Investigação vê operações suspeitas às vésperas de recuperação judicial da 123milhas

Os sócios do grupo que administra a 123milhas fizeram transações financeiras e imobiliárias suspeitas nos meses e nos dias que antecederam seu pedido de recuperação judicial em agosto de 2023.

A 123milhas afirma que sempre esteve à disposição das autoridades.

Segundo investigação da Polícia Civil e do Ministério Público de Minas Gerais, houve transferência de dividendos milionários para os sócios e para empresas credoras que pertencem a pessoas ligadas ao grupo.

Na manhã desta quinta-feira (1), operação cumpriu 17 mandados de busca e apreensão contra integrantes do grupo econômico do qual faz parte a empresa 123 Milhas, de intermediação de venda de passagens aéreas.

Batizada de Mapa de Milhas, a operação está ligada a uma investigação que apura suspeita de associação criminosa para cometer estelionato.

Os mandados foram cumpridos em quatro residências e 13 endereços de empresas do grupo, todos em Belo Horizonte (MG), que inclui também a HotMilhas e a holding Novum. Telefones celulares dos donos e de outros administradores do grupo estão entre as apreensões.

"A partir do momento em que uma empresa pede recuperação judicial, mas em dias ou meses anteriores a isso, ela procura realizar distribuição de dividendos milionários entre os sócios, dividendos milionários para empresas credoras, mas empresas que estão em nome de pessoas relacionadas ao grupo, tudo isso pode ser uma má gestão ou crime", afirmou o promotor Rodrigo Storino, responsável pelas investigações.

A 123milhas diz que, no momento, seus gestores estão dedicados ao processo de recuperação judicial e à quitação de débitos com credores.

"A empresa disponibilizou toda a sua documentação fiscal, assim como a de seus sócios, à Comissão Parlamentar de Inquérito das Pirâmides Financeiras", afirmou a companhia, em comunicado.

A 123Milhas teve seu pedido de recuperação judicial aceito em 31 de agosto de 2023. O processo chegou a ser suspenso pela justiça, foi retomado em dezembro de 2023, e novamente suspenso no último dia 26.

À época do pedido de recuperação judicial a empresa anunciou corte de pessoal que envolveria cerca de 200 funcionários. As dívidas declaradas à Justiça somam R$ 2,3 bilhões.

Nas semanas que antecederam o pedido de recuperação judicial, a 123Milhas suspendeu pacotes e passagens da linha Promo123, que não têm data definida, que oferecia valores abaixo dos praticados no mercado.

As investigações foram iniciadas a partir de demandas que deram entrada no MP por consumidores lesados. O promotor responsável pelas investigações afirmou que, ao menos por enquanto, não foram pedidas prisões por se tratar de uma fase inicial das apurações. "Estamos em uma fase preliminar, de coletar evidências", justificou.

Segundo a delegada da Polícia Civil Karla Hermont, além dos celulares dos donos da empresa foram apreendidos ainda computadores e documentos. "Vamos analisar o material para chegar às conclusões e convalidar os indícios de autoria que justificaram os pedidos de mandado de busca e apreensão", afirmou.