CEO da Americanas por 20 anos e 'sujeito oculto': Conheça Miguel Gutierrez em 7 pontos

Executivo, que tem cidadania espanhola, foi preso em Madri na manhã desta sexta-feira (28)

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São Paulo

O ex-CEO da Americanas Miguel Gutierrez, preso na manhã desta sexta-feira (28) em Madri, no âmbito da operação "Disclosure", comandou a companhia durante 20 anos e era conhecido na varejista como "sujeito oculto" e de tratamento hostil.

Segundo delação premiada firmada junto ao MPF (Ministério Público Federal) sobre a fraude que resultou em um rombo de R$ 25,2 bilhões nos balanços da Americanas, o esquema para maquiar os resultados da companhia aconteceram pelo menos ao longo de 15 anos, desde 2007. Ou seja, a fraude teria começado ainda durante a gestão do executivo.

A defesa de Gutierrez informou que ele "reitera que jamais participou ou teve conhecimento de qualquer fraude e que vem colaborando com as autoridades, prestando os esclarecimentos devidos nos foros próprios".

Reprodução/Americanas Summit 2021
Miguel Gutierrez, ex- diretor presidente da Americanas; executivo foi preso nesta sexta-feira (28)

Confira em sete pontos quem é Miguel Gutierrez:

1- Carreira de 30 anos na Americanas

Antes de ser substituído na presidência da varejista por Sérgio Rial, que escancarou as contas da Americanas e expôs indícios de fraude na empresa, Gutierrez estava há quase de 30 anos na companhia, tendo ingressado no início dos anos de 1990.

Gutierrez foi substituído na função em um processo de transição da diretoria da companhia, aprovada pelo conselho de administração da varejista em agosto de 2022, em meio a um período crítico para o varejo brasileiro com efeitos macroeconômicos da alta da inflação e das taxas de juros. Seu mandato na presidência da companhia se encerrou em 1º de janeiro de 2023.

Carioca e engenheiro, formado pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Gutierrez era conhecido como "prata da casa" na Americanas, segundo relatos de fornecedores, consultores, especialistas em varejo e prestadores de serviços da varejista com os quais a Folha conversou no ano passado.

2- "Sujeito oculto"

Nenhuma dessas pessoas contatadas pela Folha na época tinha conversado com Gutierrez durante os 20 anos em que ele esteve à frente da Americanas; ele era quase que um "sujeito oculto" na empresa.

Com o mercado, seu contato era restrito às teleconferências de resultados que companhias de capital aberto realizam trimestralmente com analistas, investidores e imprensa após a divulgação do balanço da empresa.

É comum que o CEO das companhias apareçam nessas teleconferência e façam alguns apontamentos gerais. Gutierrez mantinha essa prática.

3- Tratamento hostil

Apesar de a varejista ter exaltado o legado de liderança e excelência de Gutierrez na época da troca de presidência em que ele foi substituído por Rial, ex-funcionários de alto nível se queixaram à Folha de que o ex-CEO tratava executivos e funcionários de maneira grosseira e hostil, beirando o assédio moral.

4- Planilhas por pendrive

Gutierrez aparecia pouco nas trocas de emails de outros diretores do grupo que estariam envolvidos com a fraude bilionária dos balanços da varejista.

Segundo o parecer da Procuradoria da República no Rio de Janeiro enviado à 10ª Vara Federal Criminal do Rio, a maior parte dos documentos que circulavam entre participantes do esquema não era enviada a ele por email ou mensagem de texto.

O MPF acredita que isso acontecia para que o ex-CEO da Americanas pudesse se resguardar. Ele pediria então para que as informações fossem gravadas em um pendrive e entregues pessoalmente.

5- Paraíso fiscal

A Polícia Federal afirmou na última quinta-feira (27), ao pedir a prisão preventiva do ex-CEO da Americanas, que o executivo se desfez de bens, entre eles imóveis e veículos, e enviou valores a fundos offshores sediados em paraísos fiscais.

Além do inquérito pelos crimes de uso de informação privilegiada, manipulação de mercado e associação criminosa, Gutierrez é alvo de investigação sobre lavagem de dinheiro.

Para a PF, um dos motivos do mandado de prisão é que o crime de lavagem de dinheiro ainda está ocorrendo com o objetivo de "ocultação patrimonial".

Segundo a instituição, emails e anotações encontradas em um iPad mostram que Gutierrez criou um "engenhoso esquema societário, com diversas remessas de valores a offshores sediadas em paraísos fiscais".

"As anotações do iPad também demonstram a preocupação de Miguel Gutierrez em blindar o seu patrimônio após deixar seu cargo de diretor presidente das Americanas, sabedor que o escândalo iria explodir", diz a PF.

6- "Tentativa de fuga"

Outro motivo para o mandado de prisão preventiva contra Gutierrez é a suposta tentativa de fuga para a Espanha. Além da cidadania brasileira, o executivo também tinha a espanhola.

Segundo a Polícia Federal, o executivo deixou o Brasil em 29 de junho de 2023, após instauração do inquérito pela PF para investigar a fraude na Americanas e depois da criação da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) sobre o tema no Congresso.

O juiz do caso afirma que, em princípio, não pretendia conceder o pedido de prisão feito pelos investigadores do MPF, "porém os fortes indícios de evasão de Miguel Gutierrez do país na tentativa de se furtar à aplicação da lei penal não deixam qualquer outra alternativa".

7- Líder da expansão da Americanas

Segundo o comunicado ao mercado em que a varejista anunciou a substituição de Gutierrez por Sergio Rial, em 19 de agosto de 2022, o executivo encabeçou a expansão das operações da Americanas, de cem para mais de 3.500 lojas físicas.

Segundo o comunicado, sob sua gestão, a companhia "foi pioneira no desenvolvimento do mundo digital no Brasil, servindo como exemplo para vários negócios no Brasil e no mundo, com inovação em uma série de negócios, traduzindo-se num crescimento de quase 40x do seu GMV [valor bruto de mercadoria, na tradução literal da sigla em inglês], além da consolidação de ativos únicos".

Dentre esses ativos, o comunicado destacou a criação de cinco plataformas de negócios (varejo físico, e-commerce, logística, fintech e publicidade); consolidação de uma base de mais de 50 milhões de clientes ativos; e a construção de uma "equipe com forte cultura de dono, eficiência de execução e inovação constante, assim como um processo diferenciado de formação e engajamento de talentos".

No comunicado, o conselho de administração da Americanas exaltou a estratégia de crescimento com rentabilidade da companhia encabeçada por Gutierrez e que depois seria continuada por Rial. "A Americanas S.A. agradece ao sr. Miguel Gutierrez pelos quase 30 anos dedicados à companhia, onde participou na construção de um inestimável legado de liderança e excelência, e deseja sucesso em sua nova jornada", disse a companhia no documento.

Colaboraram Fabio Serapião, Lucas Marchesini e Fernanda Brigatti

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