Instagram vira plataforma de notícias com 'infoencers' enquanto tenta barrar conteúdo político

Cada vez mais pessoas nos EUA acessam conteúdo jornalístico na rede social, impulsionando os influencers da informação

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Sapna Maheshwari Mike Isaac
The New York Times

Em uma quarta-feira recente em Nova York, Mosheh Oinounou, ex-produtor da CBS, Bloomberg News e Fox News, rolava o feed do Instagram. Ele havia começado sua manhã lendo grandes jornais e várias newsletters. Em seguida, passou a maior parte do dia transformando muitos desses artigos em publicações em seu perfil na rede social, sob o nome Mo News.

Uma matéria do Wall Street Journal sobre o envelhecimento dos americanos foi compartilhada por meio de uma imagem de um bolo declarando que o "número de americanos que vai completar 65 anos bate recorde em 2024".

Às vezes, Oinounou, 41, também aparece em vídeo com a coapresentadora de seu podcast de notícias diário para mostrar como os candidatos presidenciais republicanos estão nas pesquisas eleitorais e explicar por que o presidente Joe Biden não está na cédula do estado de New Hampshire.

O conteúdo rendeu ao Mo News 436 mil seguidores no Instagram, transformando o que havia sido um projeto paralelo durante a pandemia em uma empresa de maior destaque com três funcionários em tempo integral.

Mosheh Oinounou of Mo News and his co-host, Jill Wagner, record a daily news podcast in New York
Gravação do podcast do Mo News, com Mosheh Oinounou e Jill Wagner, em Nova York - DeSean McClinton-Holland -7.fev.2024/The New York Times

Em dezembro, o Departamento de Estado ofereceu ao Mo News uma entrevista com o Secretário de Estado, Antony Blinken. A pasta disse a Oinounou que entende como as pessoas estão consumindo notícias hoje em dia.

"As pessoas estão muito críticas e cínicas em relação às informações que estão recebendo de fontes tradicionais", disse Oinounou em uma entrevista. "Isso chega ao ponto de um cara qualquer no Instagram estar produzindo as notícias".

Oinounou faz parte de um grupo de personalidades que descobriram como embalar informações e entregá-las pelo Instagram, transformando a rede social cada vez mais em uma plataforma de notícias.

Muitos millennials e membros da geração X se sentem mais à vontade lendo notícias no Instagram e compartilhando posts e vídeos para amigos nos Stories, que desaparecem após 24 horas.

Empresas de notícias tradicionais, como o The New York Times, têm grandes feeds no Instagram onde compartilham reportagens, mas os perfis de notícias como o Mo News têm um apelo diferente e se tornaram mais visíveis nos últimos anos.

Eles fazem curadoria de conteúdo como blogs do início da internet e falam para a câmera como influenciadores do TikTok e do YouTube. Eles pegam manchetes de vários veículos importantes e acrescentam uma análise própria. Eles conversam com seguidores nos comentários e trocam mensagens, usando o feedback e as perguntas para elaborar novas postagens. Muitos dizem ser apartidários.

"Muitas pessoas têm os chefs em quem confiam, os médicos em quem confiam e agora há uma categoria de notícias e informações em que confiam", disse Jessica Yellin, ex-correspondente da Casa Branca da CNN.

Yellin, que tem mais de 650 mil seguidores em sua conta de notícias no Instagram e uma marca chamada News Not Noise, se autodenomina uma "infoencer", mistura de informação com influencer.

Jessica Yellin, ex-correspondente na Casa Branca da CNN, agora tem conta de notícias no Instagram - Elizabeth Weinberg - 7.fev.2024/The New York Times

Tudo isso torna o Instagram, da Meta, um veículo de notícias cada vez mais importante nas eleições presidenciais dos EUA deste ano. Até o ano passado, 16% dos adultos nos EUA obtinham notícias no Instagram regularmente, superando TikTok, o X e o Reddit. Em 2018, a fatia era de 8%, de acordo com o Pew Research Center. Mais da metade desse grupo eram mulheres.

Os influenciadores de notícias se tornaram populares no Instagram mesmo depois que a plataforma tentou desvalorizar o conteúdo político. O Instagram e sua plataforma irmã, o Facebook, têm sido atormentados por acusações de disseminação de desinformação e inflamação de debates políticos.

Adam Mosseri, o chefe do Instagram, tem evitado que o aplicativo se associe ou promova contas de notícias.

Neste mês, Mosseri disse que o Instagram não recomendaria "conteúdo político" em diferentes partes do aplicativo, a menos que os usuários optassem por vê-lo. A plataforma disse que o conteúdo político incluía postagens "potencialmente relacionadas a assuntos como leis, eleições ou tópicos sociais".

Na semana após o anúncio de Mosseri, as contas de notícias experimentaram uma queda em compartilhamentos, comentários, curtidas, alcance e visualizações, de acordo com uma análise da Dash Hudson, empresa de gerenciamento de redes sociais.

Os compartilhamentos de postagens de 70 grandes contas de notícias no Instagram, incluindo o Times e a NPR, caíram em média 26% na semana, segundo a empresa.

Em protesto, Yellin fez um vídeo denunciando as mudanças do Instagram e escreveu em sua newsletter que as medidas "inevitavelmente impactarão o acesso à informação pelo eleitorado e podem ter repercussões de longo alcance para o futuro da mídia e até da democracia".

Um porta-voz do Instagram se recusou a comentar além das declarações de Mosseri, que já elogiou alguns influenciadores de notícias pelo trabalho. Ele segue uma conta paga exclusiva para assinantes do Mo News no Instagram.

Outros influenciadores de notícias proeminentes no Instagram incluem Sharon McMahon, 46, ex-professora do ensino médio em Duluth, Minnesota, que atraiu mais de 1 milhão de seguidores explicando como funciona o governo.

Existem influenciadores mais politicamente explícitos, como Emily Amick, 39, advogada com mais de 134 mil seguidores. Também há o Roca News, criado por jovens na casa dos 20 anos que veem o Instagram como uma forma de alcançar colegas que se sentem alienados pelos meios de comunicação tradicionais.

McMahon disse que foi inspirada a iniciar sua conta de notícias no Instagram após ver desinformação antes das eleições de 2020.

"Eu realmente não me vejo como uma jornalista, mas mais como uma professora", disse McMahon. "Estou explicando o que está acontecendo em vez de buscar fontes, investigar e conseguir um furo de reportagem."

O Instagram funciona como um ponto de partida que depois se expande para newsletters e podcasts, onde as contas podem ganhar dinheiro com publicidade ou assinaturas. Muitos influenciadores de notícias também aceitam acordos para incorporar anúncios em postagens na rede social.

McMahon administra um clube do livro fechado para assinantes —que tem uma lista de espera para entrar— e oferece workshops em vídeo pagos para quem quiser aprender mais sobre o governo e questões políticas atuais.

Quando a Casa Branca organizou uma festa para influenciadores no ano passado, Oinounou, Yellin e Amick foram convidados. Christian Tom, diretor do escritório de estratégia digital da Casa Branca, que ajudou a conceber a ideia da festa, disse que o governo trabalha regularmente com contas de notícias do Instagram.

"Há muitas contas que compartilham notícias que têm um público de milhões de pessoas que talvez não sejam alcançadas pela Casa Branca ou que não a acompanham de forma alguma", disse.

Mesmo com as mudanças do Instagram para o alcance de conteúdo, os usuários continuarão vendo notícias de contas que já seguem e por meio dos Stories de seus amigos.

"Todo mundo meio que se tornou um veículo ou uma fonte de informação para amigos e familiares", disse Oinounou.

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