Descrição de chapéu Financial Times

Como CEO da mineradora BHP planejou oferta de compra da Anglo American

Empresa australiana ofertou US$ 39 bilhões pela rival

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Tom Wilson Nic Fildes
Londres e Sydney | Financial Times

No final de 2020, no auge da pandemia de Covid-19, a gigante da mineração australiana BHP concluiu um acordo de petróleo relativamente pequeno no Golfo do México, comprando o parceiro minoritário Hess Corporation.

Olhando para trás, a transação de US$ 505 milhões marcou o início da investida de Mike Henry em aquisições.

Essa ambição culminou quando o presidente do conselho da BHP, Ken MacKenzie, ligou para seu homólogo na Anglo American em 16 de abril para apresentar uma oferta preliminar de US$ 39 bilhões para a mineradora listada em Londres.

Se bem-sucedida, será a maior aquisição da história do setor de mineração.

O presidente-executivo da BHP, Mike Henry - Brendan McDermid - 30.nov.2022/Reuters

Discutindo o acordo com a Hess com um investidor na época, Henry confidenciou que em parte "queria fazer essa transação para treinar o conselho a tomar decisões rápidas e executá-las", relatou o investidor.

O negócio com a Hess foi seguido por uma oferta fracassada por uma empresa de níquel canadense, a compra de um negócio de níquel na Tanzânia em 2022 e a compra por US$ 6,4 bilhões do minerador de cobre australiano Oz Minerals no ano passado. No caminho, a BHP se desfez de sua divisão de petróleo.

Henry estava "quase conduzindo o conselho, a empresa e os investidores até grandes aquisições", disse o investidor. "Ele foi inteligente em colocar a BHP em um estado em que realmente pode fazer algo assim."

Apelidado de "Meticulous Mike" [Mike Meticuloso] pela imprensa australiana, o executivo canadense deve ter planejado cuidadosamente sua oferta pela Anglo, dizem pessoas que o conhecem. Mas o meganegócio proposto está longe de ser concluído.

A Anglo rejeitou a proposta não solicitada na sexta-feira, dizendo que ela "subvaloriza significativamente" a empresa.

Gwede Mantashe, ministro de Recursos Minerais da África do Sul, onde a Anglo tem operações importantes e uma listagem secundária, também manifestou oposição inicial ao negócio.

A oferta é complicada por suas condições prévias que excluem as grandes minas de minério de ferro e platina da Anglo no país e pelo fato de que a Public Investment Corporation da África do Sul é o maior acionista da empresa.

De acordo com as regras de aquisição do Reino Unido, Henry tem até 22 de maio para fazer uma oferta formal, mas tendo colocado um alvo nas costas da Anglo, a BHP agora pode enfrentar concorrência de pretendentes rivais.

Fundada em 1917, a Anglo está entre as 25 empresas mais valiosas da Bolsa de Valores de Londres, com um portfólio global que abrange cobiçadas minas de cobre no Chile e Peru, desafiadores projetos de platina na África do Sul e a maior produtora de diamantes do mundo, a De Beers.

Uma aquisição seria a maior transação da indústria até hoje, de acordo com a Dealogic. Também ajudaria a BHP, o maior grupo de mineração do mundo em valor de mercado, de US$ 143 bilhões, a consolidar sua posição como o principal produtor de cobre, gerando cerca de 10% do suprimento global extraído.

Uma oferta bem-sucedida teria que ser a um preço mais alto e incluir toda a empresa, disseram analistas e investidores. Mas dizem que Henry se preparou para esse cenário.

"A Anglo está em jogo, e o jogo está valendo", disse uma pessoa familiarizada com a aproximação.

Quando Henry foi escolhido para substituir Andrew Mackenzie em sua aposentadoria como CEO da BHP em novembro de 2019, poucos previram que o canadense buscaria um impacto tão transformador.

Colegas descrevem Henry como "reservado" e carente dos traços mais assertivos de alguns de seus pares no setor de mineração australiano. Nos bastidores, no entanto, ele é claro sobre quais são suas expectativas e defende seus argumentos com firmeza. A BHP e Henry se recusaram a comentar.

