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Campos Neto manteve reuniões com Bolsonaro após autonomia do BC, mas reduziu frequência

Em sua gestão, presidente do BC expandiu atuação para outras áreas, especialmente na crise da Covid

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São Paulo

Mesmo após a autonomia do Banco Central, o presidente da instituição, Roberto Campos Neto, manteve sua agenda de encontros com a gestão Jair Bolsonaro (PL).

Antes de a lei complementar entrar em vigor, em fevereiro de 2021, ele se reuniu com a cúpula do governo passado, em média, uma vez a cada quatro dias. Após a autonomia, a frequência diminuiu para uma vez a cada sete dias.

O ex-presidente Jair Bolsonaro e Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, em cerimônia de posse de João Roma como então ministro da Cidadania - Raul Spinassé - 24.fev.21/Folhapress

Em fevereiro de 2021, entrou em vigor a autonomia do Banco Central com o argumento de blindar a instituição de interferências políticas. A regra determina que a instituição não é vinculada ao governo federal, sem subordinação hierárquica e com autonomia técnica, operacional, administrativa e financeira.

A lei também estabeleceu que o presidente da autarquia perde o status de ministro e passa a ter um mandato de quatro anos, que se encerra no meio do mandato do presidente da República.

Apesar da queda na frequência, ele manteve a proximidade com o bolsonarismo durante o seu mandato na presidência da instituição.

Além da polêmica gerada com as notícias de que Campos Neto vestiu uma camisa amarela, símbolo dos eleitores bolsonaristas, para ir votar no segundo turno da eleição de 2022, ele participava de um grupo de WhatsApp denominado "ministros Bolsonaro" quando já havia perdido o status ministerial, foi a churrasco na casa do ex-ministro Fábio Faria e se manteve próximo de outros aliados do ex-presidente, como Tarcísio de Freitas, atual governador de São Paulo.

Nos anos Bolsonaro, a atuação de Campos Neto se expandiu para outras áreas, especialmente durante a pandemia. Ele teve reuniões com o Ministério da Saúde e com diretores da Pfizer, e também acompanhou Bolsonaro em jantar com grandes empresários no momento em que o ex-presidente recebia cobranças do setor privado para que agilizasse a vacinação contra a Covid.

Homem de máscara e uniforme branco aplica injeção em homem de camisa branca aberta e peito à mostra, com máscara azul
Roberto Campos Neto recebe vacina contra Covid aplicada pelo então ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, durante governo Bolsonaro - Walterson Rosa - 14.jun.2021/Ministério da Saúde

Foi nesta época em que se concentrou a maior parte dos encontros do presidente do BC com a gestão bolsonarista.

Com Paulo Guedes, os encontros eram mais frequentes. Foram cerca de 70 reuniões, incluindo almoços semanais. Já com Haddad, após a eleição de Lula, Campos Neto se reuniu aproximadamente 15 vezes até o fim de março.

Em agosto de 2022, ano eleitoral, Campos Neto também teve reuniões com militares, como o coronel Flávio Peregrino, e os generais Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira (ex-ministro da Defesa) e Marco Antônio Freire Gomes (ex-comandante do Exército).

Ele também exerceu papel de articulação política na pandemia, quando o Ministério da Economia de Paulo Guedes enfrentava dificuldade para convencer os parlamentares sobre a gravidade do cenário fiscal.

Na época, Campos Neto foi escalado para tentar conter desidratações da PEC Emergencial, mas a iniciativa chamou a atenção de analistas já que se tratava de uma função tradicionalmente exercida pelo ministério.

O texto da proposta de emenda à Constituição defendido por Guedes liberava o auxílio emergencial em 2021 enquanto criava gatilhos para conter gastos em momentos de calamidade e aperto orçamentário, como reajustes salariais de servidores. Porém, a PEC encontrou resistência até mesmo do ex-presidente Bolsonaro, que defendia a desidratação da proposta ao pedir a retirada de itens ligados a servidores.

Por fim, o gesto de Campos Neto não foi interpretado como um problema e sim um movimento benéfico porque representaria uma correlação entre as políticas monetária e fiscal.

Hoje, os encontros que ele tem com o governo Lula são mais concentrados nos ministros Haddad, Simone Tebet (Planejamento e Orçamento) e Esther Dweck (Gestão e da Inovação em Serviços Públicos), em um período em que o BC enfrenta paralisações de seus servidores por aumento salarial e contra a redução no quadro de funcionários, após muitos se aposentarem.

Colaborou Cristiano Martins

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