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Ações de educação devem continuar em alta em 2024

Setor se beneficia de queda nos juros e no desemprego, mas possíveis mudanças regulatórias seguem no radar

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São Paulo

Surfando na onda de otimismo com os cortes de juros no Brasil, as ações do setor de educação tiveram bom desempenho na Bolsa de Valores no ano passado e devem continuar subindo em 2024, dizem analistas.

Em 2023, a Yduqs registrou a maior alta do Ibovespa, principal índice de ações da Bolsa brasileira, ao subir 123,19%. A Cogna, outro grande nome do setor, aparece em décimo lugar no ranking, com alta de 64,62%.

Fora do Ibovespa, a Ser Educacional, a Cruzeiro do Sul e a Ânima tiveram retornos 75,84%, 47,90% e 15,54%, respectivamente.

"O setor de educação brasileiro emergiu como um dos melhores desempenhos na Bolsa de Valores do país no ano passado. Inicialmente, as expectativas de incentivos governamentais para o ensino superior despertaram o entusiasmo dos investidores. Embora essas mudanças não tenham se materializado, os resultados operacionais começaram a melhorar", dizem analistas do Itaú BBA.

O banco cita, ainda, que viu tendências positivas no setor de educação em geral. Nos últimos trimestres, a maioria das empresas do setor apresentou sinais de melhoria operacional, e o forte ciclo de crescimento no ensino à distância auxiliou as companhias.

Primeiro dia da prova do Enem, em novembro de 2023, na Unisa em São Paulo
Primeiro dia da prova do Enem, em novembro de 2023, na Unisa em São Paulo - Rubens Cavallari 5.nov.23/Folhapress

O fortalecimento da geração de caixa das empresas do setor também é visto como positivo, e o BBA diz que a melhora no cenário financeiro combinada com juros mais baixos no futuro deve aumentar o dinamismo dos lucros do setor em 2024.

O cenário positivo, no entanto, veio após um período de desgaste.

Gilberto Nagai, Superintendente de Renda Variável na SulAmérica Investimentos, aponta que as empresas de educação vinham sofrendo desde 2015, quando houve mudanças que tornaram mais rígidos critérios de concessão de recursos do Fies, o maior programa de financiamento estudantil do país, limitando as ofertas de vagas de ensino pelas companhias.

Em 2020, veio a pandemia, que diminuiu o número de matrículas e, consequentemente, a receita das empresas, agravando ainda mais o endividamento do setor.

"Houve maior briga por preço, e o setor, que já estava com interesse baixo, passou a ficar cada vez mais largado", diz Nagai.

O ano passado, no entanto, representou um ponto de virada. O início do ciclo de corte de juros contribuiu para aliviar o endividamento dos grandes nomes da educação, e a expectativa de melhora no cenário macroeconômico deve impulsionar ainda mais os resultados.

"O setor de educação tende a se beneficiar da queda de juros e da taxa de desemprego. A expectativa de melhora na economia também ajuda as pessoas a decidirem entrar na faculdade, que é um investimento de quatro anos, o que deve beneficiar as empresas", afirma Fernando Siqueira, chefe de pesquisa da Guide Investimentos.

Além disso, o governo vem lançando medidas para retomar a atratividade do Fies, que perdeu popularidade nos últimos anos com a menor oferta de vagas e alto endividamento dos estudantes.

Em novembro do ano passado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sancionou uma a lei que propõe uma nova renegociação das dívidas dos estudantes no programa, com condições mais favoráveis de amortização aos estudantes.

O Itaú BBA afirma, no entanto, que o Fies vem perdendo a relevância para investidores devido expectativa de menor oferecimento de vagas anuais. Além disso, os analistas dizem haver indícios de que um eventual novo programa não deve abranger cursos a distância, que hoje representam uma grande fatia das matrículas.

"Sentimos que o entusiasmo por um novo programa diminuiu significativamente para o próximo ano, ainda que este continue a ser um gatilho importante para monitorar em 2024", afirma o banco.

Por outro lado, a retomada do programa Mais Médicos, também promovida pelo governo Lula em 2023, pode aumentar a capacidade dos cursos de medicina e, consequentemente, melhorar a receita dos principais nomes da educação superior do país.

O Itaú afirma, no entanto, que mantém uma abordagem cautelosa para empresas de educação, em especial porque o setor é bastante sensível a mudanças regulatórias —como as realizadas em 2015.

No radar, estão possíveis alterações na regulamentação do ensino à distância no país. Em novembro, uma portaria do MEC (Ministério da Educação) suspendeu os processos de credenciamento de novos cursos de ensino superior a distância em 17 áreas, entre elas direito, medicina e todas as licenciaturas.

Em dezembro, o ministro da Educação, Camilo Santana, afirmou que o governo quer proibir cursos de formação de professores 100% a distância, reforçando o clima de combate da gestão contra esse tipo que graduação, que é uma das maiores apostas da expansão do setor privado de educação superior.

Apesar disso, Siqueira, da Guide, afirma não ver riscos relevantes de regulação e recomenda investimentos no setor.

"Vale a pena investir no setor de educação hoje. Está barato e não é um setor que seca de uma hora para outra. Sempre haverá novos entrantes", diz.

Yduqs segue como 'queridinha' do mercado

Entre os principais nomes do setor de educação, a Yduqs mantém-se como a preferida, tendo recomendação de compra pela Guide e pelo Itaú BBA.

"É a maior e uma das empresas mais sólidas do setor, com mais cursos premium e mais alunos no presencial. Além disso, a Yduqs está com geração de caixa positiva, o que as outras ainda não estão conseguindo registrar", diz Siqueira.

A Genial Investimentos também afirma que a Yduqs tem conseguido mostrar maior segurança em sua posição financeira ante outras empresas do setor cobertas pela casa.

Já o BBA destaca que a Yduqs deve continuar reportando resultados operacionais positivos no curto prazo. O banco considera R$ 30 como o preço-alvo para as ações da companhia no fim deste ano, o que representaria alta de mais de 40% em 2024.

O banco também cita a Ânima como um de seus nomes favoritos no setor, com preço-alvo de R$ 8 —70% maior que os atuais R$ 4,59. Os analistas dizem, no entanto, que há risco de deslize na percepção de qualidade da companhia.

Já Siqueira, da Guide, coloca a Cruzeiro do Sul, que também tem recomendação de compra pelo BBA, como segunda opção.

A Cogna e a Ser Educacional também têm potencial de valorização, ainda que em níveis menores, segundo o BBA. Os papéis da companhia podem subir 35% e 18%, respectivamente.

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