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Picchetti diz que não entendeu mudança de Campos Neto sobre ritmo do corte de juros

Em entrevista à Bloomberg, diretor do BC afirma que Copom deveria 'priorizar mecanismos oficiais de comunicação'

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Maria Eloisa Capurro
Bloomberg

O Banco Central (BC) continua empenhado em trazer a inflação para o centro da meta de inflação, disse o diretor de assuntos internacionais e de gestão de riscos corporativos, Paulo Picchetti, enquanto procura tranquilizar os investidores cujas expectativas de longo prazo permanecem meio ponto percentual acima dos 3% estabelecidos como objetivo.

O diretor do BC afirmou também não ter entendido a mudança na comunicação do presidente do banco, Roberto Campos Neto, sobre o ritmo de corte de juros.

Em entrevista à Bloomberg News por telefone na terça-feira (14), Picchetti afirmou que o conselho deveria "priorizar mecanismos oficiais de comunicação" que sejam "resultados de conversas entre os conselheiros" em vez de expor todas as discussões ou argumentos internos ao escrutínio público.

Segundo o diretor, as observações de Campos Neto não foram totalmente discutidas entre os membros do Copom.

O conselho havia indicado na reunião anterior que manteriam o ritmo de redução em maio. Mas Campos Neto, em palestra a investidores no mês passado em Washington, alertou para a possibilidade de desacelerar a magnitude dos cortes.

"Essa comunicação do presidente aconteceu em um evento e sinceramente não sei se ele tinha o objetivo e a intenção de fazer disso uma orientação, mas acabou sendo o caso", disse.

Paulo Picchetti, Diretor de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos do Banco Central do Brasil.
Paulo Picchetti, Diretor de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos do Banco Central do Brasil. - Lula Marques/Agência Brasil

A decisão dividida no Copom da semana passada para desacelerar o ritmo do atual ciclo de flexibilização monetária fez os juros futuros negociados na B3 tivessem forte alta.

A reação ocorreu em meio à tentativa dos investidores de avaliar as divergências entre os membros do comitê alinhados com o presidente da instituição, Roberto Campos Neto, e os diretores nomeados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

As divergências geraram preocupações sobre a abordagem do BC em relação à inflação, já que Lula poderá indicar mais dois diretores e substituir Campos Neto no final do ano. Picchetti é um dos quatro nomeados por Lula até agora.

Não há problema em haver divergências, vemos divergências em bancos centrais do mundo inteiro", disse Picchetti à Bloomberg News durante entrevista por telefone na terça-feira, limitando-se a perguntas sobre a divulgação da ata da decisão do banco de cortar a Selic em 0,25 p.p (ponto percentual), para 10,50%. "A gente continua comprometido 100% com a convergência da inflação para a meta."

Picchetti rejeitou a ideia de que a decisão dividida expôs diferenças políticas entre os membros do conselho.

"Houve um exagero enorme no sentido de atribuir visões muito simplistas às decisões de um lado e de outro", afirmou. "A ata foi a oportunidade que tivemos para deixar claro que se tratava de uma discussão técnica."

Analistas brasileiros elevaram suas previsões de taxas de juros para o final do ano, após a decisão dividida da semana passada. Entretanto, os investidores aumentaram nas últimas semanas as apostas de que a inflação permanecerá acima do objetivo do banco até 2027, sugerindo que estão cada vez mais céticos em relação às declarações do BC de que está comprometido em controlar o aumento de preços.

Mas Picchetti reforçou a mensagem geral da ata, dizendo que o comitê como um todo –incluindo os membros indicados por Lula– está focado em reduzir a inflação até a meta.

"A menos que existam evidências dizendo que isso não seria factível no horizonte que conseguimos ver, não há motivo para não se comprometer com o centro da meta", disse. "Claramente ainda temos uma taxa restritiva, mesmo com corte de 50 p.p ainda teríamos uma taxa restritiva."

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