Arezzo e Grupo Soma selam fusão para formar gigante varejista de R$ 12 bilhões

Após dez horas de reunião, ficou decidido que Arezzo terá 54% e, Soma, 46% da nova empresa, dona de 34 marcas, a maioria premium

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São Paulo

A fabricante e varejista de calçados Arezzo&Co e o Grupo Soma, de varejo de moda, selaram no final da noite deste domingo (4) a fusão das duas empresas. O controle da companhia será da Arezzo, que terá 54% do capital, enquanto o Soma fica com 46%. Os novos sócios estiveram reunidos durante mais de dez horas para acertar os detalhes do negócio, anunciado oficialmente nesta segunda-feira (5) em fato relevante.

A informação sobre o acerto da fusão foi antecipada pelo jornal Valor Econômico e confirmada pela Folha. Está prevista para as 11h uma apresentação presencial para investidores, em um espaço na zona sul de São Paulo.

Em valor de mercado das empresas, é a maior operação de fusão dos últimos 13 anos, desde a união de Droga Raia e Drogasil, em agosto de 2011, que deu origem à Raia Drogasil.

Ambas as empresas já tinham divulgado um comunicado ao mercado no último dia 31, informando sobre as negociações para a fusão. Na ocasião, disseram que o atual CEO da Arezzo, Alexandre Birman, será o presidente da nova empresa, que terá Roberto Jatahy, atual presidente do Soma, como principal executivo da unidade de vestuário feminino. Essas definições se mantiveram na reunião deste domingo.

vitrine de loja de calçados
Fachada da loja Arezzo. - Divulgação

Conforme fato relevante, Rony Meisler, ex-presidente do grupo Reserva, adquirido pela Arezzo em outubro de 2020, será o presidente da unidade AR&Co., que inclui as marcas de vestuário masculino do Reserva, além da grife feminina Reversa. Thiago Hering continua como CEO da unidade de negócios Hering.

Já o conselho de administração deve ser formado por sete membros: três de cada uma das empresas —além do presidente, um nome indicado pelas duas companhias.

Hoje a Arezzo tem nove membros no conselho e, o Soma, oito. Em ambos os boards, o presidente do conselho é um membro independente, não vinculado às companhias.

A nova empresa, que receberá nova denominação social ainda não divulgada, terá quatro verticais de negócio: calçados e bolsas; vestuário e lifestyle feminino; vestuário e lifestyle masculino; e vestuário democrático.

"Com a implementação da operação, a companhia alcança um faturamento próximo de R$ 12 bilhões (considerando os respectivos faturamentos brutos LTM apurados nos ITRs do 3T23) e passará a comercializar calçados, bolsas, itens de moda masculina, feminina e infantil, incluindo roupas e acessórios por meio de suas 34 marcas e mais 2 mil lojas, próprias e franquias", diz o comunicado.

Projeção feita pelo banco BTG apontou que Arezzo e Soma juntas teriam uma receita líquida estimada em R$ 10,2 bilhões em 2023, o que as colocaria logo atrás da Renner, atual líder do setor, com R$ 11,7 bilhões (o balanço do 4º trimestre das empresas de capital aberto ainda não foi divulgado). Em 2022, Arezzo e Soma registraram juntas R$ 9,1 bilhões de receita líquida.

Em termos de vendas brutas, ou faturamento, a nova empresa resultante da fusão chegaria a R$ 12,3 bilhões em 2023, prevê o BTG, o que ultrapassa o faturamento da gigante online asiática Shein no país, da ordem de R$ 10 bilhões no ano passado, aponta o banco.

As companhias indicaram nos últimos dias que a transação tem potencial para gerar R$ 4,5 bilhões em sinergias, boa parte disso na possibilidade de "venda casada" entre as marcas –lojas Farm com calçados da Arezzo, por exemplo. As mais de 30 marcas da nova empresa são destinadas ao mercado premium. Apenas Hering é a marca mais popular do grupo.

Há também expectativa de redução de custos em despesas gerais e administrativas, nas áreas de recursos humanos e tecnologia. De acordo com estimativas do banco Safra, essa redução giraria em torno de R$ 200 milhões ao ano.

