Fusão Arezzo e Soma começou em bate-papo no Copacabana Palace há três anos

Maior empresa de moda da América Latina nasceu a partir da disputa pela Hering e vai reunir 34 marcas; fundador da XP vai para o conselho

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São Paulo

Era abril de 2021 e o Grupo Soma, dono das grifes cariocas Animale e Farm, havia acabado de comprar a Hering por R$ 5,14 bilhões. Venceu a rival Arezzo&Co. na disputa, que havia oferecido R$ 3,2 bilhões para ficar com a empresa fundada em 1880 em Blumenau (SC), por dois irmãos imigrantes alemães.

Na época, Roberto Jatahy, presidente do Soma, ficou preocupado com a possibilidade de Alexandre Birman, presidente da Arezzo, ter guardado algum ressentimento do episódio.

"Mas eu recebi um convite dele para batermos um papo no [hotel] Copacabana Palace. Fui e a partir dali começamos a pensar juntos um projeto que acabou virando a fusão das duas empresas", disse Jatahy, 54, nesta segunda-feira (5), durante coletiva de imprensa para anunciar a união entre Soma e Arezzo, fechada neste domingo (4).

Dois homens brancos fazem o gesto hi-five
O presidente da Arezzo&Co., Alexandre Birman (à esquerda), cumprimenta o presidente do Grupo Soma, Roberto Jatahy, em apresentação sobre o anúncio da fusão. - Rubens Cavallari/Folhapress

As negociações se intensificaram nos últimos 10 dias e, neste domingo (4), quando os últimos detalhes foram acertados, a reunião durou mais de 10 horas. "O rio corre para o mar" disse Jatahy. "A gente tem uma complementaridade bacana e em algum momento iríamos nos unir."

Guilherme Benchimol, 47, fundador da XP Investimentos, que fez a assessoria financeira das empresas na operação, será um dos sete membros do conselho, cujo chairman ainda não foi definido.

A empresa resultante da fusão –que deve ganhar um novo nome até junho, quando será realizada a assembleia de acionistas– será a maior companhia de moda da América Latina em número de marcas. Serão 34 grifes envolvendo roupas, sapatos e acessórios para o público feminino, masculino e infantil. Ao todo, a nova empresa soma oito fábricas (quatro de calçados e quatro de vestuário) e sete centros de distribuição.

Com faturamento anual estimado em R$ 12 bilhões, lucro líquido de R$ 753 milhões, Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) de R$ 1,53 bilhão, e dívida líquida de R$ 1,3 bilhão, a nova gigante varejista tem valor de mercado de R$ 13 bilhões e patrimônio líquido de R$ 10,5 bilhões, conforme levantamento realizado pelo consultor de dados financeiros de mercado Einar Rivero.

Ao todo são 2.057 lojas (559 próprias), presença em 22 mil pontos multimarcas e 22 mil funcionários. A base consolidada de clientes ativos, a maioria da classe média alta, soma 11 milhões.

"Ter todas essas marcas não é um desafio ou um problema, é um trunfo", disse Alexandre Birman, 47, à Folha, quando questionado sobre a possibilidade de haver alguma canibalização entre marcas, que atendem um mesmo público consumidor de produtos premium de moda.

"Nós já temos diversas marcas dentro da Arezzo&Co. e sempre crescemos. Com a Soma, não será diferente, pelo contrário, as possibilidades de crescimento são muito maiores", disse.

Um exemplo é o desenvolvimento de calçados Hering. Ou a venda de sapatos da Schutz nas lojas da Animale.

"Qualquer crescimento de receita de 5% a partir deste cross-selling [venda cruzada] em cada uma das marcas será bem-vindo, vai cumprir o papel de gerar sinergias", disse Rafael Sachete, principal executivo de finanças da Arezzo&Co.

De acordo com Birman, a intenção da fusão não é "sair fazendo cortes de todo lado". A nova empresa contratou a consultoria Bain & Company para estudar o potencial de sinergias, cujo valor estimado não revelado.

"Não temos pressa: este ano será de estruturação, vamos consolidar a fusão. A partir do ano que vem, veremos o crescimento acontecer", disse Birman, reforçando que não pretende descontinuar nenhuma das 34 marcas. "Vamos criar mais", diz ele. Jatahy concorda. "Já temos marcas com presença internacional. Nosso sonho é ser global", diz.

O acordo de acionistas fechado no domingo tem duração de 10 anos. O conselho de administração será formado por sete membros: cada uma das empresas vai indicar três nomes, um deles independente. O presidente do conselho será escolhido em comum acordo por Soma e Arezzo.

"Queremos ter mais mulheres conselheiras profissionais no novo board", diz Birman. Hoje, no conselho da Arezzo&Co., há apenas duas mulheres ante sete homens, enquanto no Soma são duas conselheiras e seis conselheiros.

Birman será o presidente da nova companhia, que passa a ser dividida em quatro grandes unidades de negócios: calçados e acessórios, vestuário feminino, vestuário democrático e vestuário masculino.

Com exceção de calçados e acessórios, que será comandada por Luciana Wodzik (50 anos, prata da casa, que começou na Arezzo como "modelo de calce"), as demais áreas de negócios serão comandadas pelos principais executivos das respectivas marcas.

É assim que Roberto Jatahy ficará com a divisão de vestuário feminino; Thiago Hering, 41, com a de vestuário democrático; e Rony Meisler (43, fundador da Reserva, comprada pela Arezzo em dezembro de 2020) será o responsável pela unidade de vestuário masculino.

'Todos rumo a 2154!'

A dificuldade de conciliar culturas organizacionais diferentes em um único conglomerado já foi apontado por especialistas como um dos maiores desafios da nova varejista de moda, que nasce ocupando a vice-liderança nacional em vendas, só atrás da Renner.

"É normal ter diferenças de cultura entre as empresas, mas não de princípios, caso contrário a convivência se torna inviável", diz Jatahy, que recorda a primeira grande fusão do Soma, a união entre Animale e Farm, em 2010. "Não é um processo fácil, mas quando se tem respeito pelo trabalho do outro, você consegue intervir a favor da marca, sem interferir no processo criativo", diz ele, ressaltando que, neste modelo de negócios, fusão se aprende na prática.

O foco da nova empresa, diz Birman, é a perenidade e a geração sustentável de valor. "Todos juntos rumo a 2154!", brincou, usando um mantra da Arezzo&Co. criado pelo pai, Anderson Birman, que fundou a fabricante de calçados em 1972.

Nascido em 1954, Anderson Birman adotou o ano de 2154 como meta para garantir a longevidade da companhia. O fundador, que deixou a Arezzo em 2013, hoje enfrenta o Parkison, mas é consultado pelo filho nas principais tomadas de decisão. "Ele esteve no Rio recentemente para conhecer o Roberto e acompanhou a reta final das negociações."

MARCAS DA AREZZO&CO:

  • Arezzo
  • Schutz
  • Anacapri
  • Alexandre Birman
  • Alme
  • Brizza
  • Vans
  • AR&CO (Reserva, Reserva Mini, Oficina, Reserva Ink, Reserva Go, Reversa e Simples)
  • Troc
  • ZZ Mall
  • Baw Clothing
  • Carol Bassi
  • Vicenza
  • Paris Texas

MARCAS DO GRUPO SOMA:

  • Animale
  • Farm
  • Fábula
  • Foxton
  • Cris Barros
  • Off Premium
  • Maria Filó
  • NV
  • Hering
  • Hering Kids
  • Hering Intimates
  • Hering Sports
  • Dzarm
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