Sede da BHP em Melbourne, na Austrália - William West - 21.fev.2023/AFP

Um acionista de longa data disse que Henry é "tudo o que você imagina de um CEO de uma empresa eficiente e orientada por processos, mas foi mais ousado em relação à reposição do portfólio e fusões e aquisições do que a administração anterior". "Mike é um homem no molde da BHP", disse.

Depois de crescer em Abbotsford, uma pequena cidade a 70 quilômetros a leste de Vancouver, ele estudou química na Universidade da Colúmbia Britânica e começou sua carreira nos anos 1990 na Mitsubishi Corporation. Henry tem ascendência japonesa pelo lado materno e é fluente no idioma.

Se Henry não tivesse acabado no setor de mineração, ele poderia ter sido diplomata ou funcionário de uma organização internacional, disse ele ao Financial Times em 2021.

Ele ingressou na BHP em 2003, ocupando cargos como chefe de marketing antes de ingressar na equipe de liderança em 2011. A partir de 2016, ele comandou as operações australianas da empresa, incluindo seu principal negócio de minério de ferro.

Desde que assumiu como CEO, Henry manteve um perfil discreto. Pouco foi feito de sua aparição em um camarote corporativo na final masculina do Aberto da Austrália do ano passado ao lado dos principais funcionários do banco UBS que o estão aconselhando na oferta pela Anglo.

Um divórcio há dois anos expôs sua vida privada, quando ele vendeu US$ 12 milhões em ações da BHP para reorganizar seus ativos após o fim de seu casamento.

Para evitar qualquer percepção de conflitos de interesse, ele buscou aprovação do conselho no ano passado para iniciar um novo relacionamento com uma mulher que trabalha para a empresa canadense construindo uma linha ferroviária conectando a mina de potássio da BHP às principais vias de transporte.

Sob a liderança de MacKenzie, a BHP separou um grupo de ativos não essenciais em uma nova empresa chamada South32 e vendeu seu negócio de petróleo de xisto nos EUA, que dava prejuízo. Quando Henry assumiu, ele continuou focando no desempenho operacional, mas desde então foi muito além.

Com vinte meses no cargo, Henry unificou a estrutura complexa da empresa ao mudá-la para uma listagem primária na bolsa de Sydney e sair do FTSE 100 —a maior reestruturação desde a fusão com a Billiton em 2001.

Isso preparou o terreno para o approach da Anglo, já que a simplificação facilitou alguns dos obstáculos para fusões e aquisições em larga escala, disseram investidores.

"Essa mudança é fruto de muita preparação, planejamento, reflexão e ação", disse uma pessoa familiarizada com a oferta da BHP.

A abordagem ocorre em um momento vulnerável para a Anglo —a empresa sofreu sua maior queda no preço das ações em um dia em 15 anos em dezembro— mas também "parece ser a culminação de uma estratégia", disse outra pessoa a par do assunto.

Uma aquisição bem-sucedida se basearia na compra da Oz Minerals, aumentando o acesso da BHP ao cobre por meio dos projetos valorizados da Anglo no Peru e no Chile.

Henry focou a BHP em minerais "voltados para o futuro", incluindo minério de ferro, cobre e potássio, e admitiu que a mineradora tem uma falta de projetos de médio prazo "prontos para serem iniciados" para gerar retornos à medida que suas operações principais no Chile e na Austrália amadurecem.

Comprar a Anglo, apesar das complicações, forneceria à BHP vários projetos desse tipo, potencialmente por menos tempo e dinheiro do que seria necessário para encontrar e construir minas semelhantes por conta própria.

A BHP, como muitas mineradoras, também tem uma longa história de acordos destrutivos de valor, e os investidores terão que decidir se confiam em Henry para acertar desta vez.

Suas ações, que subiram 24% desde que ele se tornou CEO, estão apenas cerca de 5% abaixo de onde estavam antes da oferta se tornar pública.

Ben Davis, analista de mineração da Liberum, disse que poucos investidores estão "correndo para vender ações da BHP" após a proposta. "Os acionistas têm muita confiança em Mike Henry. Ninguém acha que ele é um viciado em fusões e aquisições."

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