Descrição de chapéu Plano Real, 30 Banco Central

Dos réis ao real, confira a história das moedas no Brasil

Atual sistema monetário é o nono desde a chegada de portugueses no país

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São Paulo

Desde a colonização, o Brasil teve nove moedas oficiais que ajudam a contar a história do país. As trocas visavam combater a inflação e facilitar a vida dos brasileiros, com menos cédulas e menos espaço para falsificações, além de simbolizarem as mudanças políticas do país.

"O dinheiro também é uma forma de comunicação com a população do país. Você utiliza daquele objeto, que vai passar pela mão de toda a população, para passar uma mensagem", afirma Bruno Henrique Pellizzari, vice-presidente da Sociedade Numismática Brasileira.

Uma caixa de madeira várias moedas históricas e uma cédula de um cruzeiro ao lado com escritos "BANCO CENTRAL DO BRASIL"
Brasil já teve 9 moedas diferentes desde sua independência, em 1822 - Rubens Cavallari - 09.set.2020/Folhapress

Réis (1500 a 1942)

Segundo o Banco Central do Brasil, com a chegada dos portugueses, o escambo de mercadorias era o método de pagamento. Conforme as expedições avançavam, começaram a circular as primeiras moedas no Brasil, trazidas pelos portugueses, invasores e piratas.

Nesta época, a unidade monetária de Portugal, os réis, foram instituídos no Brasil.

Foi somente em 1694, que foi criada a primeira Casa da Moeda brasileira, na Bahia. Todas as moedas de ouro e de prata em circulação na Colônia deveriam ser enviadas à Casa da Moeda para serem transformadas em moedas provinciais. Com a transição do ciclo do açúcar para o ciclo do ouro, ela estabeleceu-se definitivamente no Rio de Janeiro em 1703.

Durante estes anos, as moedas que mais circularam foram as patacas, por 139 anos, de 1695 a 1834. Essa série era composta pelas moedas de prata nos valores de 20, 40, 80, 160, 320 e 640 réis. O valor de 320 réis —pataca— deu nome à série.

Como muitas patacas vinham de outros países, por conta de mercadores e marinheiros, Portugal regularizava as moedas que circulavam pelo país, carimbando-as. Quando a corte se mudou para o Brasil, em 1808, o carimbo também atribuiu um valor maior àquele de face, para financiar a vinda da família real.

"Eles hipervalorizaram as moedas para que elas ficassem na colônia e para que isso desincentivasse que elas fossem levadas de volta para Portugal" explicou Thomas Ribeiro, representante da Heritage Auctions, maior casa leiloeira de colecionáveis do mundo, com foco em numismática.

Os réis foram a mais longeva das moedas brasileiras, sendo utilizado até mesmo após o período de colonização, na independência do país.

Foi nessa época que uma das moedas mais valiosas do Brasil surgiu. Logo a após a independência do Brasil, em 7 de setembro de 1822 , foi criada uma moeda celebratória, estampada com Dom Pedro I. O imperador era retratado com uma coroa de louros em sua cabeça, o que o fazia parecer um ditador romano, algo que o desagradou. Dom Pedro, então, mandou que todos os exemplares fossem derretidos.

"Fizeram apenas 64 unidades dessa moeda de ouro. Derreteram quase todas, restaram apenas 16 conhecidas no mundo" explicou Edson Martins Cruz, coordenador de acervo do Itaú Cultural.

Um destes exemplares raríssimos foi comprado pelo Itaú Unibanco em um leilão e está disponível para visitação na exposição "Herculano Pires —Arte no Dinheiro", no Itaú Cultural, em São Paulo.

"Pela história que ela representa, pelo momento político que ela foi cunhada, ela é a mais valiosa da coleção numismática" completou.

Segundo os últimos leilões, a rara moeda vale US$ 500 mil (R$ 2,8 milhões).

A imagem mostra uma moeda dourada antiga do Brasil, com o perfil de um homem olhando para a esquerda, cercado por inscrições que indicam sua origem e valor. A moeda é datada de 1822 e possui marcas que sugerem sua circulação e uso ao longo do tempo.
Peça da Coroação. Moeda 6.400 réis, de 1822 - Humberto Pimentel/Acervo Banco Itaú - Divulgação Itaú Cultural

Cruzeiro (1942 a 1967)

Em 1942, com a desvalorização dos réis, havia 56 tipos diferentes de cédulas no Brasil.

