Descrição de chapéu The New York Times China

Como a China construiu a BYD, sua concorrente da Tesla

Chinesa começou com fabricação de baterias e ultrapassou empresa de Elon Musk em vendas no último ano

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Keith Bradsher
Shenzhen (China) | The New York Times

A BYD da China era uma fabricante de baterias que tentava construir carros quando mostrou seu modelo mais recente em 2007. Executivos americanos na feira automobilística de Guangzhou ficaram boquiabertos com a pintura roxa irregular do carro e o encaixe ruim de suas portas.

"Eles eram motivo de piada na indústria", disse Michael Dunne, analista da indústria automobilística da China.

Ninguém está rindo da BYD agora.

Um modelo de automóvel Yangwang, marca de luxo da BYD, no salão do automóvel em Xangai, China, em 19 de abril de 2023 - Qilai Shen/The New York Times

A empresa ultrapassou a Tesla em vendas mundiais de carros totalmente elétricos no final do ano passado. A BYD está construindo linhas de montagem no Brasil, Hungria, Tailândia e Uzbequistão e se preparando para fazer o mesmo na Indonésia e no México. Está expandindo rapidamente as exportações para a Europa. E a empresa está prestes a ultrapassar o Grupo Volkswagen, que inclui a Audi, como líder de mercado na China.

As vendas da BYD, mais de 80% delas na China, cresceram cerca de 1 milhão de carros nos últimos dois anos. O último fabricante de automóveis a conseguir isso, mesmo em um único ano, no mercado americano foi a General Motors —e isso foi em 1946, depois que a GM suspendeu as vendas de carros de passageiros nos quatro anos anteriores por causa da Segunda Guerra Mundial.

"O crescimento da BYD é diferente de tudo que a indústria viu em muitas décadas", disse Matt Anderson, curador de transporte do Museu Henry Ford em Dearborn, Michigan.

Com sede em Shenzhen, o centro da indústria eletrônica da China, a BYD mostrou como os fabricantes de automóveis chineses podem aproveitar a dominância do país em produtos elétricos. Nenhuma empresa se beneficiou tanto da adoção chinesa de carros elétricos a bateria e carros híbridos a gasolina e elétricos plug-in. Esses veículos juntos representam 40% do mercado automobilístico da China, o maior do mundo, e espera-se que sejam mais de 50% no próximo ano. Como a maioria dos fabricantes de automóveis chineses, a BYD não vende seus carros nos Estados Unidos devido às tarifas da era Donald Trump, mas a BYD vende ônibus nos Estados Unidos.

A BYD está liderando a expansão das exportações chinesas de carros elétricos e está construindo rapidamente os maiores navios transportadores de carros do mundo. O primeiro dos navios, o BYD Explorer No. 1, está em sua viagem inaugural de Shenzhen com 5.000 carros elétricos a bordo e deve chegar à Holanda até 21 de fevereiro.

Com o sucesso, veio mais escrutínio.

Elon Musk, CEO da Tesla, alertou sobre a força das exportações chinesas de carros elétricos em uma teleconferência de resultados da empresa em janeiro. "Francamente, acho que se não houver barreiras comerciais estabelecidas, eles praticamente demolirão a maioria das outras empresas do mundo", disse ele.

Os ganhos rápidos da BYD e de outros fabricantes de automóveis chineses na Europa levaram a uma investigação da União Europeia sobre subsídios do governo chinês e podem resultar em tarifas. Os relatórios anuais da BYD mostram um total de US$ 2,6 bilhões (R$ 13 bilhões) em assistência governamental de 2008 a 2022. E isso não inclui outras ajudas, como garantir que as empresas de táxi na cidade natal da companhia comprem apenas carros elétricos BYD.

A BYD se recusou a comentar sobre os subsídios. Em comunicado, a empresa disse que o BYD Explorer No. 1, seu novo navio, "representa um marco significativo para a BYD, pois expande para mercados internacionais e contribui para o desenvolvimento da indústria global de veículos de nova energia".

A China construiu fábricas suficientes para fabricar mais do que o dobro de carros que seu mercado pode comprar. Isso levou a uma guerra de preços na China, especialmente entre a BYD e a Tesla, com descontos que causaram grandes perdas. Um dos modelos mais recentes da BYD, o subcompacto Seagull, começa em menos de US$ 11 mil (R$ 55 mil).

Uma crise imobiliária e uma queda no mercado de ações estão tornando os consumidores chineses mais cautelosos em relação à compra de um carro. Mas os baixos custos de produção da BYD a deixaram em uma posição melhor do que a maioria dos concorrentes para sobreviver a qualquer desaceleração prolongada nas vendas e na reestruturação da indústria.

