Descrição de chapéu dia do trabalho Argentina

Arrumar Argentina exige sacrifícios, diz governo Milei no Dia do Trabalho

Sindicatos vão às ruas contra avanço de pacote liberal, enquanto Casa Rosada fala em necessidade de mais patriotas

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Buenos Aires

Enquanto centrais sindicais se concentravam em Buenos Aires para uma marcha nesta quarta-feira (1º), Dia do Trabalho, contra as políticas econômicas do presidente Javier Milei, o governo do ultraliberal afirmou que "arrumar a nação exige sacrifícios".

O material divulgado em vídeo nas redes sociais não menciona quais seriam essas dificuldades, mas os indicadores dão sinais dos esforços.

O poder de compra despencou, as contas aumentaram por causa do fim de subsídios, assim como os aluguéis, e os salários não acompanham a inflação, ainda que esse indicador venha diminuindo.

Manifestantes durante marcha do 1º de maio em Buenos Aires - Agustin Marcarian - 1º.mai.24/Reuters

"Hoje começa a reconstrução da Argentina", diz o vídeo. O Dia do Trabalho no país foi antecedido pela aprovação na Câmara dos Deputados da Lei Ônibus, o pacotão de medidas econômicas pleiteadas pelo governo que impõe uma pequena reforma trabalhista, muda o regime de aposentadorias e abre espaço para privatizações.

"Quem é do bem e quem é do mal? Aquele que fala em direitos que não exigem ou aqueles que queremos tirar as pessoas da miséria?", segue a narração do vídeo da Casa Rosada.

"Esse momento histórico não é para qualquer um, é para patriotas que estão abertos a arriscar tudo pela nação. Arrumar esse país exige sacrifícios", conclui.

Enquanto isso, sindicatos e outros movimentos organizados se reuniam para uma marcha na avenida Paseo Colón, uma das artérias de Buenos Aires, para protestar com o mote "a pátria não se vende", referência à agenda colocada em prática por Milei.

O tamanho da mobilização era reduzido se comparado com o volume de pessoas observado no protesto em defesa de mais orçamento para as universidades públicas argentinas realizado na semana passada e que aglutinou mesmo setores não organizados da sociedade.

Também havia dissidência entre os manifestantes. Os grupos mais radicais à esquerda alegam que a CGT, a Confederação Geral do Trabalho, tem sido demasiadamente tímida nos protestos contra a administração da Casa Rosada. O grupo realizou uma paralisação em janeiro deste ano e tem mais uma convocada para o próximo dia 9.

A CGT foi um dos grupos que negociaram ao longo dos últimos meses para tentar aplacar as medidas que o governo planejava introduzir no calhamaço da Lei Ônibus, como a reforma trabalhista ambiciosa que Milei buscou colocar em marcha e viu barrada pela Justiça.

Na versão reduzida aprovada por uma maioria de deputados nesta terça-feira (30) após mais de 20 horas de debates ininterruptos, ainda há mudanças importantes para o mercado de trabalho.

Em linhas gerais, o capítulo sobre o tema permite que o período de experiência dos trabalhadores, antes de três meses, seja de seis meses, com possibilidade de chegar a um ano; livra de punições empregadores que não registraram seus funcionários; e cria um fundo de demissão, com aporte mensal durante a relação trabalhista.

Há ainda mudanças na Previdência. O possível fim de uma moratória previdenciária que estava em vigor anularia a possibilidade de que alguns trabalhadores, em especial mulheres, se aposentassem mesmo sem ter contribuído por 30 anos no mercado formal de trabalho.

Os manifestantes também protestavam contra o cerne do pacote fiscal que, ainda que com menos votos, os deputados também aprovaram na sessão que virou a madrugada de segunda para terça-feira.

O texto reduz a isenção do imposto de renda e, segundo estimativas de economistas locais, pode trazer mais 800 mil argentinos para o time dos que têm de declarar.

Tanto a Lei Ônibus quanto o pacote fiscal da gestão Milei ainda precisam de luz verde do Senado argentino para entrarem em vigor. Na Casa, a margem do governo é mais estreita. Os próximos dias no país serão marcados por intensas negociações entre a Casa Rosada e os senadores para tentar validar o pacotão liberal de vez.

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