Para uniformizar o dinheiro em circulação foi instituída a primeira mudança de padrão monetário no país durante o governo de Getúlio Vargas. O antigo réis deu lugar ao Cruzeiro. Um cruzeiro correspondia a mil réis. Na época, a inflação era de 20% ao mês no país.

As cédulas estampavam figuras como Santos Dumont, Tiradentes, o próprio Getúlio Vargas, entre outros.

A troca da moeda, porém, não freou a inflação e ela foi posteriormente trocada pelo Cruzeiro Novo, em 1970.

Imagem de uma nota de 5000 cruzeiros do Brasil. A nota é predominantemente nas cores rosa e verde. No centro, há o valor '5000' em destaque, com o texto 'CINCO MIL CRUZEIROS VALOR LEGAL' logo abaixo. No canto superior esquerdo e direito, há o número '5000'. No lado direito da nota, há um retrato de Tiradentes. No topo da nota, está escrito 'REPÚBLICA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL'. A nota também contém os números de série '081592' e '1814A', além das assinaturas do Presidente do Banco Central e do Ministro da Fazenda. No rodapé, está escrito 'THOMAS DE LA RUE & COMPANY, LIMITED'.
Cédula de 5 mil Cruzeiros (1942), com a imagem de Tiradentes - Banco Central/Divulgação

Cruzeiro Novo (1967 a 1970)

Segundo o Banco Central, o Cruzeiro Novo foi criado como um padrão de caráter temporário, para vigorar durante o tempo necessário ao preparo das novas cédulas e à adaptação da sociedade ao corte de três zeros da nova moeda. Para isso, o Cruzeiro Novo utilizou as cédulas do padrão anterior, carimbadas com os novos valores, como é possível visualizar na nota abaixo.

A implantação do Cruzeiro Novo, durante o governo do militar Artur da Costa e Silva, fazia parte de um plano econômico para combater a inflação e estabilizar a economia do país.

A imagem mostra três notas antigas do Brasil. A primeira nota, no topo, é de 10.000 cruzeiros com o número de série 027195 e a imagem de um homem de chapéu. A segunda nota, no meio, também é de 10.000 cruzeiros com o número de série 050552 e a imagem de um homem de chapéu. A terceira nota, na parte inferior, é de 5.000 cruzeiros com o número de série 064639 e a imagem de um homem barbudo. As notas estão identificadas com as etiquetas 'American Bank Note' e 'Thomas De La Rue'.
Cédula de 10 mil cruzeiros, estampada com Santos Dumont, no museu Casa dos Cantos, em Ouro Preto, Minas Gerais - Rubens Chaves - 21.jun.2011/Folhapress

Cruzeiro (1970 a 1986)

Visando frear a inflação que estava tomando rumos alarmantes, o governo militar de Emílio Garrastazu Médici concluiu a reforma monetária do cruzeiro novo. Em março de 1970, o padrão monetário voltou a chamar-se cruzeiro, mantendo a equivalência com o cruzeiro novo. Um cruzeiro novo correspondia a um cruzeiro.

A nova cédula permaneceu em circulação até 1986, quando a inflação voltou a estourar, atingindo índices de 16,2% ao mês.

Imagem de uma nota de 50 cruzeiros do Brasil emitida pelo Banco Central do Brasil. A nota apresenta o número '50' em destaque à esquerda e a imagem de um homem com barba e bigode no lado direito, identificado como Deodoro da Fonseca. O texto 'CINQUENTA CRUZEIROS' está impresso ao lado do retrato. Há números de série 'A04646 053689' no canto superior esquerdo e no canto inferior direito. A nota também contém assinaturas e os títulos 'PRESIDENTE CONSELHO MONETÁRIO' e 'PRESIDENTE BANCO CENTRAL'.
Cédula de 50 cruzeiros, no museu Casa dos Contos, no Centro de Estudos do Ciclo do Ouro, em Ouro Preto, MG - Rubens Chaves - 21.jun.2011/Folhapress

Cruzado (1986 a 1989)

Com o salto dos preços, o governo de José Sarney implementou, em 28 de fevereiro de 1986, um plano de combate à inflação que ficou conhecido como Plano Cruzado.

