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Bancos centrais veem 'desinflação imaculada' ao alcance

Economistas preveem que a inflação diminuirá de máximas de várias décadas sem aumento acentuado do desemprego

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Valentina Romei
Londres | Financial Times

Os bancos centrais estão cada vez mais confiantes de que a inflação pode ser vencida sem elevar bruscamente o desemprego, o que os economistas chamam de uma "desinflação imaculada".

Analistas consultados pela Consensus Economics veem a inflação diminuindo de máximas de décadas para cerca de 2% neste ano na maioria das economias avançadas, incluindo os EUA, Alemanha, França, Reino Unido, Itália e zona do euro.

As vitórias sobre a inflação tradicionalmente vieram a um custo elevado. Medidas rigorosas de política monetária levam as economias à recessão e elevam as taxas de desemprego.

Fachada do Federal Reserve, o banco central dos EUA, em Washington - Jonathan Ernst/Reuters

Nos anos 1980, o desemprego no Reino Unido e nos EUA dobrou depois que os juros subiram para combater a alta inflação desencadeada por choques nos preços do petróleo.

Mas este ciclo inflacionário está seguindo um curso diferente. Michael Saunders, economista da Oxford Economics, observou que a inflação deve retornar à meta com apenas um aumento limitado do desemprego nos EUA e na zona do euro.

"A desinflação imaculada, em que a inflação retorna de forma sustentável à meta sem um aumento significativo do desemprego, tornou-se o cenário base", disse.

A inflação anualizada na zona do euro foi de 2,6% em fevereiro, abaixo do pico de 10,6% em 2022. A inflação caiu de um pico de 11,1% no Reino Unido para 4% e de 9,1% para 3,2% nos EUA.

No entanto, o desemprego está em uma mínima histórica na zona do euro e deve estacionar em uma média de 4% este ano nos EUA —não muito longe da mínima de 3,6% em 2023, de acordo com a última pesquisa mensal de economistas da Consensus Economics.

A taxa de desemprego no Reino Unido deve subir apenas para 4,4% em 2024 e 4,5% em 2025 após atingir sua mínima de quase 52 anos de 3,9%.

Esse padrão de "desinflação com pleno emprego é incomum em nossa história moderna" e "bastante marcante", disse na semana passada o governador do Banco da Inglaterra, Andrew Bailey.

"O Reino Unido, eu acredito, não está sozinho em experimentar a desinflação enquanto preserva o pleno emprego."

Muitos economistas atribuíram o fenômeno à natureza do último surto de inflação, que estava ligado a choques globais de oferta, como a invasão da Rússia à Ucrânia e as perturbações da pandemia.

"O surto de inflação de 2021-2023 em economias avançadas foi diferente porque refletiu principalmente choques adversos de oferta, em vez de forte demanda agregada", disse Saunders, da Oxford Economics.

Jennifer McKeown, economista-chefe global da Capital Economics, disse que o alto crescimento dos salários, monitorado de perto como um dos principais impulsionadores das pressões de preços, resultou de expectativas de inflação mais altas, ligadas a preços de energia elevados, e escassez de mão de obra por conta da pandemia em alguns setores.

Ela disse que esse crescimento dos salários estava começando a diminuir, mesmo sem um aumento acentuado do desemprego, porque o crescimento de preços e as expectativas de inflação haviam se normalizado, enquanto as distorções da Covid-19 haviam se equilibrado.

A rapidez da resposta dos bancos centrais também foi um fator na prevenção de uma inflação mais alta se tornar mais persistente, disseram os economistas.

"A razão pela qual os choques de oferta dos anos 1970-1980 se tornaram enraizados foi que os bancos centrais não entendiam o papel das expectativas de inflação e dos ajustes de custo de vida em muitos contratos de trabalho", disse Mark Zandi, economista-chefe da Moody's Analytics.

Ele acrescentou que a desinflação imaculada sugeria erroneamente que a tendência era inexplicável, quando "a desinflação se deve principalmente ao desaparecimento dos efeitos econômicos da pandemia e da guerra russa na Ucrânia". Isso, segundo ele, "era previsível".

Com o impacto dos choques desaparecendo rapidamente, os prazos de entrega agora estão de volta aos níveis pré-pandêmicos e os custos de transporte são apenas uma fração do que eram em 2021.

Os preços do gás no atacado na Europa e os preços globais de commodities agrícolas estão aproximadamente de volta aos níveis do início de 2021, antes de suas altas relacionadas à guerra.

Todos esses fatores estão ajudando a inflação a cair mais cedo do que os bancos centrais esperavam no ano passado. Eles também estão reduzindo as expectativas de inflação, o que reduz o risco de pressões de preços persistentes alimentarem as negociações salariais.

"Estou cautelosamente otimista de que veremos progressos contínuos na desinflação sem uma deterioração significativa do mercado de trabalho", disse Kugler.

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