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Banco Central pede orçamento 20% maior ao governo e cita riscos de segurança

Presidente Roberto Campos Neto tem defendido autonomia financeira do órgão, em meio a paralisação de servidores

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Brasília | Reuters

Em meio à falta de entendimento entre Banco Central e governo sobre uma proposta que poderia dar autonomia financeira à autarquia, a autoridade monetária enviou ao Ministério do Planejamento um pedido de aumento de 20% em suas verbas discricionárias para o ano, argumentando que a insuficiência de recursos gera riscos operacionais e de segurança.

Em ofício remetido em março à Secretaria de Orçamento Federal do Planejamento, documento visto pela Reuters, o BC alegou que seu orçamento discricionário para este ano, definido em R$ 326,1 milhões, é menor do que o valor executado em 2023 e está R$ 66,6 milhões abaixo do mínimo para a "adequada manutenção das operações".

Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, durante coletiva de imprensa
Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, durante coletiva de imprensa na sede do Banco para falar sobre as decisões recentes da política monetária e a taxa de inflação - Folhapress

A autarquia pediu liberação de créditos adicionais nesse montante e argumentou que não há espaço para ajustar despesas sem comprometer serviços ou sacrificar investimentos em áreas estratégicas. O orçamento discricionário representa a fatia de recurso sobre a qual os órgãos federais têm maior autonomia para alocação, incluindo despesas administrativas e investimentos.

"Sem a necessária suplementação de recursos, o BC será forçado a reduzir contratos em diversas áreas, afetando operações e projetos de Tecnologia da Informação e Comunicação, segurança, manutenção de estruturas e serviços prestados aos públicos interno e externo, incluindo instituições reguladas", afirma o documento, assinado pelo chefe do departamento de Contabilidade, Orçamento e Execução Financeira do BC, Eduardo Ferreira.

Segundo o órgão, a insuficiência aumentará a exposição do BC a riscos operacionais e prejudicará a continuidade da agenda de inovação, que inclui o Pix e o Open Finance. A autoridade monetária ainda cita riscos relacionados à fiscalização do sistema financeiro, ao funcionamento do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e à participação do BC nas agendas do G20, que tem o Brasil na presidência neste ano.

O valor solicitado não inclui demandas salariais dos servidores do BC, que estão em operação padrão em busca de melhores condições de trabalho, o que tem atrasado a divulgação de indicadores e a execução de projetos da autarquia.

Remanejamentos ou suplementações de verbas são definidas pelo Ministério do Planejamento, que leva as demandas para discussão com a Junta de Execução Orçamentária, também composta pela Casa Civil e os ministérios da Fazenda e da Gestão.

Procurado, o Planejamento afirmou que se manifesta somente acerca de créditos orçamentários cuja proposta já esteja formalizada e seus efeitos tornados públicos. O Banco Central não respondeu ao pedido de comentário.

Após a aprovação da autonomia operacional do BC em 2021, o presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, passou a defender nos últimos meses um passo adicional em direção à autonomia financeira do órgão.

Ele apoia a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) com essa finalidade que tramita no Senado, dando maior liberdade para que a instituição administre suas receitas. Hoje, as contas do BC são vinculadas à União.

Na semana passada, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que discorda de dispositivos da PEC e disse que caberia uma conversa prévia de Campos Neto com Lula sobre o tema, algo que não ocorreu.

A proposta também recebeu ressalva do diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo, para quem a discussão sobre a autonomia financeira está antecipada, defendendo que haja um debate mais transparente sobre os efeitos para os envolvidos.

O pedido de ampliação de verbas pelo BC ainda ocorre em meio a uma restrição orçamentária do governo. Em março, a equipe econômica identificou um excesso de gastos em relação ao limite para este ano e anunciou um bloqueio em verbas de ministérios.

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