O anúncio da fusão chega em um momento delicado para as gigantes da moda no Brasil. O avanço das varejistas asiáticas, especialmente da Shein, que deu início à produção local, colocou o mundo da moda em suspenso, na tentativa de avançar com o uso de inteligência artificial e redução de estoques a fim de reduzir custos e ganhar em eficiência.

A Shein, cujo faturamento de mais de R$ 10 bilhões no país já a deixaria à frente de redes consolidadas, como Marisa e C&A, é a dona do aplicativo de moda mais baixado do Brasil em 2023: foram 53 milhões de downloads, segundo a ferramenta de pesquisas de mercado AppMagic. Este ano, a companhia deve abrir o capital nos Estados Unidos.

Nova empresa deve concentrar mercado de moda premium no Brasil

"Há vários potenciais ganhos que dão sentido a esta fusão, como a complementariedade das marcas premium, como Arezzo, Reserva, Farm, Animale, além da Hering, que é democrática", diz o consultor Alberto Serrentino, sócio da Varese Retail.

"A nova empresa resultante da fusão será uma 'house of brands' [casa de marcas] bastante musculosa e abrangente, com várias sinergias entre os negócios", diz ele, referindo-se à forte estrutura de distribuição dos dois grupos, que envolve lojas próprias e franquias, principalmente em shopping centers, além de lojas multimarcas e as respectivas operações de comércio eletrônico.

A nova empresa não vai concorrer com o mercado de massa, como Renner e C&A, diz Serrentino. "Ela vai dominar o mercado premium, que é relativamente pequeno no Brasil. Mas as duas companhias têm projetos de internacionalização de suas marcas", afirma. "O país é muito competitivo no mercado de calçados e de moda, uma vez que tem a cadeia completa: desde a diversidade de matéria-prima até a ampla rede de varejo."

Para o especialista, este será um bom ano para o negócio de moda, uma vez que o brasileiro vê a recuperação dos níveis de emprego, renda e confiança.

Na opinião do consultor André Pimentel, sócio da Performa Partners, o maior desafio da nova empresa será conciliar cultura organizacional e governança, uma vez que tanto Arezzo quanto Soma têm como principais acionistas as respectivas famílias fundadoras, Birman e Jatahy.

No fato relevante desta segunda, são citados como acionistas da nova empresa o fundador da Arezzo, Anderson Lemos Birman, e seu filho mais velho e sucessor, Alexandre Café Birman. Do lado do Soma, são citados os três irmãos Roberto Luiz Jatahy Gonçalves, Cláudia Jatahy Gonçalves e Gisella Jatahy Gonçalves, que criaram a Animale, além de Marcello Ribeiro Bastos e Kátia Ferreira de Barros, fundadores da Farm.

"Não é fácil implementar uma fusão em uma empresa que tem duas fortes personalidades envolvidas", diz Pimentel, que considera, porém, o negócio muito positivo para a competitividade do setor de moda, especialmente pela diversidade de marcas premium.

Para o sócio da Performa, a sinergia deve ocorrer nas áreas administrativa e financeira, além de compras e distribuição. "Mas nessas duas últimas é possível que a integração dê mais trabalho, uma vez que se tratam de marcas com diferentes públicos e especificidades."

O Itaú BBA e o Bank of America atuaram como assessores financeiros da Arezzo&Co na operação, enquanto o Soma foi assessorado pelo J.P. Morgan.

Marcas da Arezzo&Co:

  • Arezzo
  • Schutz
  • Anacapri
  • Alexandre Birman
  • Alme
  • Brizza
  • Vans
  • AR&CO (Reserva, Reserva Mini, Oficina, Reserva Ink, Reserva Go, Reversa e Simples)
  • Troc
  • ZZ Mall
  • Baw Clothing
  • Carol Bassi
  • Vicenza
  • Paris Texas

Marcas do Grupo Soma:

  • Animale
  • Farm
  • Fábula
  • Foxton
  • Cris Barros
  • Off Premium
  • Maria Filó
  • NV
  • Hering
  • Hering Kids
  • Hering Intimates
  • Hering Sports
  • Dzarm
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