O montante de juros acumulado no rotativo e no parcelado do cartão de crédito em relação ao valor original da dívida contraída pelos clientes cresceu em fevereiro em 7 das 15 instituições financeiras analisadas pelo Banco Central, conforme dados divulgados pela autarquia nesta terça-feira (2).
Considerando no cálculo as dívidas em aberto no mês de fevereiro, independente da data exata de contratação a partir de 3 de janeiro, seis instituições apresentaram estabilidade e outras duas tiveram redução no montante de juros nessas modalidades.
A análise se refere a 99% das operações realizadas por essas instituições. Até agora, o montante acumulado varia de 15,25% (Nu Financeira, do grupo Nubank) a 28,33% (banco CSF, do grupo Carrefour).
A autoridade monetária passou a acompanhar uma amostra de 15 instituições financeiras, que representam cerca de 80% desse mercado de crédito, para fornecer informações relativas ao chamado "muro inglês" —a nova regra que limita as dívidas no cartão a no máximo 100% do valor inicial.
O cliente que não paga a fatura integral do cartão na data do vencimento pode passar no máximo 30 dias no rotativo. Desde 2017, as instituições financeiras são obrigadas, após um mês, a migrar essa dívida para um crédito parcelado, que tem juros mais baixos.
O indicador foi lançado pelo BC em março, com números de janeiro. A ideia é mostrar a proporção de juros cobrados pelas instituições no rotativo do cartão de crédito (e no parcelado) em relação ao valor original da dívida contraída pelos clientes. A expectativa é que as análises se tornem mais substanciais com o passar dos meses.
Para cada instituição financeira, o indicador considera uma estratificação em percentis 25, 50, 75 e 99, uma forma de ordenar a posição das dívidas de acordo com o tamanho dos juros já aplicados. É como se fosse criada uma fila.
No percentil 25, os juros de 25% das operações de cada banco são iguais ou menores que a taxa indicada. No outro extremo, no percentil 99, os encargos de 99% das transações de cada instituição são iguais ou inferiores ao percentual informado. Ou seja, é como se o 99º pagasse a maior taxa da base em análise.
O indicador é calculado a partir da divisão do montante de juros e encargos que foram acumulados desde o dia da contratação da dívida original até o dia de referência da publicação, ou seja, o último dia de cada mês.
Segundo o chefe do Departamento de Estatísticas do BC, Fernando Rocha, o novo dado serve para verificar o cumprimento da lei sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em outubro do ano passado e regulamentada pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) em dezembro.
"Esse indicador não é uma taxa de juros ao ano ou ao mês. Ele é uma relação entre esses juros acumulados e a dívida, não importa quando a dívida foi contratada", disse. "Não é propriamente um indicador para dizer se a taxa de juros subiu ou desceu de janeiro para fevereiro", acrescentou.
Conforme a norma em vigor desde o início do ano, no caso de atingimento de juros equivalentes a 100% da dívida original —teto previsto em lei—, o valor permanecerá inalterado nos meses seguintes.
"Olhando o percentil 99, o comportamento que eu espero é que esses percentuais cresçam mês a mês. A gente está na segunda divulgação, então, eles crescem na terceira, na quarta, na quinta [divulgação] e depois disso vão bater no teto. [...] Não necessariamente esse teto vai ser 100% exato, pode ser que fique um pouco abaixo", disse Rocha.
Entre as sete instituições que registraram montantes mais elevados em fevereiro, estão o banco CSF (salto de 24,14% em janeiro para 28,33%), a Realize CFI (22,66% ante 17,06% um mês antes) e o Banco do Brasil (21,51% contra 20,56% no primeiro mês do ano).
Bancos como Caixa Econômica Federal, Itaú e C6 apresentaram estabilidade. Já as duas instituições que tiveram redução do montante de juros acumulado dentro do percentil 99 são o banco BMG —queda de 28,77% para 18,99%— e a Portoseg S.A. CFI, que pertence ao grupo Porto Seguro —baixa de 21,09% para 20,78%.
JUROS ACUMULADOS SOBRE O VALOR ORIGINAL DA DÍVIDA
Instituição | Data | Percentil 25 | Percentil 50 | Percentil 75 | Percentil 99 |
BANCO BMG S.A. | jan.24 | 12,65% | 12,90% | 13,35% | 28,77% |
fev.24 | 5,07% | 8,68% | 12,70% | 18,99% | |
BANCO BRADESCARD | jan.24 | 4,00% | 5,00% | 11,50% | 18,00% |
fev.24 | 2,39% | 4,28% | 11,66% | 19,18% | |
BANCO BRADESCO S.A. | jan.24 | 4,00% | 5,00% | 11,53% | 18,00% |
. | fev.24 | 4,07% | 5,16% | 11,50% | 18,24% |
BANCO BV S.A. | jan.24 | 3,44% | 6,42% | 13,17% | 24,97% |
fev.24 | 3,84% | 6,89% | 12,65% | 24,97% | |
BANCO C6 S.A. | jan.24 | 2,77% | 3,97% | 8,76% | 23,60% |
fev.24 | 2,84% | 4,07% | 8,25% | 23,60% | |
BANCO CSF S.A. | jan.24 | 3,67% | 6,27% | 12,05% | 24,14% |
fev.24 | 4,52% | 7,76% | 15,31% | 28,33% | |
BANCO PAN | jan.24 | 1,40% | 4,30% | 12,70% | 22,70% |
fev.24 | 1,40% | 5,10% | 15,80% | 22,70% | |
BANCO SANTANDER (BRASIL) S.A. | jan.24 | 4,56% | 9,82% | 17,24% | 20,50% |
. | fev.24 | 4,39% | 8,91% | 16,77% | 20,51% |
BCO DO BRASIL S.A. | jan.24 | 0,17% | 2,49% | 9,50% | 20,56% |
fev.24 | 1,49% | 1,86% | 8,48% | 21,51% | |
CAIXA ECONÔMICA FEDERAL | jan.24 | 3,34% | 6,63% | 11,84% | 17,86% |
fev.24 | 3,24% | 6,56% | 11,80% | 17,86% | |
ITAÚ UNIBANCO S.A. | jan.24 | 4,27% | 8,21% | 15,15% | 21,00% |
fev.24 | 4,18% | 7,94% | 14,80% | 21,00% | |
LUIZACRED S.A. SCFI | jan.24 | 4,42% | 8,79% | 16,10% | 20,00% |
fev.24 | 4,31% | 8,37% | 15,89% | 20,00% | |
NU FINANCEIRA S.A. CFI | jan.24 | 2,00% | 5,66% | 11,18% | 14,43% |
fev.24 | 2,69% | 6,35% | 11,20% | 15,25% | |
PORTOSEG S.A. CFI | jan.24 | 3,49% | 8,32% | 17,72% | 21,09% |
fev.24 | 4,03% | 8,21% | 17,46% | 20,78% | |
REALIZE CFI S.A. | jan.24 | 16,96% | 16,97% | 17,06% | 17,06% |
fev.24 | 3,77% | 7,33% | 16,40% | 22,66% |
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