BYD COMEÇOU FABRICANDO BATERIAS PARA A MOTOROLA

O presidente da BYD, Wang Chuanfu, fundou a empresa em 1995 para fabricar baterias para a Motorola e outras empresas de eletrônicos de consumo. Ele havia estudado na Universidade Central do Sul em Changsha, uma instituição de elite famosa por pesquisas em química de baterias. Mas ele sonhava em fabricar carros.

Em 2003, a BYD comprou uma fábrica em Xi'an que estava construindo carros a gasolina. Mas a empresa teve problemas no início, ganhando uma reputação inicial de construir carros ruins. Em uma visita à fábrica em 2006, uma grande área de reparo no final da linha de montagem estava entupida de carros recém-construídos que já precisavam de mais trabalho.

As vendas da BYD cresceram à medida que o mercado chinês disparou. Warren Buffett comprou uma participação de quase 10% por US$ 230 milhões (R$ 1,15 bilhão) em 2008, dando à BYD não apenas um influxo de dinheiro, mas também prestígio global. No mesmo ano, Wang prometeu começar a exportar carros elétricos a bateria para os Estados Unidos dentro de dois anos.

Mas os carros elétricos na época custavam muito para serem construídos e tinham alcance limitado, e Wang teve que abandonar seus planos de entrar no mercado americano. Em uma entrevista em 2011, ele questionou sua ênfase nos carros elétricos a bateria. As montadoras deveriam se concentrar nos híbridos gasolina-elétricos, declarou. Ele acrescentou: "Ainda há um potencial tremendo no mercado chinês para carros elétricos".

Em 2012, a produção de carros na China alcançou a demanda. Os compradores se tornaram mais exigentes. As vendas de carros da BYD e o preço das ações despencaram à medida que as multinacionais ofereciam modelos mais elegantes. Executivos da indústria e analistas questionaram se a BYD tinha futuro.

Mas Wang prosseguiu com duas apostas arriscadas que deram certo.

Em 2016, ele contratou Wolfgang Egger, um designer proeminente da Audi, que por sua vez contratou centenas de engenheiros automotivos com gostos arrojados. Eles redesenharam completamente os modelos da BYD.

Wang também descobriu como substituir os produtos químicos padrão da indústria em baterias de lítio recarregáveis - níquel, cobalto e manganês - por ferro e fosfato mais baratos. As primeiras baterias feitas a partir dos compostos químicos baratos, porém, ficavam sem carga rapidamente e precisavam ser recarregadas mesmo em viagens curtas.

Em 2020, a BYD lançou suas baterias Blade, que reduziram a maior parte da chamada lacuna de alcance em comparação com as baterias de níquel-cobalto a uma fração do custo.

A Tesla começou a fabricar e vender um grande número de carros na China no mesmo ano, e o entusiasmo pelos carros elétricos varreu o país. A BYD estava pronta com químicas de bateria baratas e os novos designs de Egger.

A Tesla também começou a usar baterias de fosfato de ferro e lítio em modelos menos caros. A BYD ainda vende principalmente carros mais baratos com menor alcance, enquanto a Tesla vende principalmente carros mais caros com maior alcance.

A BYD agora tem sua própria cidade murada em Shenzhen, uma cidade do sudeste ao lado de Hong Kong. Um monotrilho estilo aeroporto transporta os trabalhadores dos apartamentos de 18 andares da empresa para os prédios de escritórios e laboratórios de pesquisa da BYD.

Liu Qiangqiang, um engenheiro do centro de Shenzhen, disse que a equipe de desenvolvimento de carros quase triplicou desde que ele se juntou à empresa há 15 meses, vindo da GM.

"O ritmo é rápido", disse ele.

INVESTIMENTO EM DIREÇÃO ASSISTIDA

Depois de descartar a direção autônoma há um ano, a BYD entrou em ação quando as empresas de eletrônicos de consumo Huawei e Xiaomi introduziram carros com consideráveis habilidades de direção autônoma. Wang anunciou em janeiro que a BYD tinha 4.000 engenheiros trabalhando em direção assistida, uma forma limitada de tecnologia autônoma que funciona principalmente em rodovias e grandes estradas, e investiria US$ 14 bilhões (R$ 70 bilhões) na tecnologia.

A BYD tem uma vantagem duradoura sobre a Tesla: a decisão de Wang, até 2011, de desenvolver carros híbridos plug-in, que representam quase metade das vendas da BYD.

Li Jingyu, um vendedor em uma concessionária da BYD em Shenzhen, disse que muitas famílias compraram um híbrido como seu primeiro carro para poder dirigir no Ano Novo Lunar de volta às suas aldeias ancestrais. A maioria das aldeias na China agora possui carregadores, disse Li, mas não o suficiente para as multidões de motoristas visitantes no Ano Novo Lunar, que começou na noite de sexta-feira (9).

"As pessoas estão apenas preocupadas", disse ele, "com o tempo de espera".

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