'Brasil precisa decidir como e quando explorar eólicas offshore', diz executivo da Equinor

Vice-presidente da empresa norueguesa afirma que altos custos estão reduzindo atratividade desse tipo de projeto

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Rio de Janeiro

O Brasil discute um arcabouço regulatório para as usinas eólicas offshore (no mar), vistas com grande entusiasmo pelo governo e pela Petrobras, mas parece ter perdido a primeira janela de investimentos globais no setor.

Pelo menos é o que indica o ajuste de rumos da norueguesa Equinor, que em 2021 lançou um plano de transição energética com a meta de se tornar líder no segmento, mas mudou o foco para projetos em terra diante da escalada de custos de projetos marítimos.

"Os últimos dois anos foram muito desafiadores, com inflação alta, taxas de juros e custos aumentando significativamente", disse à Folha Pål Eitrheim, vice-presidente-executivo de Renováveis da companhia, uma das maiores investidoras no setor de petróleo brasileiro.

Pål Eitrheim, vice-presidente executivo de Renováveis da Equinor - Arne Reidar Mortensen/Divulgação

Ele ressalta, porém, que não houve recuo na meta de implementar entre 12 e 16 GW (gigawatts) em energias renováveis nos próximos cinco anos e que o Brasil terá papel importante nesse processo.

"Poucos lugares têm potencial semelhante ao do Nordeste brasileiro", afirmou.

O plano de transição energética da Equinor prevê US$ 23 bilhões em renováveis nos próximos cinco anos. Como o Brasil está posicionado nesse plano?
Vamos continuar desenvolvendo projetos de óleo e gás por muitos anos. A demanda continuará existindo e a transição vai levar algum tempo. Mas, ao mesmo tempo, vamos descarbonizar o máximo que pudermos, reduzir as emissões de nossas operações pelo mundo.

Em 2023, cerca de 20% dos nossos investimentos foram para projetos de baixo carbono, como hidrogênio, captura e estocagem de carbono. Em 2025, serão 30% e, em 2030, cerca de 50%. Mas estamos fazendo isso no negócio de petróleo e gás.

O Brasil é um dos países mais importantes [de nossa estratégia em renováveis]. Mas, em muitos outros países, nosso foco tem sido a eólica offshore. Aqui, estamos focando em projetos em terra.

Os recursos em energia solar e eólica no Brasil são de classe mundial. Poucos lugares têm potencial semelhante ao do Nordeste brasileiro.

Mas a Equinor assinou um acordo para avaliar eólicas offshore com Petrobras. Não haverá investimento nesse segmento?
O potencial para a produção de energia eólica offshore no Brasil é muito, muito grande.

Nós e outras empresas assinamos acordos com a Petrobras para avaliar isso. Mas a primeira coisa é que o Brasil precisa decidir o que quer fazer com esses recursos, como e quando desenvolvê-los.

O mesmo acontece com muitos mercados. Muitos países têm muitos recursos eólicos offshore, o primeiro passo é implementar um arcabouço regulatório. E eu sei que isso está acontecendo no Brasil. Cabe ao país decidir como desenvolver esse potencial.

A meta da empresa é reduzir as emissões pela metade até 2030. É possível?
A maior fonte de emissões na Equinor neste momento são as nossas operações na plataforma continental norueguesa. A principal fonte para reduzir as emissões é eletrificar estas instalações de petróleo e gás com energia renovável a partir da costa.

Em vez de alimentar as plataformas com gás, vamos alimentar com energia renovável proveniente de terra. O nosso último campo tem emissões abaixo de um quilo de CO2 por barril. E a média global está em torno de 18 quilos. Portanto, é uma contribuição significativa para reduzir essas emissões.

Estamos usando uma mistura de energia eólica com hidrelétrica. Também temos um pequeno projeto onde fornecemos energia a partir de energia eólica offshore flutuante próxima a duas plataformas.

E isso está substituindo cerca de um terço do consumo de gás na plataforma. Também reduzindo significativamente as emissões. Mas a principal fonte de energia será a eletrificação com energia proveniente da costa.

