Galípolo diz que emprego e economia aquecidos podem tornar desinflação lenta

Alerta do diretor do BC foi registrado na ata do Copom, quando o BC baixou a Selic para 10,75% ao ano

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São Paulo

O diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, afirmou que o mercado de trabalho aquecido e a atividade econômica maior podem tornam "mais lento" o processo de desinflação.

Galípolo foi sabatinado por funcionários da Necton Investimentos, na noite desta quinta-feira (4), durante evento em São Paulo. Essa alerta do diretor foi registrado na ata do Copom (Comitê de Política Monetária), divulgada no final de março, quando o BC baixou a Selic para 10,75% ao ano.

"A ata registra um fato difícil de contestar: há um mercado de trabalho relativamente apertado e inflação de serviços um pouco mais alta", disse Galípolo.

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Gabriel Galípolo durante sabatina para diretoria do Banco Central - Gabriela Biló-4.jul.23/Folhapress

"A gente reconhece que o mercado de trabalho mais aquecido e a atividade econômica maior ainda não estabelecem um vínculo claro a um processo de aquecimento da economia e que represente uma reversão da trajetória de desinflação. O mercado de trabalho mais apertado e a atividade mais forte podem significar um processo de desinflação mais lento", afirmou o diretor do BC.

Para ele, a ata foi o mais precisa possível. Segundo ele, o texto foi "humilde" por deixar evidente que o Copom não tem todo o cenário claro e deixou em aberto diferentes possibilidades para o futuro próximo. Menos na inflação. "O vocabulário de nenhuma maneira quer flexibilizar a meta. A meta é 3 [porcento]."

Sucessão na presidência do BC

Cotado para comandar o Banco Central a partir do próximo ano, Galípolo considera que o atual presidente, Roberto Campos Neto, se referiu a um "processo burocrático" ao pedir que o escolhido para substituí-lo seja sabatinado pelo Congresso neste ano.

"Seria bom fazer a sabatina neste ano. Se um diretor for presidente interino, ele tem de passar por sabatina também", disse Campos Neto em evento do Bradesco BBI em São Paulo, nesta quarta-feira (3).

Galípolo disse que a ênfase dada ao pedido para adiantar o processo de sucessão no BC foi excessiva. "Quando o Roberto falou isso, estava alertando para uma questão técnica e operacional. Esta demanda que a sabatina ocorra neste ano. Não vejo isso como adiantar, vejo como timing adequado para a nomeação do futuro presidente", afirmou.

Indicação de Fernando Haddad para o BC, ele foi secretário-executivo do Ministério da Fazenda e é um dos dois diretores da instituições cotados para presidi-la a partir de 2025. O outro é Paulo Picchetti, diretor de Assuntos Internacionais.

Questionado sobre a sucessão de Campos Neto, Galípolo se desvencilhou.

"Não me cabe ocupar a mente com isso. Já tenho [a meta da] inflação para me preocupar. Este é um tema para o presidente da República. Não posso corroborar que está ocorrendo [a escolha do novo presidente]. Roberto estava alertando sobre o processo burocrático. Passei seis meses na Fazenda dizendo que só tinha um cara com 60 milhões de votos. No Banco Central, digo que continua existindo apenas um cara com 60 milhões de votos", afirmou, ao se referir ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Desde o início do seu mandato, em 2023, Lula vive às turras com Campos Neto. Reclama que o Banco Central tem sido muito resistente no corte das taxas de juros.

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