Musk exige maior controle na Tesla para desenvolver inteligência artificial

Em rede social, bilionário diz que prefere trabalhar em outros projetos se não tiver 25% de participação na montadora

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Jack Ewing
Nova York | The New York Times

Elon Musk, CEO da Tesla, surpreendeu os investidores ao exigir que o conselho da empresa lhe conceda ações no valor de mais de US$ 80 bilhões se quiser que ele continue desenvolvendo produtos baseados em inteligência artificial.

Na mais recente demonstração de seu desrespeito pelas formas convencionais de comunicação com investidores, Musk disse na segunda-feira (16) à noite no X, ex-Twitter, que ele precisa possuir 25% da Tesla para evitar aquisições e ter controle suficiente da empresa à medida que desenvolve robôs e outras tecnologias de IA.

Se suas exigências não forem atendidas, Musk disse que buscaria empreendimentos não especificados fora da Tesla. Além de carros elétricos, a Tesla vem desenvolvendo um robô humanoide chamado Optimus e usa IA para desenvolver tecnologia de direção autônoma, um pilar da estratégia da empresa. Esses negócios pertencem à Tesla, e Musk não poderia simplesmente levá-los consigo.

O bilionário Elon Musk, CEO da Tesla - Guglielmo Mangiapane/Reuters

O valor de mercado da empresa, de quase US$ 700 bilhões —mais do que o dobro da Toyota Motor, a maior montadora do mundo em vendas anuais de carros— é baseada, em parte, na crença dos investidores de que a empresa liderará o restante da indústria no desenvolvimento de carros capazes de dirigir de um lugar para outro sem intervenção humana. Os investidores também estão apostando que a automação avançada permitirá que a Tesla fabrique carros de maneira muito mais eficiente e lucrativa do que os concorrentes.

Musk possui 13% da Tesla depois de vender uma parte substancial de sua participação para financiar sua aquisição de US$ 44 bilhões do Twitter. O site tem enfrentado dificuldades sob sua liderança e desvalorizou-se. Uma parcela adicional de 12% da Tesla valeria US$ 83 bilhões pelo preço atual das ações, efetivamente recuperando o investimento de Musk no Twitter —do qual ele disse se arrepender— e um pouco mais.

"Não me sinto à vontade em fazer da Tesla uma líder em IA e robótica sem ter 25% de controle de voto", escreveu Musk no X. "Suficiente para ser influente, mas não tanto a ponto de não poder ser derrubado".

Ele continuou: "A menos que isso seja o caso, eu preferiria construir produtos fora da Tesla". Mas ele também disse que o conselho não tomaria nenhuma medida até que um juiz de Delaware decida em uma ação movida por um acionista da Tesla contestando um plano de remuneração anterior que foi fundamental para tornar Musk a pessoa mais rica do mundo.

Musk testemunhou no caso de Delaware no final de 2022. Gregory Varallo, que representa acionistas na ação, disse que não sabia quando haveria uma decisão. Nenhum documento foi apresentado no caso desde julho.

A Tesla não respondeu a um pedido de comentário.

A exigência de Musk destacou até que ponto a Tesla, que vendeu 1,8 milhão de veículos no ano passado, está sujeita aos seus impulsos.

"Você nunca tem certeza do que vai ler de Elon Musk quando volta ao escritório depois de um fim de semana de três dias", disse Ben Rose, presidente da Battle Road Research, que assessora investidores institucionais. Rose chamou a exigência de Musk de "curiosa e mal cronometrada", considerando que a Tesla enfrenta uma concorrência crescente e condições econômicas difíceis.

O sucesso da Tesla sob Musk obrigou as montadoras tradicionais a começarem a oferecer veículos elétricos, que são essenciais para reduzir as emissões de gases de efeito estufa provenientes do transporte. Mas o comportamento e as declarações de Musk têm pesado sobre o preço das ações e o colocaram em apuros com reguladores.

As ações da Tesla caíram quando Musk vendeu parte de sua participação para comprar o Twitter. As ações também sofreram depois que Musk disse em 2018 que tinha dinheiro para fechar o capital da Tesla e retirá-la da Bolsa de Valores. Musk não conseguiu executar o plano. A declaração de privatização levou a uma ação movida pela Comissão de Valores Mobiliários e Câmbio, que a Tesla resolveu por US$ 40 milhões concordando que advogados revisariam o que Musk diz no Twitter. Não ficou claro se a declaração de Musk no X na segunda-feira à noite havia sido aprovada por advogados.

Seria difícil para o conselho da Tesla, que tem sido criticado por não fazer o suficiente para controlar Musk, conceder seu desejo imediatamente ou incondicionalmente. A empresa teria que emitir novas ações, disse Rose. Isso diluiria o valor das ações existentes sem levantar capital adicional para a Tesla e poderia gerar ações judiciais dos acionistas.

Rose acrescentou, no entanto, que o conselho poderia atribuir a Musk opções de ações que ele receberia apenas se alcançasse certos marcos ao longo de cinco anos ou mais. Isso seria semelhante a um pacote de remuneração que Musk recebeu em 2018 e que dependia de a Tesla atingir avaliações de mercado de ações vistas na época como ambiciosas demais. Musk se tornou o homem mais rico do mundo desafiando expectativas e atingindo as metas.

As ações da empresa caíram cerca de 11% este ano, mas subiram cerca de 70% nos últimos 12 meses.

No X, alguns fãs de Musk aplaudiram sua demanda por uma participação de 25%, dizendo que ele mereceu o dinheiro. Mas outros disseram que foi culpa dele próprio o fato de sua participação na empresa ter caído. "Eles não te obrigaram a vender suas ações", escreveu um usuário, acrescentando: "por que o conselho deveria fazer algo para corrigir isso para você?".

Uma participação inferior a 15% na empresa, disse Musk, "torna uma aquisição por interesses duvidosos muito fácil".

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