Captura de carbono faz parte dos planos para o Brasil?
Não faz parte dos nossos planos agora. Mas tecnicamente o Brasil tem potencial para capturar e armazenar CO2 como estamos fazendo na Noruega. Reinjetamos CO2 nos reservatórios da Noruega desde 1996, temos uma longa experiência de armazenamento.

Tivemos as primeiras rodadas de arrendamento de áreas de armazenamento na plataforma continental norueguesa. É uma parte fundamental da nossa estratégia net zero para 2050. Consiste em armazenar e dar aos clientes industriais na Europa a possibilidade de expedir ou transportar o CO2 e reinjetá-lo no mar do Norte.

É um novo tipo de negócio para as empresas petrolíferas. Não apenas para descarbonizar as suas atividades, mas também para ganhar dinheiro.

Para cuidar das emissões de outras pessoas. Especialmente para indústrias pesadas, que não têm muitas oportunidades para se livrarem do seu CO2.

Mas é um negócio que depende de precificar o CO2. Porque, se você não tem isso, você não está incentivando essa de atividade. O custo do do CO2 na Europa está agora em meados 60 euros por tonelada. Mas a Noruega indicou que, até 2030, rondará os US$ 200 por tonelada.

Então todas as medidas que você puder implementar e que custam menos de US$ 200 por tonelada serão obviamente lucrativas. Um preço para o CO2 é um forte incentivo para o desenvolvimento deste tipo de indústria.

Países desenvolvidos esperam que a evolução da indústria do hidrogênio abra um comércio internacional de renováveis produzidas no Hemisfério Sul. Como evitar que esse movimento nos torne apenas exportadores de energia, em vez de desenvolver nossa própria indústria?
Não viemos para o Brasil com o objetivo de exportar toda a energia. O passo número um é desenvolver a energia que o Brasil precisará nos próximos anos.

O país tem mais de 200 milhões de habitantes e um consumo comparável ao da Alemanha, com 80 milhões de habitantes. Há claramente um potencial significativo de crescimento.

Há hoje um enorme impulso para eletrificar as economias. O mundo está se tornando elétrico e em qualquer cenário vemos a necessidade da eletricidade aumentar significativamente.

Portanto, nosso principal objetivo é desenvolver os recursos renováveis do Brasil para o mercado interno, e acreditamos que haverá demanda para isso no futuro.

E que tipo de desafio o sr. vê para o desenvolvimento dessa indústria hoje?
Há uma grande diferença entre o offshore e o onshore. Ao longo dos últimos, depois de quase duas décadas de um crescimento maciço na capacidade instalada de energia eólica offshore, os últimos dois anos foram muito desafiadores, com inflação alta, taxas de juros e custos aumentando significativamente.

No onshore, em particular na energia solar, vimos o custo da energia continuar a diminuir. Portanto, temos investido mais no onshore do que pensávamos há alguns anos, porque vemos que esses recursos são mais competitivos e mais robustos neste momento.

Vemos hoje muitas empresas recuando em suas metas de transição. A Equinor vai recuar?
Nosso plano tem três pilares: continuar a investir em petróleo e gás, mas minimizar as emissões; desenvolver soluções de baixo carbono; e aumentar as energias renováveis.

É um plano de longo prazo. A estratégia é firme, mas obviamente a execução varia.

Há mais onshore no nosso plano agora do que pensávamos em 2021. Mas os objetivos são os mesmos.

É aí que entra a Rio Energy. Essa aquisição foi impulsionada em grande parte pelo desejo da nossa parte de crescer onshore no Brasil, onde vemos algumas das melhores oportunidades do mundo.


Raio-X | Pål Eitrheim, 53
Formado em ciência política, ingressou na Equinor em 1998. Entre 2014 e 2017, foi chefe das Operações de Exploração e Produção de Petróleo da companhia no Brasil. Em 2018, assumiu a vice-presidência de Renováveis

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