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Indústria precisa parar de criar turbinas eólicas cada vez maiores, diz executivo da Vestas

Para Anders Nielsen, setor deve focar a escala industrial que os próximos anos exigirão

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São Paulo

Em 1991, quando a energia eólica ainda engatinhava, as turbinas que transformavam a força do vento em energia elétrica tinham 35 metros de altura e a circunferência formada pelas pás em movimento tinha diâmetro de 35 metros.

De lá para cá, esses valores foram só aumentando e recentemente uma empresa chinesa anunciou a instalação no mar de um aerogerador (outro nome para as turbinas) de 146 metros de altura e diâmetro de 252 metros.

O tamanho da torre acoplada com a pá só é um pouco menor que o One Tower, o maior edifício do Brasil.

Anders Nielsen, CTO da Vestas, maior produtora global de turbinas éolicas
Anders Nielsen, CTO da Vestas, maior produtora global de turbinas éolicas - Bruno Santos/Folhapress

Mas essa corrida de anúncios de turbinas cada vez maiores precisa acabar, segundo Anders Nielsen. Ele é CTO (sigla em inglês para diretor de tecnologia) da dinamarquesa Vestas, a maior fabricante de turbinas eólicas do mundo.

Ele esteve no Brasil no fim de fevereiro, onde conversou com a Folha no escritório da empresa em São Paulo, antes de embarcar para o Ceará, onde a empresa tem uma fábrica.

"Se você olhar para os últimos 20 anos na indústria eólica, havia uma receita muito simples para reduzir o custo da eletricidade: tornar [as turbinas] maiores. Esse foi um conceito muito bem-sucedido que na verdade colocou a indústria eólica em pé de igualdade ou até mais barata que o petróleo e o gás", diz.

Mas agora, aponta, o custo financeiro para que as empresas continuem produzindo turbinas e pás cada vez maiores não é mais viável.

A explicação é, de certo modo, física: ele explica que quanto mais os motores ficam potentes, maior é o estresse na carga mecânica das turbinas. Assim, chega uma hora que a carga na turbina se torna tão grande que a estrutura necessária para sustentá-la fica cara e inviável economicamente.

Isso porque, explica, no aerogerador, quando se aumenta o rotor, a energia disponível cresce ao quadrado, enquanto as cargas mecânicas crescem ao cubo.

"Não estou dizendo que você não pode torná-las maiores. Poderíamos colocar uma turbina no Burj Khalifa, em Dubai. Podemos fazer isso do ponto de vista da engenharia, mas não faria sentido. Não resultaria em um custo mais barato de eletricidade", afirma, citando o maior edifício do mundo, com 828 metros.

Além disso, com o aumento de projetos de parques eólicos onshore (em terra) e offshore (no mar) no mundo, a indústria de turbinas eólicas precisa se adaptar para construir essas estruturas mais rapidamente.

"Não podemos criar produtos completamente novos a cada dois anos. Porque, para isso, você precisa começar do zero novamente, investindo em equipamentos e treinando pessoas", afirma Nielsen.

Outro entrave para a construção de turbinas enormes é o transporte delas, principalmente aquelas desenvolvidas para serem instaladas em terra. Em alguns casos, as turbinas também não conseguem passar por túneis.

Ainda assim, na Alemanha, a Vestas está construindo sua maior turbina eólica, com 284 metros de altura e com potência de 7,2 MW —onshore.

Já a maior turbina offshore da empresa tem 268 metros e potência de 15 MW. A diferença de altura é devido ao menor impacto na intensidade do vento em alturas maiores no mar.

Questionado se a Vestas pretende construir algo maior em alguns anos, Nielsen é categórico: "Não!".

Essa mudança de concepção, aliás, passa pela crise que o setor enfrentou nos últimos três anos, com várias das empresas cancelando ou revisando contratos.

"Isso é por causa do custo de criar novos produtos o tempo todo e, ao mesmo tempo, não criar tanto valor para os clientes", diz.

O desafio agora —e é aí que entra a equipe de Nielsen— é conseguir obter redução do custo nivelado de energia (relação entre os custos da geração de energia e a quantidade de energia gerada) e, ao mesmo tempo, maior quantidade de eletricidade sem ter que necessariamente aumentar o tamanho das turbinas.

Uma forma de se fazer isso, explica, é adaptar cada componente do aerogerador para o local em que ele será instalado. Hoje, de certa forma, isso já é feito, mas de forma limitada e por meio de um processo demorado.

O que a Vestas quer é agilizar essa customização, desenvolvendo aerogeradores modulares. Ou seja, como um lego, os componentes das turbinas poderão ser customizados e combinados para garantir maior eficiência.

"A turbina modular é importante para nós personalizarmos e adaptarmos o produto ao local específico. Hoje, nós projetamos algo específico para esse local, mas o problema é que se torna uma turbina muito única e eu tenho que redesenhá-la para cada local ao redor do mundo; isso se torna muito ineficaz", diz.

Tecnologia à parte, para ele, o maior desafio hoje do setor passa pelo ambiente regulatório.

No caso do Brasil, por exemplo, a defesa é pela expansão das linhas de transmissão e melhora no planejamento de geração de eletricidade —o que garantiria a possibilidade de mais turbinas eólicas serem implantadas no país.

Petrobras

A Vestas, anunciou Nielsen, está em contato com a Petrobras sobre as intenções da petroleira em criar parques eólicos offshore que, juntos, teriam potência de 23 gigawatts —Itaipu, por exemplo, tem 14 GW.

A estatal brasileira divulgou em setembro do ano passado ter pedido o licenciamento de dez áreas marítimas para a instalação de turbinas eólicas, sendo a maioria no Nordeste. Segundo Nielsen, ainda não há nada fechado com a Petrobras.

A Vestas já fornece turbinas para projetos offshore no mar do Norte e na Ásia. "Esse é o mercado de crescimento mais rápido dentro da indústria eólica neste momento, então é claro que estamos olhando com muita atenção para o Brasil e vendo como isso irá se desenvolver."

Erramos: o texto foi alterado

A unidade de grandeza física de potência das turbinas eólicas é MW (megawatt), não MV, como registrado anteriormente em infográfico deste texto

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