BHP oferta US$ 39 bi pela Anglo American em reorganização no setor de mineração

Mineradora ofereceu prêmio de 31%; ações da rival subiram 16%

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Melbourne, Londres e Rio de Janeiro | Reuters

O grupo BHP fez uma oferta de US$ 38,8 bilhões pela Anglo American nesta quinta-feira (25), oferecendo um acordo para criar a maior mineradora de cobre do mundo e fazendo com que as ações de sua rival subissem 16% na Bolsa de Londres.

A BHP disse que oferecerá aos acionistas da Anglo 25,08 libras (US$ 31,39) por ação, um prêmio de 31%, e dividirá os ativos de minério de ferro e platina do grupo listado em Londres na África do Sul, onde a BHP, a maior mineradora listada do mundo, não tem atividades.

A Anglo, que possui minas em países como Chile, África do Sul, Brasil e Austrália, disse que seu conselho estava analisando a proposta não solicitada, não vinculante e altamente condicional da BHP.

De acordo com as regras de aquisição do Reino Unido, a BHP tem até 22 de maio para fazer uma oferta firme.

Mina de cobre da Anglo American no Chile - Ivan Alvarado/Reuters

Se houver acordo, a combinação criaria um grupo de mineração de cobre com cerca de 10% da produção global. A operação também poderia desencadear outras transações no setor, que tem visto uma onda de fusões e aquisições à medida que as empresas revisam seus portfólios para aumentar a exposição a metais considerados essenciais para a transição energética global.

"Tudo isso tem a ver com o cobre", disse Ben Cleary, gerente de portfólio da Tribeca Investment Partners.

"É um bom negócio para a BHP. Obviamente, a Anglo está claramente em jogo agora e provavelmente há espaço para que outras empresas se juntem a ela. Isso vai incendiar todo o setor", disse Cleary, cuja empresa detém ações de ambas as companhias.

A oferta vem depois que a Anglo, que tinha um valor de mercado de US$ 37,7 bilhões no fechamento de quarta-feira, iniciou uma revisão de seus ativos em fevereiro, em resposta a uma queda de 94% no lucro anual e a uma série de baixas contábeis devido a uma queda na demanda pela maioria de seus metais.

A BHP, mais conhecida pela mineração de minério de ferro, cobre, carvão de coque, potássio e níquel, foi avaliada em cerca de US$ 149 bilhões.

Um acordo com a Anglo seria a segunda grande aquisição da BHP em cerca de um ano, após a compra da mineradora de cobre Oz Minerals em 2023. Sua oferta se soma a um frenesi de atividades globais de fusões e aquisições, incluindo a compra da gigante do ouro Newmont pela Newcrest Mining por US$ 16,8 bilhões no final do ano passado.

Uma aquisição da Anglo pela BHP provavelmente estaria entre os 10 maiores negócios de mineração de todos os tempos, em termos de valor, e teria o potencial de retirar a Anglo do mercado de Londres, um novo golpe para uma bolsa que está lutando para reter grandes empresas e atrair IPOs.

Mas alguns disseram que a BHP precisaria oferecer mais para conseguir um acordo.

"Em nossa opinião, é quase impossível que o prêmio oferecido pela BHP seja suficiente para atrair a administração da Anglo para a transação", disse Mark Kelly, da empresa de consultoria MKP.

COBRE

A BHP obteria acesso a mais cobre, um dos metais mais procurados para a descarbonização, e potássio, que são suas principais commodities estratégicas, e mais carvão de coque na Austrália.

A Anglo tem minas de cobre no Chile e no Peru, onde a BHP também tem operações, e sua produção combinada chegaria a cerca de 2,6 milhões de toneladas por ano, o que a colocaria bem à frente da Freeport-McMoRan, sediada nos EUA, e da mineradora estatal chilena Codelco.

Os preços do cobre na Bolsa de Metais de Londres subiram 15% este ano devido às esperanças de demanda geradas por dados macroeconômicos encorajadores, apostas de cortes nas taxas de juros dos EUA, negociações especulativas e gargalos no fornecimento, impulsionados pela paralisação forçada em dezembro de uma das maiores minas de cobre a céu aberto do mundo.

Vale não vê impactos de eventual acordo para Minas-Rio

O presidente da Vale, Eduardo Bartolomeo, disse que a empresa está observando atentamente o anúncio, mas não vê impacto em acordo para projeto Minas-Rio, da Anglo, onde a Vale pode ter participação.

"A gente não vê nenhum impacto no negócio do Minas-Rio. Está sendo feito, claro, pela Anglo, e será respeitado por quem vier depois, se vier depois", afirmou, durante conferência com analistas de mercado sobre os resultados no primeiro trimestre.

Ele pontuou que o acordo da Vale sobre o Minas-Rio já foi encaminhado e "está protegido".

A Vale anunciou em fevereiro um acordo com a Anglo American para adquirir 15% de participação no complexo Minas-Rio e estabelecer uma parceria no ativo, em operação que contará com recursos de minério de ferro da companhia brasileira do depósito de Serra da Serpentina.

Na ocasião, a Vale informou que a conclusão do negócio ocorreria no quarto trimestre deste ano.

Questionado por um analista sobre eventual interesse em outros ativos da Anglo, Bartolomeo disse que a Vale "claramente" teria interesse, mas que tem "melhores opções dentro de casa para observar e até mais baratas".

"Os outros ativos estamos esperando pra ver o que vai acontecer, agora nesse ínterim estamos muito mais interessados em acelerar e executar as nossas reservas, os nossos projetos", afirmou o adicionou.

Melanie Burton , Scott Murdoch , Anousha Sakoui e Marta Nogueira
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