milhões de estoque investido

36% de investidoras mulheres

Saldo médio dos homens: R$ 4.311

Saldo médio das mulheres: R$ 3.561

SIMULAÇÕES DE INVESTIMENTO NO EDUCA+

Cenário 1

Idade da criança hoje: 0 (recém-nascida)

Idade em que começará os estudos universitários: 18 anos

Renda mensal pretendida para a educação: R$ 1.000

Investimento inicial: zero

Sugestão de aporte mensal: R$ 159,37

Cenário 2

Idade da criança hoje: 0 (recém-nascida)

Idade em que começará os estudos universitários: 18 anos

Renda mensal pretendida para a educação: R$ 800

Investimento inicial: R$ 5.000

Sugestão de aporte mensal: R$ 89,16

Cenário 3

Idade da criança hoje: 10 anos

Idade em que começará os estudos universitários: 18 anos

Renda mensal pretendida para a educação: R$ 1.000

Investimento inicial: zero

Sugestão de aporte mensal: R$ 444,02

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.