Fusão de Arezzo e Soma levanta dúvidas no mercado

Analistas veem com bons olhos a possível captura de sinergias das empresas, mas notam desafios no sucesso da integração

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Um dia depois de a Arezzo e o Grupo Soma confirmarem a fusão das empresas, a Natura &Co, que fez um forte movimento de expansão e globalização há anos, anunciou que avalia separar as marcas Natura e Avon e criar duas companhias independentes.

A notícia veio na mesma esteira das vendas pela empresa das companhias britânica The Body Shop e da australiana Aesop.

Apesar de o mercado ter respondido com alta nas ações à primeira notícia de fusão de Arezzo e Soma, depois os papéis de ambas companhias devolveram boa parte dos ganhos. Embora tenham visto sentido no anúncio e um possível ganho de sinergias entre as empresas, analistas ainda têm dúvida quanto à execução da transação.

O analista José Eduardo Daronco, da Suno Research, diz que é natural que se questione o sucesso da operação, uma vez que a maioria das fusões e aquisições no mundo fracassa em algum momento.

Loja da marca de calçados Arezzo na Rua Oscar Freire, em São Paulo
Loja da marca de calçados Arezzo na Rua Oscar Freire, em São Paulo - Rubens Cavallari/Folhapress

Segundo o especialista, o processo de integração de companhias com culturas diferentes é sempre complicado e desafiador. "Empresas são feitas de pessoas, então, a cultura organizacional impacta muito o processo", diz Daronco.

Os desafios na integração dos negócios também foram levantados como ponto de atenção por analistas do BTG Pactual em relatório recente sobre a fusão. "[É] uma grande transação, com riscos de execução", dizem os analistas Luiz Guanais, Gabriel Disselli e Pedro Lima, do BTG.

"Apesar de ser um negócio complexo que cria um player gigante com múltiplas marcas (e diferentes culturas) nos segmentos de vestuário/calçados, sem contar os riscos de execução no processo de integração, poderia permitir a captura de sinergias em distribuição, produto, desenvolvimento, operações de franquia e produção", concluem.

Daronco chama atenção para o fato de que, no início, os cálculos de sinergia são meras previsões, e quase nunca elas se concretizam, já que há outros fatores além dos números. Ele cita como exemplo a fusão das operadoras de saúde Hapvida e Intermédica em 2021.

Na época, havia muitas chances de ganhos, com a ampliação da área de atuação de ambas por meio da complementaridade geográfica e a consequente criação de uma gigante da saúde suplementar, forte aumento da base de clientes, economia de custos e otimização de despesas. Além disso, as naturezas dos negócios já eram bem similares.

Mas a combinação dos negócios previu que ela teria dois presidentes, Jorge Pinheiro, CEO da Hapvida, e Irlau Machado Filho, que era CEO da Intermédica.

Esse modelo, segundo Daronco, mostrou-se malsucedido mais tarde o que impactou os resultados financeiros da companhia, com números desastrosos, diz o especialista.

No caso da Arezzo e da Soma, Daronco vê como positivo o fato de as empresas terem optado por um modelo de fusão em que ambas integralizam apenas uma parte da gestão mas seguem sendo companhias independentes, o que garante a criação de estratégias para cada marca.

O especialista lembra que, especificamente no varejo de moda, cada marca tem um público diferente, com comportamentos e interesses distintos, e preservar isso é importante.

Esse é, inclusive, o caminho estudado pela Natura &Co, com a possível separação das marcas Natura e Avon.

HERING PREOCUPA

Outro ponto de atenção para alguns analistas é a Hering, do Grupo Soma. No geral, há uma percepção de complementaridade das marcas da Arezzo&Co, dona da Arezzo, Schultz e Alexandre Birman, e do Grupo Soma, que é detentora da Farm e da Animale.

Ambas as empresas são voltadas prioritariamente para o público de alta renda, que é resiliente a momentos macroeconômicos mais desafiadores, de inflação, juros e inadimplência altos, como o que o Brasil e o mundo passam neste momento. Além disso, o tíquete médio dos produtos dessas marcas é maior.

"Arezzo e Soma têm uma complementaridade de produtos. Eu vejo como positiva a fusão, porque tem sinergia entre as empresas para destravar e há um cross-seling entre as marcas", diz Gabriel Costa, da Toro Investimentos, referindo-se à similaridade do público de ambas as empresas.

Mas a Hering é um ponto fora da curva para o analista Phill Soares, da Órama Investimentos. A marca, que é responsável por quase 40% da receita do Grupo Soma, compete com Renner, Riachuelo e C&A.

Na visão do analista, a Hering enfrentará uma competitividade maior quando essas empresas desafogarem com a queda dos juros no país.

O especialista cita ainda o fato de o endividamento do Grupo Soma ter piorado depois da aquisição da Hering, em 2021.

"A Arezzo e o Grupo Soma estão em momentos diferentes, o que coloca em dúvida a fusão. Enquanto a gente vê a Arezzo sólida, a lucratividade da Hering não foi 100% bem-sucedida após o turnaround da empresa", diz Soares.

A gestora recomenda a compra da ação da Arezzo, mas agora está revendo a posição. "A Arezzo era nossa maior aposta no varejo ao lado da Vivara, e agora estamos revisando isso", afirmou.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.