A reforma monetária mudou a moeda de cruzeiro para cruzado e cortou três zeros no valor nominal da moeda, decretou-se congelamento de preços e tarifas. Um cruzado equivalia a mil cruzeiros.

A maioria das cédulas do Cruzado foi aproveitada do Cruzeiro, recebendo carimbos ou tendo suas legendas adaptadas.

Nessa época, foram criadas tabelas que eram publicadas nos jornais e fixadas nos supermercados mostrando quanto cada item deveria custar.

Porém, o congelamento de preços com o consumo nas alturas gerava ágios e sumiço de bens nas prateleiras dos supermercados, entre eles, a carne.

O Plano Bresser surgiu em 1987, para promover um choque desinflacionário na economia, assim evitando os erros cometidos no Plano Cruzado. Ele foi lançado pelo ministro da Fazenda Luiz Carlos Bresser Pereira, que congelou preços, que seriam corrigidos a cada 90 dias, acompanhada de uma redução salarial.

Meses depois, o plano não obteve sucesso e a inflação voltou a subir.

Imagem de uma nota de 1000 Cruzados do Brasil. No lado esquerdo, há o texto 'BANCO CENTRAL DO BRASIL' e o número de série 'A 0001000056 A'. Abaixo, está escrito 'DEUS SEJA LOUVADO' e o valor '1000 MIL CRUZADOS'. No centro, há um texto manuscrito. No lado direito, há um retrato de um homem com óculos e barba. Abaixo do retrato, está escrito 'MACHADO DE ASSIS'. Há também assinaturas e o texto 'PRESIDENTE DO CONSELHO MONETÁRIO NACIONAL' e 'PRESIDENTE DO BANCO CENTRAL DO BRASIL'.
Cédula de Mil Cruzados com efígie do escritor brasileiro Machado de Assis. - Folhapress

Cruzado Novo (1989 a 1990)

O Plano Verão foi lançado em 1989 pelo ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega durante o governo Sarney, seguindo o mesmo intuito dos demais planos que fracassaram: regular a inflação.

Em janeiro daquele ano, foi instituído o Cruzado Novo, com unidade equivalente a mil cruzados. O três últimos valores emitidos em cruzados receberam carimbos em cruzados novos e, em seguida, foram emitidas cédulas específicas do padrão. O plano não mostrou resultados e decaiu em 1990, na eleição de Fernando Collor de Melo.

Foram novamente congelados preços e salários, o câmbio desvalorizado em 18%, criou-se o cruzado novo e uma política monetária rígida com altas taxas de juros foi adotada.

Boa parte das promessas do plano ficaram apenas no papel em um ano eleitoral, em que o país assistiu à primeira eleição direta presidencial desde 1964.

Imagem de uma nota de 5000 Cruzados do Brasil. À esquerda, há uma ilustração de pessoas em um cenário histórico. No centro, está escrito 'BANCO CENTRAL DO BRASIL' e o número de série 'A 0354015962 A'. À direita, há um retrato de um homem usando óculos, identificado como 'CANDIDO PORTINARI'. Acima do retrato, há assinaturas e o número '5000'. Na parte inferior, está escrito 'CINCO MIL CRUZADOS' e 'DEUS SEJA LOUVADO'.
Cédula de 5 mil Cruzados (1986) ou 5 Cruzados Novos (1989) - Banco Central/Divulgação

Cruzeiro (1990 a 1993)

O fracasso do Plano Verão fez com que a inflação fosse de 40% em outubro de 1989 para 80% em março de 1990.

Buscando conter a inflação e estabilizar a economia, foram lançados dois planos, pela ministra da Fazenda Zélia Maria Cardoso de Mello, sob os nomes de Plano Collor e Plano Collor II.

No Plano Collor, o cruzeiro foi reintroduzido como a moeda oficial do Brasil em março de 1990, substituindo o cruzado novo, com unidade equivalente a um cruzado novo. Novamente circularam cédulas carimbadas, com legendas adaptadas e cédulas do padrão. Nas medidas, constavam o confisco da poupança, privatizações e abertura comercial.

O Plano Collor II foi apresentado no início de 1991, como uma continuação e ajuste do Plano Collor, com ajuste fiscal via redução de subsídios e aumento de impostos e novos controles de preços, mas só para as pessoas físicas e não para as indústrias.

