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Preço despenca e painéis solares são usados até como cercas na Europa

Em alta, oferta global de painéis para energia solar atingirá 1.100 gigawatts neste ano, três vezes a previsão de demanda

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Kenza Bryan Lukanyo Mnyanda Amanda Chu
Londres e Nova York (EUA) | Financial Times

Os painéis solares se tornaram tão baratos que estão sendo usados para construir cercas de jardim na Holanda e na Alemanha, à medida que um "boom" na produção chinesa satura o mercado global.

Os painéis capturam menos luz quando usados como cercas em vez de nos telhados, mas o processo economiza nos custos de instalação, de acordo com analistas e postagens em redes sociais feitas por famílias.

"Isso é resultado dos painéis solares ficarem tão baratos que estamos simplesmente os colocando em todos os lugares", disse Jenny Chase, principal analista solar da BloombergNEF. "Uma vez que o custo de instalação — mão de obra, andaimes — é a maior parte do custo de um sistema no telhado, pode fazer sentido."

Cerca fotovoltaica à venda no site Greenakku, da Alemanha
Cerca fotovoltaica à venda no site Greenakku, da alemanhã - greenakku/Divulgação

"Por que construir uma cerca quando você pode simplesmente instalar um monte de painéis solares, mesmo que não estejam alinhados exatamente com o sol?" diz Martin Brough, chefe de pesquisa climática no BNP Paribas Exane. "Onde os painéis são incrivelmente baratos, as restrições acabam se tornando os custos de instalação e os locais… Você adquire um pouco da mentalidade do faça você mesmo."

O fornecimento global de painéis solares atingirá 1.100 gigawatts até o final deste ano, ou três vezes a previsão atual de demanda, estima a Agência Internacional de Energia.

Um excesso de fabricação na China está impulsionando essa tendência.

Ao mesmo tempo, as instalações se tornaram mais caras, principalmente devido ao aumento da mão de obra, e a espera para os painéis serem conectados às redes elétricas está testando a paciência da indústria e dos proprietários. Problemas de capacidade de rede afetam a maioria dos países e não podem ser resolvidos rapidamente.

A Longi Green Energy Technology, um dos maiores produtores de painéis do mundo, disse recentemente que demitiu milhares de trabalhadores, pois o excesso de oferta fez com que os fabricantes chineses se retirassem.

Na Europa, executivos estão alertando para problemas iminentes em um setor que tem sido assolado por perdas de empregos, falências e fechamentos nos últimos meses.

A Comissão Europeia diz que se comprometerá a "avaliar todas as evidências de práticas injustas alegadas" e melhorar o acesso dos fabricantes de painéis solares aos fundos da UE, de acordo com um plano preliminar visto pelo Financial Times. Mas isso provavelmente não vai satisfazer a indústria.

Alessandro Barin, diretor executivo da FuturaSun da Itália, que fabrica painéis na China para vender na Europa, disse que caixas estavam paradas em portos e armazéns mesmo após o fechamento de uma fábrica que estendeu a pausa na produção do feriado do ano novo lunar para três semanas, em vez de uma semana normal.

Preços

Um painel solar custava 11 centavos de dólar/watt no final de março, apenas metade do preço que estava no mesmo período do ano passado, de acordo com a BloombergNEF, e é esperado que caia ainda mais em uma "corrida para o fundo" à medida que os fabricantes competem para se livrar do excesso de oferta.

Abaixo de uma "linha vermelha" de 15 centavos/watt, não seria possível para a empresa investir seriamente na fabricação europeia, disse Barin. "Você não vai fazer isso com uma margem pequena e louca que não vai pagar por nada."

Sem mais apoio da UE, uma fábrica que Barin pretende abrir perto de Veneza será um produtor de "megawatts" pequeno em vez de um produtor globalmente significativo de "gigawatts", disse ele.

O Conselho Europeu de Fabricantes de Energia Solar alertou em fevereiro que os fabricantes de painéis da Europa em breve começariam a fechar se nenhuma assistência de emergência fosse fornecida.

A fabricante francesa de painéis solares Systovi disse que está procurando compradores, citando "uma aceleração repentina no dumping chinês". A empresa de energia francesa EDF disse ao FT que sua produtora de painéis solares, Photowatt, "enfrenta dificuldades para encontrar equilíbrio econômico".=

Isso segue o fechamento pelo grupo REC na Noruega em novembro de sua fábrica de produção de polissilício, um material bruto chave em painéis solares, e a Meyer Burger Technology da Suíça dizendo que fecharia uma fábrica de painéis solares na Alemanha, uma das maiores da Europa, e concentraria esforços nos EUA.

Mesmo nos EUA, onde os fabricantes de peças de energia solar têm acesso a subsídios sob o "Inflation Reduction Act" de US$ 369 bilhões, a indústria local está em declínio. As importações do sudeste asiático, de onde os EUA obtêm a maior parte de seus painéis solares, são vendidas com desconto em relação aos feitos nos EUA, mesmo levando em conta as tarifas.

Isso cria dificuldades para empresas, incluindo a Cubic PV, apoiada por Bill Gates, que em fevereiro cancelou planos de construir uma fábrica de 8GW anunciada logo após a assinatura do IRA em 2022, citando um "colapso dramático" nos preços.

"O clima é sombrio... Não cria condições para o sucesso dos fabricantes domésticos, especialmente nessa frágil fase inicial de crescimento", disse Danielle Merfeld, diretora de tecnologia da Hanwha Q-Cells, um dos maiores fabricantes de peças solares nos EUA.

Falando em uma fábrica solar na Geórgia na quarta-feira, a secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, pressionou a China a parar de inundar o mercado com exportações baratas de tecnologia verde.

Mas Sumant Sinha, diretor executivo da ReNew, um dos principais fornecedores indianos de energia eólica e solar, reclamou que os próprios auxílios estatais dos EUA para a energia solar estão prejudicando as ambições da Índia de se apresentar como produtora de painéis solares de baixo custo e uma alternativa à dependência de importações chinesas.

"Esse enorme subsídio é o melhor investimento para o mundo como um todo? Não é, mas está acontecendo porque os EUA querem criar seus próprios empregos... globalmente, a mudança climática está sendo feita refém."

Para alguns observadores da indústria e defensores da mudança climática, incluindo a Agência Internacional de Energia, os problemas de excesso de oferta são uma consequência das boas notícias do notável boom solar que veio em resposta ao aperto energético causado pelo corte no fornecimento de gás russo devido à guerra na Ucrânia.

O aumento nos preços da energia provou ser um incentivo para os lares instalarem painéis para economizar nas contas e vender eletricidade verde de volta à rede.

Ian Rippin, diretor executivo da MCS, que realiza verificações de qualidade em instalações solares no Reino Unido, disse que as altas e baixas da "montanha-russa solar" da indústria são impulsionadas pelo apoio inconsistente do governo por meio de reembolsos ou subsídios, e pela volubilidade dos clientes domésticos em relação ao custo da instalação.

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