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Melhora na arrecadação aumenta chance de reajuste para servidores, diz ministra

Esther Dweck afirma que qualquer aumento deverá estar em linha com meta de Haddad de zerar déficit nas contas públicas

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Brasília

A ministra da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck, afirmou nesta segunda-feira (5) que a melhora da arrecadação no início do ano aumenta as chances de o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conceder um reajuste linear para todos os servidores do Poder Executivo.

Os sindicatos das carreiras de servidores cobram o reajuste e não aceitaram a proposta do governo de concentrar as verbas disponíveis no Orçamento para aumentar os benefícios de vale refeição, auxílio-creche e saúde.

O governo reservou R$ 2,7 bilhões para reajustar esses benefícios. A ministra considera que a medida acaba atingindo mais os servidores que têm salários abaixo de R$ 10 mil. Um reajuste salarial linear, mesmo que pequeno, alcançaria todos os servidores.

A ministra Esther Dweck. - Joédson Alves-19.Jul.23/Agência Brasil

No ano passado, o governo concedeu um aumento de 9% para os todos os servidores do Poder Executivo, incluindo aposentados e pensionistas, a partir de 1º de maio.

Como revelou em entrevista à Folha o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, a arrecadação com a mudança da tributação dos fundos mantidos em paraísos fiscais (offshores) e de fundos exclusivos de investimento no Brasil, dos chamados super-ricos, está acima do previsto.

"Tomara que se realize", disse a ministra sobre a previsão do secretário do Tesouro.

Segundo Dweck, a possibilidade de reajuste linear ainda neste ano terá de estar em linha com o alcance da meta do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de zerar o déficit das contas públicas em 2024.
"Se a arrecadação estiver superando a meta fiscal, aí tem chance", ressaltou.

A ministra ponderou ainda que o aumento da arrecadação permitiria a abertura de crédito no Orçamento para novas despesas.

Pela regra do novo arcabouço fiscal, o governo poderá fazer, em maio, uma revisão do que arrecadou efetivamente em 2023 e, com base nesse desempenho, refazer a previsão de receita deste ano.

Se o desempenho for maior do que o previsto quando o Orçamento foi elaborado, o Executivo poderá abrir um crédito extra. Pelas contas preliminares, o crédito extra de maio pode resultar em um espaço de mais R$ 15 bilhões para novas despesas.

Pela proposta apresentada aos servidores, o vale-refeição subiria de R$ 658 para R$ 1.000; o auxílio-creche passaria de R$ 321 para R$ 484,90; o auxílio-saúde de R$ 144,00 para R$ 215. O benefício para saúde também valeria para os servidores aposentados e pensionistas.

A ministra apresentou números que mostram que o aumento desse grupo de benefícios para os servidores ativos que ganham até R$ 10 mil por mês funcionaria, na prática, como um reajuste de 4,5% sobre o salário.

Dweck defendeu a proposta de aumento dos benefícios e ressaltou que há o compromisso da equipe econômica de garantir o reajuste de 4,5% em 2025 e 2026.

De acordo com a ministra, nesse cenário, mesmo sem uma correção linear dos salários em 2024, os servidores ao final do governo Lula teriam garantido um aumento de 19,3% até 2026, valor acima da projeção de 16,5% de inflação acumulada para o período.

"O presidente Lula vai garantir que não haverá perda salarial no seu governo", afirmou Dweck.

Ela admitiu que, por causa das restrições fiscais, não será possível recompor a perda de renda dos servidores durante o governo Jair Bolsonaro (PL). Os sindicatos querem a recomposição passada de pelo menos 30%. A proposta inicial era de cerca de 50%

Depois do Carnaval, as negociações devem ganhar força. Se os sindicatos aceitarem a proposta de reajuste dos benefícios, a medida começaria a valer a partir de maio.

O Poder Executivo federal tem 571 mil servidores —250 mil deles ganham até R$ 10 mil, de acordo com dados do Ministério da Gestão. O governo iniciou o ano com mesas de negociação para a reestruturação das carreiras dos servidores do Ministério do Meio Ambiente e do Banco Central.

A ministra evitou comentar as negociações do Ministério da Fazenda para a regulamentação do bônus de produtividade dos servidores da Receita, motivo da greve da categoria e um impasse que se arrasta há anos.

Na semana passada, o ministro Haddad apresentou a proposta. Os servidores ficaram de responder na próxima quinta-feira (8).

Dweck reconheceu que os servidores tinham uma preocupação que a proposta não fosse do governo, mas do secretário da Receita, Robinson Barreirinhas. "Não sentiram que era do governo. Acharam que era [só] do Barreirinhas", afirmou.

Com o encontro com Haddad, a perspectiva de um acordo é positiva. "A sensação é que foi uma proposta bem-aceita".

Reforma Administrativa

A ministra acenou com a proposta de construção de uma agenda comum de projetos com o Congresso e o Judiciário para a reforma administrativa. Ela disse que ficou "sensibilizada" com a sugestão de o governo apresentar, de uma única vez, a proposta.

A ideia surgiu em reunião nesta segunda-feira (5) do grupo técnico de transformação do Estado do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social e Sustentável, mais conhecido como "Conselhão". A proposta não foi levada ainda a Lula.

De acordo com Dweck, o argumento dado pelo conselheiros foi o de que uma proposta apresentada em conjunto, ainda que não centrada num único projeto, teria mais força política no Congresso. O projeto poderia incluir, inclusive, projetos que já estão no Legislativo.

Ao longo do ano passado, Dweck defendeu uma proposta fatiada com o discurso de que o projeto de transformação do Estado, como ela prefere chamar a reforma administrativa, já estava em ação no governo Lula com as medidas que estão sendo adotadas. Entre elas, o sistema de avaliação dos servidores, que entrará em funcionamento em agosto.

A fala agora da ministra sinaliza que o governo pode mudar a sua estratégia. O governo tem sido pressionado pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e aliados do centrão a apresentar a reforma num único pacote.

A ministra indicou a possibilidade de apoio a uma reforma administrativa mais ampla, como defende Lira, no dia em que o presidente da Câmara fez um discurso repleto de recados críticos à articulação política do Planalto. Lira é o principal patrocinador da reforma administrativa no Congresso.

Lideranças da oposição defendem a retomada da tramitação da PEC 32, apresentada pelo governo Jair Bolsonaro (PL).

Essa PEC, na avaliação da ministra, pode acabar gerando aumento de despesas para União, Estados e municípios porque contém uma espécie de contra reforma previdenciária para servidores da área de segurança. O próprio ministro Haddad já contou que falou sobre o risco para Lira.

O governo Lula rejeita mudanças na estabilidade no serviço público e diz que as regras atuais não impedem a demissão dos servidores por baixo desempenho. "É o que a sociedade quer ver [demissão por baixo desempenho]. Queremos melhorar o desempenho."

A ministra afirmou ainda que não há posição do governo sobre a PEC que transforma o Banco Central em uma empresa pública. "O governo foi surpreendido pela proposta e internamente está avaliando o impacto", disse.

Ela admitiu que a PEC causou estresse entre os parlamentares do PT, contrários à mudança.

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