Apesar das medidas, mais um plano havia falhado na luta contra a inflação.

Imagem de uma nota de 5000 cruzeiros do Brasil. A nota apresenta a inscrição 'BANCO CENTRAL DO BRASIL' no topo e o valor '5000' nos cantos superior direito e inferior esquerdo. No centro, há um desenho intrincado e, à direita, um retrato de perfil de uma figura feminina com cabelo ondulado. Abaixo do retrato, está escrito 'CINCO MIL CRUZEIROS'. Há também números de série 'A 000100842 B' no canto superior esquerdo e inferior direito. Assinaturas e o texto 'MINISTRO DA FAZENDA' e 'PRESIDENTE DO BANCO CENTRAL DO BRASIL' estão presentes na parte inferior esquerda.
Cédula de 5 mil Cruzeiros (1990) - Banco Central/Divulgação

Cruzeiro Real (1993 a 1994)

Em julho de 1993, após a saída de Collor do governo, seu vice Itamar Franco contava com a inflação em 15% ao mês. Assim, uma nova reforma monetária foi promovida no país, instituindo-se o Cruzeiro Real. A unidade equivalia a mil cruzeiros. Foram aproveitadas cédulas do padrão anterior e emitidas cédulas novas.

Uma curiosidade da época é a cédula de 50 mil cruzeiros reais, mais conhecida como "Baiana", a última a ser lançada antes do real. Sua circulação foi por pouco tempo, segundo Bruno Henrique Pellizari, três meses somente.

"Essa era uma cédula com alto valor facial. Na época, ela correspondia a metade ou um terço de um salário mínimo. Foi uma peça que as pessoas não guardaram muito porque elas precisavam daquele dinheiro. As poucas que restaram foram trocadas nos bancos pelo real. Na conversão para o real daquela época ela valia R$ 13,13", explicou.

Imagem de uma nota de 50.000 cruzeiros reais do Brasil. A nota apresenta a inscrição 'BANCO CENTRAL DO BRASIL' no topo, seguida pelo número de série 'A 0008089825 A'. À esquerda, há uma figura de um guerreiro com armadura e escudo. No centro, está o valor '50.000' e a frase 'DEUS SEJA LOUVADO'. À direita, há a imagem de uma mulher sorridente com um lenço na cabeça e brincos grandes, identificada como 'BAIANA'. Abaixo, está escrito 'CINQUENTA MIL CRUZEIROS REAIS'. No canto inferior direito, há assinaturas e a inscrição 'MINISTRO DA FAZENDA' e 'PRESIDENTE DO BANCO CENTRAL DO BRASIL'.
Cédula de 50 mil Cruzeiros Reais (1993) - Banco Central/Divulgação

Real (desde 1994)

O Real, como conhecemos hoje, foi instituído em 1º de julho de 1994, implantado pelo governo de Itamar Franco.

Buscando um substituto para Eliseu Resende, que se demitiu do cargo de ministro da Fazenda, Itamar Franco convidou o então ministro das Relações Exteriores, Fernando Henrique Cardoso (PSDB), para comandar a pasta. Como não é economista, FHC convocou um time de especialistas para trabalharem em sua equipe, como Persio Arida, Pedro Malan e Gustavo Franco. Foi assim que surgiu o Plano Real.

Antes do real valer como nova moeda, os brasileiros conviveram com a URV (Unidade Real de Valor), um indexador que foi usado como transição. Ele entrou em vigor no dia 1º de março de 1994 valendo CR$ 647,50 e US$ 1.

O Banco Central divulgava diariamente a variação do dia seguinte a partir de um a média de três índices, em uma tabela. O intuito era refletir a variação de preços até que o real se tornasse a moeda oficial.

Em 30 de junho, seu último dia de existência, a URV já estava em CR$ 2.750, mas continuava a valer US$ 1.

Assim, quando o real entrou de fato na economia brasileira, uma unidade de real equivalia a CR$ 2.750,00 (cruzeiro real).

A moeda finalmente teve sucesso em acabar com a alta inflação por ser acompanhada de reformas econômicas que aumentavam a arrecadação, reduziam o gasto público e mantinham o câmbio fixo.

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